Por Redação – de Brasília
A tese de defesa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), caiu por terra, nesta terça-feira, após a negativa de que os mais de 1,3 francos suíços (cerca de R$ 6,5 milhões) teriam origem no pagamento de uma dívida contraída por Fernando Diniz — deputado mineiro, morto em 2009 — em uma das contas secretas do parlamentar fluminense, no banco Julius Baer, em Genebra. O lobista João Augusto Henriques, preso na Operação Lava Jato, disse que depositou o dinheiro sem saber quem era o dono da conta que, apenas um tempo depois, soube ser Eduardo Cunha. Henriques depositou a quantia depois de participar de um negócio clandestino na área internacional da Petrobras, cujo ex-diretor, Jorge Zelada, havia sido indicado pelo PMDB de Minas.
Inquirido sobre a origem dos recursos, Cunha não pestanejou ao afirmar que Felipe Diniz, filho do ex-deputado Fernando Diniz, havia pago uma dívida do pai, contraída no exterior. Chegou a detalhar uma suposta operação com o fundo de investimentos do qual integra, para explicar a dívida. Diniz, porém, em depoimento à Procuradoria-Geral da República, nesta manhã, vazado para um diário conservador paulistano, negou qualquer conhecimento quanto à existência de dívidas de seu pai ou de contas no exterior atribuídas ao presidente da Câmara, muito menos ter ordenado o pagamento ao parlamentar.
— Não fui procurado por Eduardo Cunha ou por qualquer intermediário dele para tratar do tema ou estabelecer uma versão defensiva comum — acrescentou o filho do ex-deputado.
Surpreendidos pelas declarações de Diniz, os escritórios de advogados do presidente da Câmara afirmaram que as declarações de Felipe Diniz, por mais claras e objetivas que tenham sido aos procuradores, “não desmentem a versão de que os pagamentos são a quitação do empréstimo”. Segundo os advogados, o ex-deputado, antes de morrer, pode ter autorizado o lobista a cumprir aquela determinada orientação. Cunha afirmou, semana passada, que Fernando Diniz sabia em que conta deveria fazer a quitação do empréstimo, no exterior. Cunha acrescentou que os 1,3 milhão de francos suíços foram depositados sem que ele tomasse conhecimento, por isso, deixou o dinheiro parado lá, todos esses anos, aguardando que alguém o reclamasse.
Carne enlatada
Parte da fortuna de Cunha, segundo relata agora em público, mas sem apresentar essa versão à Receita Federal, foi conquistada com a venda de commodities para clientes, no exterior. Nesta manhã, ele mostrou a cópia de seus passaportes para líderes da base governista e da oposição em que aparecem carimbos de 37 viagens à África. Os carimbos, em si, não provam coisa alguma, mas ele alega que os passaportes, com autorização de entradas no Congo e no Zaire, foram exibidos para provar que ele teria enriquecido fazendo negócios com os dois países africanos.
As viagens concentram-se durante um período de dois anos da década de 1980, quando o peemedebista diz ter comercializado, além de carne enlatada, feijão e arroz, segundo afirmou à imprensa. Apesar das evidências cada vez mais sólidas, o deputado voltou a negar que possui contas no exterior e disse que não tem nenhum tipo de influência sobre os fundos de investimentos nos quais participa como acionário e lucra o suficiente para gastar R$ 50 mil em aulas de tênis, nos EUA.
Conselho de ética
Relator no Conselho de Ética do processo que pode levar à cassação do presidente da Câmara, por quebra de decoro parlamentar, o deputado Fausto Pinato (PRB-SP) disse, na noite passada, ser possível antecipar a apresentação do relatório preliminar pela admissibilidade ou não do processo. O prazo oficial termina no dia 19 de novembro.
— Talvez, se eu conseguir terminar, entregue o parecer no começo da semana que vem. Ou quem sabe, até o fim desta semana — afirmou Pinato a jornalistas.
O relator reuniu-se, nesta tarde, com o presidente do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo (PSD-BA), para conversar sobre os prazos. Se o deputado do PRB concluir o documento antes, a ideia é antecipar a sessão do colegiado para apresentação oficial do relatório, marcada por Araújo para o próximo dia 24.
Sem adiantar o que pensa sobre o assunto, Pinato evitou antecipar sua avaliação.
— A sociedade cobra uma resposta, mas não podemos vacilar com nenhuma questão jurídica — disse.
Enquanto isso, aliados de Cunha preparam uma série de medidas protelatórias para atrasar o processo de cassação do parlamentar fluminense. Seu grupo prepara uma série de artifícios para garantir os votos necessários em favor da absolvição do peemedebista. Um deputado próximo a Cunha chegou a afirmar que o trâmite do processo pode se arrastar por até dois anos, bastando que os aliados do presidente da Câmara assim o queiram.
Na entrevista concedida nesta terça-feira, Cunha afirmou que “cada um pode ter sua opinião sobre sua permanência no cargo” e disse não estar preocupado com as pressões.
— Não estou preocupado com clima de chuva ou sol. Vou continuar presidindo a Casa.
Segundo o jornalista Lauro Jardim — o mesmo que errou ao afirmar que o filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estaria envolvido no escândalo da Lava Jato — disse no jornal que edita, o diário conservador carioca O Globo, que “e a votação no Conselho de Ética fosse hoje, Eduardo Cunha perderia por um voto”. Uma sondagem feita pelo próprio grupo de Cunha mostra que 11 estão contra ele e dez ao seu favor.
No grupo favorável estariam Arnaldo Faria de Sá (PTB), Cacá Leão (PP), Erivelto Santana (PSC), Mauro Lopes (PMDB), Paulo Azi (DEM), Ricardo Barros (PP), Vinícius Gurgel (PR), Wellington Roberto (PR), Paulinho da Força (SD) e Washington Reis (PMDB). E no grupo contrário: Betinho Gomes (PSDB), Fausto Pinato (PRB), José Carlos Araújo (PSD), Júlio Delgado, Léo de Brito (PT), Marcos Rogério (PT), Nelson Marchezan (PSDB), Sandro Alex (PPS), Sérgio Brito (PSD), Valmir Prascidelli (PT) e Zé Geraldo (PT).