Então percebi como as coisas viraram ao contrário. Hoje é a avó que sai de casa pra deixar o neto a vontade. Eu prefiro assim: eles na minha casa e eu fora, pela ansiedade que fico quando eles saem e não têm hora pra voltar.
Por Maria Lúcia Dahl, do Rio de Janeiro:
Cinco anos depois do meu segundo casamento acabar, separei-me do meu marido, que continuou exilado em Paris, onde minha filha nasceu e voltei com ela pro Rio.
Então, nesse tempo todo que ela morou sozinha comigo, tive alguns namorados que , se, por acaso, fossem dormir lá em casa, eu a levava pra casa da minha sogra. Não queria explicar que fulano era meu amigo e não dormia comigo , mas sicrano era meu namorado e dormia.
Desde que eu era criança que passei por essas histórias, com o namorado da minha babá e o da cozinheira lá de casa que surpreendi algumas vezes minha mãe conversando com vovô e afirmando que eles dormiam com elas nos seus quartos de empregada lá de casa que eram separados e no térreo, enquanto os nossos eram no segundo andar e bem recolhidos.
Ouvia o que a minha avô comentava com mamãe e não podia entender porque os “noivos” das empregadas não podiam dormir com elas. Eram nossos amigos, meus e da minha irmã, que nos contavam histórias ótimas e eu não entendia por que os dois rapazes podiam nos visitar, comer lá em casa, conversar com a gente, mas por que não dormir com as empregadas. Já que moravam longe, no subúrbio, e os quartos delas eram grandes e cabia quem quisesse, até que um dia, depois da milésima discussão entre mamãe e vovô se eles dormiam ou não com elas, fui perguntar a babá se isso era verdade. Babá , chocada, chamou a cozinheira que depois de quase enfartar ouvindo essa história que, obviamente era verdade, perguntou quem tinha inventado aquele absurdo, o que me deixou pensando por que era proibido dormir com alguém. Contei que tinha sido mamãe que falou e elas juraram de pés juntos , que nunca na vida tinham dormido com eles. E fiquei me perguntando qual érea o problema, se a cama era larga, o quarto grande, por que não se podia dormir junto com alguém?
Contei então pra mamãe o que as empregadas tinham dito, o que a deixou mais furiosa ainda dizendo que eu não podia ter falado com elas sobre isso.
Aquela história me intrigou muito por que eu gostava demais dos noivos das empregadas e delas também, e não entendia por que toda aquela confusão, se a minha prima, por exemplo, dormia sempre comigo e minha irmã no mesmo quarto, e ninguém ficava furioso. Pelo contrário, ela era sempre convidada a dormir, e por que os noivos das empregadas não podiam ?
Pois agora meu neto, de 17 anos, que ontem era um bebê e mora com o pai em Los Angeles, veio passar as festas com a mãe e o irmão na minha casa, no Rio.
No dia seguinte arranjou uma namorada, me pediu pra dar uma festa no andar debaixo aqui de casa pra galera e deixar a namorada, depois dormir no seu quarto com ele. Concordei imediatamente, pois a menina é super educada e resolvi ir dormir na casa do meu companheiro para deixar meu neto mais livre lá em casa com os amigos e colocar música alta até de manhã, só com a mãe tomando conta.
Então percebi como as coisas viraram ao contrário. Hoje é a avô que sai de casa pra deixar o neto a vontade. Eu prefiro assim: eles na minha casa e eu fora, pela ansiedade que fico quando eles saem e não têm hora pra voltar.
Digo a ele que a única regra da qual ele não escapa lá em casa é me telefonar a qualquer hora, caso resolva dormir fora, ao que ele respondeu que vai sempre dormir com a namorada na minha casa.
Mas não foi só a parte jovem quem mudou. As avós de antigamente não tinham ideia do que fosse ter um namorado, muito menos recebê-los em suas casas para dormir.
Mas prefiro assim, que ele durma com ela aqui em casa, pra não ficar ansiosa quando eles saem e não têm hora pra chegar.
E, ao contrário de mamãe e vovó, digo a ele que levar a menina pra dormir lá em casa é a única regra que exijo pra ele ficar lá em casa, ao que ele responde:
-Não se preocupe, vó.
Maria Lúcia Dahl , atriz, escritora e roteirista. Participou de mais de 50 filmes entre os quais – Macunaima, Menino de Engenho, Gente Fina é outra Coisa – 29 peças teatrais destacando-se- Se Correr o Bicho pega se ficar o bicho come – Trair e coçar é só começar- O Avarento. Na televisão trabalhou na Rede Globo em cerca de 29 novelas entre as quais – Dancing Days – Anos Dourados – Gabriela e recentemente em – Aquele Beijo. Como cronista escreveu durante 26 anos no Jornal do Brasil e algum tempo no Estado de São Paulo. Escreveu 5 livros sendo 2 de crônicas – O Quebra Cabeça e a Bailarina Agradece-, um romance, Alem da arrebentação, a biografia de Antonio Bivar e a sua autobiografia,- Quem não ouve o seu papai um dia balança e cai. Como redatora escreveu para o Chico Anisio Show.Como roteirista fez recentemente o filme – Vendo ou Alugo – vencedor de mais de 20 premios em festivais no Brasil.
Direto da Redação, editado pelo jornalista Rui Martins.
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