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De ‘ghost writers’ e de presidentes

Aprile 5, 2017 8:28 , by Jornal Correio do Brasil - | No one following this article yet.
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Por Mauro Santayana – de Brasília:

Na maioria das vezes o fiz na condição de ghost-writer, mas como os “fantasmas”, mesmo que eventualmente se divirtam, devem ser preferencialmente discretos, não esperava agora nesta minha vestustíssima idade, ser citado seis vezes, quase sempre devido a essa condição, nas memórias de outro ex-presidente, com o qual tive a honra de não trabalhar quando ocupava o comando do executivo, em um governo no qual, segundo estatísticas do Banco Mundial, o Brasil andou para trás, do ponto de vista de PIB nominal, salário mínimo e renda per capita em dólares, e muitíssimo mais no âmbito da erosão da soberania, da desnacionalização da economia e da subalternidade geopolítica.

De ‘ghost writers’ e de presidentes

Procurado por uma revista semanal para comentar o acontecido. Confesso que meu primeiro impulso foi retornar a ligação e dizer que. Há tempos, atendendo à recomendação do próprio, esqueço ou ignoro qualquer coisa que esse senhor já escreveu. Escreva ou venha a escrever no futuro.

Também me passou pela cabeça usar uma frase muito em voga nos anos sessenta – dos quais ainda não saímos historicamente – e responder, de chofre.  Não li e não gostei… os senhores vão me desculpar. Mas tenho mais o que fazer do que ficar dando importância ao tal de fulano.

Frase

Mas refreei, no entanto, a grosseria, já que a frase, independente da intenção e do contexto, poderia parecer rasteira e leviana. Decidi declinar de ouvir o que queria ler-me o repórter ao telefone. Dando a entender que preferia esperar que a “obra”, devidamente impressa, chegasse às livrarias.

Não pretendo responder ao que foi escrito, nem declinar, em contexto pessoal. O nome do autor, neste texto, embora às vezes seja obrigado a usá-lo em um ou outro trabalho jornalístico.

Da mesma forma que também não falo dele – sequer em pé de página. Em minhas lembranças, que descansam. Sem nenhuma ansiedade, na gaveta, esperando a hora de vir a público.

Lápides

Não o farei agora, nem muito menos – se ele vier a partir primeiro – depois que o personagem em questão entrar naquela idade póstera e escura, da qual não escapam nem os príncipes nem os faróis, que, em sua arrogância, estão condenados a se misturar aos mendigos e às paredes esfareladas das choupanas, no barro anônimo e humilde que será cultivado, pisado, cuspido e marcado, etologicamente, com urina, por aqueles que vierem, no futuro, quando as lápides – por mais caras sejam, ou mais brilhantes ou mais duras – já tiverem se transformado em pó e em esquecimento.

Não tenho por hábito praticar o esporte feio, fácil e indigno de atacar os mortos – impossibilitados que estão de defender-se pela rigidez de suas mandíbulas – mesmo com a desculpa de dar a entender que os insultos foram escritos entre paredes – como as cantadas no velho fado de Amália Rodrigues – quando os alvos ainda estavam vivos, respirando.

Mauro Santayana é jornalista. Foi secretário-executivo da Comissão de Estudos Constitucionais e Adido Cultural do Brasil em Roma. 

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Source: http://www.correiodobrasil.com.br/de-ghost-writers-e-de-presidentes/

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