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Da democracia ao golpe, um balanço de nossas vidas

octubre 9, 2016 12:36 , por Jornal Correio do Brasil - | No one following this article yet.
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A catatonia em que nos encontramos, todos, após o golpe, permite que o fascismo avance e seres hediondos, verdadeiros monstros, sem piedade, exterminem direitos civis, trabalhistas, sociais

 

Por Gilberto de Souza – do Rio de Janeiro

 

O golpe de Estado, no Brasil, não leva embora apenas a democracia. Carrega para sempre o tempo de cada brasileiro. Do mais novo aos idosos, cada dia vivido sob a exceção de um regime de ultradireita, que a cada semana vende um pedaço maior do país, significa passar um intervalo da nossas existências encarcerados. Imobilizados. Incapazes de decidir sobre nosso próprio futuro.

O tempo perdido, e irrecuperável, em que o Brasil vive nesse golpe de Estado entra para a conta dos inconsequentes

O tempo perdido, e irrecuperável, em que o Brasil vive nesse golpe de Estado entra para a conta dos inconsequentes

A catatonia em que nos encontramos, todos, após o golpe, permite que o fascismo avance. Seres hediondos, verdadeiros monstros, sem piedade, exterminam direitos civis, trabalhistas, sociais. Além de roubar nosso tempo, mancham o passado de lutas e a memória de heróis como Marighella, Che Guevara, Mandela. Homens que dedicaram suas vidas por um mundo mais justo e igualitário.

Tenho 56 anos. Destes, 20 se passaram sob a ditadura civil-militar. Meu netinho nem completou seu primeiro ano de vida e já ouve gritos de revolta, nas ruas. É embalado ao som das bombas de efeito moral e gemidos causados pelas balas de borracha.

Tempus fugit

Somos reféns da inconsequência e da tentativa estúpida que, ao longo de mais de uma década, desperdiçou o combustível que move da resistência contra a tirania, na tentativa estéril de misturar os interesses do capital ao do trabalho. A política de enriquecer a direita ao mesmo tempo em que aumentava em alguns gramas a ração dos miseráveis, para que deixassem de ser miseráveis e passassem à condição de pobres, exauriu as últimas gotas das conquistas de toda uma geração. Entregou de mão beijada, aos nossos piores algozes, a esperança por dias melhores.

Esse modelo de nação, em que a prepotência e a selvageria tomam de assalto o poder, não pode nos representar. Não àqueles que ainda pretendem deixar para os descendentes um país mais gentil com seus filhos. Ainda que todas as tevês, em cada um dos lares brasileiros, apresentem notícias em contrário, dessas que tentam tapar o sol com a peneira, vivemos “tempos estranhos”. Tem razão o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurelio Mello. São tempos muito estranhos mesmo.

Perderemos outras tantas décadas até recuperarmos um décimo do terreno deixado para trás na fatídica noite de 13 de Maio deste ano terrível de 2016. Aqueles da minha geração ou da idade da minha filha já não têm mais tanto tempo assim. Exerceremos, com sorte, o dever de restaurar a democracia perdida já a partir das próximas eleições que, na hipótese mais provável, acontecerá em 2022. A janela de 2018 fecha-se, rapidamente, com a possível eleição indireta, na mais que possível cassação da chapa Dilma-Temer. Tempus fugit.

Até lá, nesse período difícil que temos pela frente, corremos o risco de não reconhecer mais o país em que nascemos.

Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do Brasil.

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Origen: http://www.correiodobrasil.com.br/da-democracia-ao-golpe-um-balanco-de-nossas-vidas/

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