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Dirigente do Hamas elogia conduta de Lula sobre questão palestina

October 25, 2023 19:48 , by Correio do Brasil - | No one following this article yet.
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O posicionamento do líder brasileiro tem sido bem recebido entre os palestinos. Em entrevista ao editor Breno Altman, do site Opera Mundi, um dos principais líderes do Hamas, representando o grupo no Líbano, onde está sediado seu principal aliado internacional, o Hezbollah, elogiou a posição do Brasil diante do conflito que já dura mais de cinco décadas.

Por Redação – de Brasília e São Paulo

Nos diversos pronunciamentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a questão palestina e a recém-declarada guerra de Israel ao grupo fundamentalista islâmico Hamas, que governa a Faixa de Gaza, a pressão sistemática do governo israelense de Benjamin Netanyahu com os assentamentos judeus em territórios árabes ocupados é uma constante. Nesta quarta-feira, Lula voltou a condenar, desta vez durante evento que marca a 1ª Reunião Plenária do Conselho da Federação, o conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas na Faixa de Gaza.

Osama HamdanRepresentante do Hamas, Osama Hamdan explica os objetivos do grupo radical islâmico

Ao mencionar a conversa telefônica que teria com o emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani, Lula classificou o conflito como um “genocídio”.

— Tenho que sair daqui cinco minutos porque tenho um telefonema com o Emir do Catar para tentar ver se encontro alguém capaz de conversar com alguém para ver se a gente consegue liberar primeiro os brasileiros que estão retidos na Faixa de Gaza, a poucos quilômetros da fronteira com o Egito, que estão querendo voltar para o Brasil e que até agora não foi permitido a eles o direito de voltar — disse Lula.

 

Opera Mundi

O presidente deixou claro também que “é muito grave o que está acontecendo nesse momento no Oriente Médio”.

— Não se trata de ficar discutindo quem está certo e quem está errado, quem deu o primeiro tiro e quem deu o segundo. O problema é o seguinte: não é uma guerra, é um genocídio que já matou quase duas mil crianças que não têm nada a ver com essa guerra, que são vítimas dessa guerra. Sinceramente, não sei como um ser humano é capaz de guerrear sabendo que o resultado dessa guerra é a morte de criança inocente — afirmou.

O posicionamento do líder brasileiro tem sido bem recebido entre os palestinos. Em entrevista ao editor Breno Altman, do site Opera Mundi, um dos principais líderes do Hamas, representando o grupo no Líbano, onde está sediado seu principal aliado internacional, o Hezbollah, elogiou a posição do Brasil diante do conflito que já dura mais de cinco décadas.

A entrevista, segundo Altman, foi realizada on-line, por video. Gravada no dia 21 de outubro de 2023, durou cerca de 40 minutos. O entrevistado, Osama Hamdan, foi embaixador do Hamas, no Irã. Nascido em um campo de refugiados na Faixa de Gaza, em 1965, ele fez seus estudos pré-universitários no Kuwait e completou o ensino superior na Universidade Yarmouk, na Jordânia, onde se graduou em química e se filiou ao Movimento Estudantil Islâmico.

— O presidente Lula é um homem respeitado não só pela sua nação, mas também entre os palestinos. Então eu gostaria que ele enviasse alguém para questionar o Hamas por que isso aconteceu e exatamente o que aconteceu. Porque creio que isso lhe daria uma ideia melhor sobre o ocorrido e faria a sua atitude geral ser mais positiva com respeito aos palestinos, como sempre foi — afirmou Hamdan.

 

Leia, adiante, os principais trechos da entrevista

 

— Sr. Hamdan, poderia nos explicar quais eram os alvos do Hamas nos ataques do dia 7 de outubro ao território israelense

— Está claro que este novo governo israelense, liderado por Netanyahu, declarou claramente sua posição: minarão quaisquer chances de se construir um Estado palestino, e darão fim a todas as questões adiadas depois do acordo de Oslo. Pretendem tomar os lugares mais importantes e sagrados, como a mesquita de Al-Aqsa, e trabalharão nos anos vindouros para tornar Jerusalém uma cidade judaica. Iniciaram um programa para construir mais assentamentos novos na Cisjordânia, e com isto tomarão mais de 60% das terras palestinas na Cisjordânia. Isso não dará chance para um Estado palestino. Por isso nos erguemos, resistindo à ocupação, e faremos isso continuamente até que os objetivos de nossa nação tenham sido alcançados.

 

— O Estado de Israel e outros países denunciaram os ataques organizados pelo Hamas como sendo ações terroristas. O sr. pensa ser legítimo, mesmo em uma guerra de libertação, atacar alvos civis, incluindo mulheres e crianças?

— Isto é propaganda israelense, e estamos acostumados, então não compre esta história. Eles declararam que mais de 1,5 mil pessoas foram mortas, e começaram a anunciar os nomes. Os ataques foram cometidos contra soldados do exército, a brigada de Gaza. Eles listaram cerca de 600 nomes. Destes, 310 de soldados israelenses e oficiais, 76 de policiais, 32 de guardas dos assentamentos. Portanto, mais de 400 dos alvos eram militares.

Depois, pararam de declarar os nomes. Alguém pode dizer o porquê? Porque se continuassem a dizer os nomes todo mundo da comunidade internacional descobriria que mais de 80% dos mortos eram militares em serviço. Então você pode checar os demais, se estavam na reserva. Nós só nos concentramos em soldados e nos colonizadores. Se alguém quiser falar de civis, vamos falar dos que foram mortos de 1948 até hoje.

Quem cometeu o massacre de Deir Yassin? Quem cometeu o massacre de Tantura? Quem cometeu o massacre de Kafr Qasim? Quem destruiu, em 1948, 500 vilas e cidades na Palestina? Quem cometeu o massacre de Sabra e Chatila, em 1982? Sempre Israel. A resistência à ocupação é clara e garantida pela lei internacional. Se alguém quiser parar com esta carnificina contra os palestinos, que se ponha fim à ocupação.

 

— Sr. Hamdan, o Hamas não teve como alvo a festa que ocorria próxima a Gaza? 

— Também é parte da propaganda israelense. Quero te dizer que algumas pessoas, homens e mulheres que participavam, celebravam na festa, em seus testemunhos à mídia diziam “estávamos na festa, vimos os militares, passaram, não nos atacaram. Então, houve tiros contra eles vindos do lado israelense, alguns deles foram mortos e alguns de nossos amigos foram mortos”. Se alguém quisesse ter por alvo a festa, isso significaria que ao menos milhares de pessoas teriam sido mortas.

Eles estão falando da festa, mas sem mencionar quem matou quem. O alvo era o exército de Israel, é por isto que o exército israelense está matando os civis palestinos, querem vingança por terem sido mortos e humilhados pela resistência. Os israelenses viram seus soldados sendo mortos ou fugindo do campo de batalha por causa da resistência. Querem encobrir este fato espalhando esta propaganda, que civis foram mortos, que nós matamos os civis.

 

— De acordo com múltiplas fontes, o Hamas capturou cerca de 200 reféns e os levou para a faixa de Gaza. Estes reféns estão vivos? Por que foram sequestrados? Que negociação poderia ser proposta pelo Hamas?

— Antes de mais nada, você deve diferenciar os reféns dos prisioneiros de guerra. O Hamas tomou soldados do campo de batalha, eles são prisioneiros de guerra. Alguns foram tirados de suas estações, alguns foram tirados de seus tanques, alguns deles foram capturados enquanto lutavam, e estes são prisioneiros de guerra que queremos trocar por civis palestinos que estão em cadeias israelenses.

Queremos fazer uma troca porque Israel não respeita a lei, eles continuam prendendo nosso povo, torturando, colocando palestinos na cadeia por décadas. Mais de 500 palestinos superaram 27 anos presos, o tempo que ficou preso Nelson Mandela. Algumas pessoas foram levadas por palestinos civis, não pelo Hamas. Nós declaramos uma posição clara, não sabemos ao certo o número, não sabemos ao certo a nacionalidade, mas faremos nosso melhor para que possam ir com segurança para casa.

 

— O Hamas chegou a calcular que a resposta militar de Israel seria tão radical?

— De fato, nós palestinos estamos acostumados com isso. Como eu tinha mencionado, Israel matou, em 2017, mais de 2,7 mil palestinos, a maioria deles, talvez 90% deles, eram mulheres e crianças. Israel, em 2021, matou mais de mil palestinos. No ano passado eles mataram mais de 500 palestinos. Eles estão acostumados a fazer isso. E nós temos de resistir. O problema é que a comunidade internacional, alguns países dela, principalmente os Estados Unidos, quando um palestino é morto, não dizem nada, mas quando um israelense é morto, criam um grande problema.

Havia uma jornalista que todos conheciam: Shireen Abu Akleh, ela era palestina e tinha cidadania norte-americana também. O governo de Israel, em um primeiro momento, disse que ela foi morta por palestinos. Agora é sabido por todos foi morta a tiros por soldados israelenses. Onde estava o presidente dos Estados Unidos quando ela foi morta? Não se ouviu nada vindo do presidente ou de sua administração. Isso mostra ao povo da palestina que quando Israel está matando palestinos, ninguém diz nada.

Mas se os palestinos tentam resistir e impedir Israel de matá-los, todos começam uma gritaria e culpam os palestinos, como se quisessem que nós fôssemos mortos e caçados pelos israelenses, supondo que somos pessoas nascidas para serem mortas e os israelenses, para nos matar.

 

— O governo de Netanyahu fala abertamente em destruir o Hamas e sua infraestrutura na Faixa de Gaza. O senhor acredita que o Hamas será capaz de resistir a uma ofensiva tão severa?

— Eles atacaram Gaza inúmeras vezes e a cada vez eles dizem “nós queremos destruir o Hamas e a sua infraestrutura”. Bem, eu tenho que te dizer com honestidade: eles sempre causam muito dano, mas isto não afeta a presença do Hamas. Os palestinos, de fato, vão ficando mais resistentes contra a ocupação, acreditando que não há outro caminho exceto o da resistência. As pessoas que estão resistindo à ocupação nos dias de hoje nasceram após os acordos de Oslo serem assinados e viram a verdadeira face dos israelenses, suas mentiras, a sabotagem das aspirações palestinas, o cerco aos palestinos.

Os palestinos viram tudo isso e tiveram que fazer uma escolha: viver sob a ocupação israelense como escravos ou resistir à ocupação para que possam viver como uma nação livre. Tomaram uma decisão. Todas as gerações chegaram à mesma conclusão: a ocupação precisa acabar. Creio que temos uma boa chance de vencer a luta contra a ocupação desta vez, pois Israel não é como era antes. O apoio dos Estados Unidos não será continuado, o mundo está mudando, outras nações também não aceitarão que isso continue.

 

— Quais são as suas expectativas com relação à posição da Autoridade Palestina e dos partidos que compõem a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), em especial o Fatah? O senhor acredita em uma terceira intifada apoiada pelo Fatah?

— Algumas das organizações que vinham compondo a OLP estão também agora resistindo conosco em Gaza, como a Frente Popular pela Libertação da Palestina. Todos sabem que eles estão participando da resistência, junto à Jihad Islâmica e o Hamas. Ninguém sobreviverá na arena política palestina a não ser que assuma tal posição. Então eu acredito que estejamos próximos de uma terceira intifada.

Eu acredito que estejamos próximos de ter uma unidade palestina contra a ocupação porque todos entendem agora, até mesmo Mahmoud Abbas (presidente da Autoridade Nacional Palestina), que está sob uma enorme pressão dos Estados Unidos e de Israel, que há uma chance para os palestinos desta vez, se os palestinos ficarem unidos e continuarem a resistência contra a ocupação.

 

— O sr. avalia que outras forças militares poderiam entrar no combate ao lado do Hamas, como o Hezbollah, ou mesmo a Síria e o Irã

— Acredito que todas as opções estão abertas. Israel está angariando apoios por toda parte, por que os palestinos não poderiam ser apoiados por outros países e organizações? Mas isso se verificará na situação. Ninguém sabe como ou quando algo pode acontecer, mas eles têm que acreditar que, quando ocorrer, não terão escolha, porque significará que passaram a considerar que o governo de Israel não é um Estado, é só uma máfia que age como os nazistas, alegando que possuem direitos, usando o povo judeu em prol do seu projeto.

 

— Como o sr. imagina a reação dos países árabes a essa situação, em particular a Arábia Saudita?

— Os países já afirmaram claramente ao Secretário de Estado de Biden que o problema é Israel e a solução é a consolidação de um Estado Palestino. Pois bem, os norte-americanos não estão escutando. O que eles precisam compreender é que isso deve acontecer. Eu creio que o posicionamento dos países árabes é um bom começo. Um passo na direção certa. Precisamos partir daí, para unificar a posição árabe de apoio à resistência, de apoio aos direitos dos palestinos na sua luta contra Israel, na realização do seu objetivo: o fim da ocupação israelense, a construção de um Estado palestino independente e soberano, com Jerusalém como a sua capital.

 

— O que seria preciso para um cessar-fogo imediato entre o Hamas e o Estado de Israel? Qual é o ponto de vista do Hamas?

— O primeiro passo é a interrupção dos ataques israelenses contra os palestinos, incluindo a ofensiva em Gaza; fim da construção de assentamentos na Cisjordânia, e uma mudança na situação da mesquita Al-Aqsa em Jerusalém. Este deve ser o primeiro passo. Em seguida, todos devem trabalhar para pôr um fim à ocupação pois, se não houver um fim à ocupação, não haverá estabilidade e paz na região.

 

— O Hamas declarou aceitar, em 2006, após vencer as eleições para o parlamento palestino, a solução de dois Estados: um judeu e outro palestino. Vocês reconsiderariam esta hipótese?

— Israel destruiu tal possibilidade. Destruiu a possibilidade da existência de um Estado palestino. Então, nosso posicionamento é de que não precisamos negociar. De que há resoluções internacionais, há o reconhecimento, a nível internacional, dos direitos palestinos. Portanto, haveremos de fazer Israel implementar as resoluções internacionais, abandonar as terras palestinas ocupadas, e deixar o povo palestino decidir o seu futuro. E assim, um governo democrático palestino eleito decidirá o próximo passo e nós respeitaremos tanto os resultados das suas eleições quanto a decisão desse governo.

 

— Mas a longo prazo, qual é a solução proposta pelo Hamas? Um Estado palestino, judeus fora do Estado palestino? Dois Estados, um Estado multinacional? Qual solução o Hamas apresenta a longo prazo?

— Quando você fala do fim da ocupação, isso não significa que estamos dispostos a matar os judeus. O problema é Israel ser uma força de ocupação. Se o Estado israelense fosse desmantelado e não houvesse mais ocupação, e o povo decidisse o seu futuro, as pessoas teriam o direito à autodeterminação. Se alguém quiser viver sob as regras e leis desse Estado palestino soberano, por que não? Mas não aceitaremos uma força ocupante dizendo que devemos viver nas nossas terras e lares sob suas leis e regras.

 

— Sr. Hamdan, na sua opinião, quais são os objetivos de Netanyahu nesse momento? O sr. acha que ele quer destruir Hamas ou ocupar permanentemente a Faixa de Gaza?

— Eu creio que Netanyahu quer escapar da prisão. Todos sabem da sua vontade de mudar o sistema judiciário de Israel para poder escapar da prisão. Ele quer criar uma guerra para evitar ir para a prisão. Ele acha que isso vai fazer dele um herói e o tornará intocável. Eu acho que  que Netanyahu está fazendo agora é levar Israel a uma situação muito séria, que ninguém sabe quais serão as consequências no futuro. Eu acho que alguém precisa falar para ele: “Pare. Você está criando mais problemas do que resolvendo. Porque os palestinos devem ser libertados, a ocupação precisa ter um fim e, sem isso, você criará mais problemas para a região. E no fim do dia você ainda irá para a cadeia por ser uma pessoa corrupta”.

 

— Mas seria o Hamas capaz de suportar a ofensiva israelense até o ponto de se discutir uma solução pacífica? Porque, nesse momento, Israel diz ao mundo que destruirá o Hamas nas próximas semanas.

— Isso só mostra que evitar a ofensiva israelense não criaria paz. O problema não é a ofensiva, o problema é a presença de Israel enquanto força ocupante. O problema é que a ocupação vem matando os palestinos o tempo inteiro. O problema é que os israelenses não permitem que os palestinos tenham os seus direitos. O problema é que os Estados Unidos, ao apoiarem Israel, não estão defendendo a paz. Sempre que eles começam a falar de paz, falam das necessidades, demandas e garantias de Israel.

Mas não perguntam aos palestinos o que eles querem, os verdadeiros donos da terra. Não perguntam aos palestinos sobre as suas esperanças, seus sonhos. Então, dessa forma, eu não creio que a operação militar trará paz a Israel.  A operação militar trará mais transtornos à região. A reação da resistência será maior do que Israel está esperando. Por que ninguém está tentando ver tudo isso? Vamos trabalhar em conjunto para por fim à ocupação. Não estou falando que você não enxerga isso. Estou falando da comunidade internacional, principalmente os Estados Unidos e a Europa. Eles têm que perceber que a presença de Netanyahu, a presença desse governo, só criará mais problemas na região, e mais problemas até mesmo para os norte-americanos.


Source: https://www.correiodobrasil.com.br/dirigente-hamas-elogia-conduta-lula-questao-palestina/

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