O jornal francês Le Monde refere-se a Dilma como “ex-guerrilheira” e às acusações contra ela de “manipulações contábeis usadas oficialmente para causar a sua queda”
Por Redação – de São Paulo
Presidenta deposta após a nova edição de um golpe de Estado, no Brasil, Dilma Rousseff denuncia que “uma guerra política, suja e hipócrita” está em curso, no país. Dilma falou, com exclusividade, à jornalista Claire Gatineau, enviada especial do jornal francês Le Monde ao Palácio da Alvorada, em matéria publicada nesta terça-feira.
O diário francês refere-se a Dilma como “ex-guerrilheira” e às acusações contra ela de “manipulações contábeis usadas oficialmente para causar a sua queda”.
— Este processo de impeachment é uma fraude. Uma ruptura democrática, que cria um clima de insegurança nas instituições políticas que afetam toda a América Latina — denuncia.
Para a presidenta deposta, “não há outra motivação” por trás de seu afastamento:
— Interromper a Operação Lava Jato para parar todas as investigações relacionadas com a corrupção, a lavagem de dinheiro, a existência de caixa dois (para o financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais). Eu entendo que os eleitores estavam desapontados com todos os partidos políticos — reconhece a presidenta cassada.
Para ela, sem leis adaptadas desde a ascensão do PT ao poder, em 2003, que permitiu a independência dos órgãos de investigação, “a polícia nunca conseguiu passar por cima do sistema (de corrupção) na Petrobras”.
— Nada disso, porém, justifica que os golpistas destituam um governo para impedir a hemorragia política ligada às investigações. O outro interesse é de implantar uma agenda neoliberal, que não fazia parte do nosso programa. Esse processo de impeachment é uma fraude, uma ruptura democrática que cria um clima de insegurança no seio das instituições políticas e afeta toda a América Latina — acrescentou.
Segundo Dilma, ”os protagonistas do impeachment são a oligarquia brasileira”, entre eles:
— O grupo dos mais ricos, os meios de comunicação, propriedade de 100 famílias, e dois partidos, o PSDB e o PMDB e, em particular, Eduardo Cunha.
Na entrevista, a presidente afastada, que manteve os direitos políticos com o fatiamento da votação do impeachment no Senado, não descarta candidatura nas eleições de 2018.
— Estou pensando — desconversa.
Lula, Dilma
e o golpe
Para o jornalista e escritor Fernando Morais, que escreve a biografia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e acompanhou todos os passos dos acontecimentos, em curso no país, o ciclo do golpe se completa não com a queda de Dilma, mas com a inviabilização da candidatura do ex-presidente Lula.
— Só um idiota completo pode imaginar que Globo, FIESP, extrema direita, Folha, Estado, Editora Abril, Ministério Publico, Polícia Federal vão fazer o que fizeram para entregar a presidência da República de bandeja pro Lula de novo — afirmou, em entrevista nesta terça-feira a Marcelo Godoy, do programa do Diário do Centro do Mundo (DCM) na TVT.
— Não faz sentido. Eu já disse: vou dedicar o que resta de energia na minha vida a denunciar esse golpe e carimbar e estigmatizar todo mundo que foi sócio, parceiro, cúmplice. Eles vão ter que carregar essa tatuagem pro resto da existência. Os bisnetos vão dizer que o bisavô deu um golpe de estado no Brasil — promete.
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