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Ex-porta-voz da Presidência da República, general detona Bolsonaro

October 28, 2020 13:51 , par Correio do Brasil - | No one following this article yet.
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O tom épico, sobre a tragédia política que percebe agora, em curso, vai adiante no artigo do general Rêgo Barros. Nele, o militar parece deixar um recado aos amigos de farda, que permanecem como esteios do regime ditatorial que se prenuncia.

Por Redação – de Brasília

Fora do governo há 21 dias, agora ex-porta-voz da Presidência da República, o general Otávio do Rêgo Barros sente-se mais leve, sem o jugo do ditador que, sem citá-lo expressamente, compara ao romano Júlio César. De próprio punho, no artigo publicado em um diário que consta da resenha lida no Palácio do Planalto, Rêgo Barros deixa a seguinte pensata:

O general Rêgo Barros tentou encerrar o assunto, que já está judicializadoO general Rêgo Barros tentou encerrar o assunto, que já está judicializado

“Infelizmente, o poder inebria, corrompe e destrói!”

O militar, agora na reserva, abre seus escritos com o célebre momento em que o comandante mais proeminente da Roma antiga decide os destinos de uma era, ao atravessar o Rubicão, última fronteira para o domínio do império.

Aduladores

“Legiões acampadas. Entusiasmo nas centúrias extasiadas pela vitória. Estandartes tomados aos inimigos são alçados ao vento, troféus das épicas conquistas. O general romano atravessa o lendário rio Rubicão. Aproxima-se calmamente das portas da Cidade Eterna. Vai ao encontro dos aplausos da plebe rude e ignara, e do reconhecimento dos nobres no Senado. Faz-se acompanhar apenas de uma pequena guarda e de escravos cuja missão é sussurrar incessantemente aos seus ouvidos vitoriosos: “Memento Mori!” — lembra-te que és mortal!”

No texto, publicado na edição de véspera do diário conservador Correio Braziliense, Rêgo Barros deixa pistas evidentes de que escreve sobre a experiência recentemente deixada para trás, às memórias de um tempo do qual, ao que indica, tem pouco ou nada a reverenciar. Ele se compara ao servo que lembrava, a todo tempo, a mortalidade de seu comandante.

“O escravo que se coloca ao lado do galardoado chefe, o faz recordar-se de sua natureza humana. A ovação de autoridades, de gente crédula e de muitos aduladores, poderá toldar-lhe o senso de realidade. Infelizmente, nos deparamos hoje com posturas que ofendem àqueles costumes romanos. Os líderes atuais, após alcançarem suas vitórias nos coliseus eleitorais, são tragados pelos comentários babosos dos que o cercam ou pelas demonstrações alucinadas de seguidores de ocasião”, continuou.

Capitão expulso

O tom épico, sobre a tragédia política que percebe agora, em curso, vai adiante:

“É doloroso perceber que os projetos apresentados nas campanhas eleitorais, com vistas a convencer-nos a depositar nosso voto nas urnas eletrônicas, são meras peças publicitárias, talhadas para aquele momento. Valem tanto quanto uma nota de sete reais”, amarga.

Sob o comando do capitão expulso da arma a qual o general Rêgo Barros serviu, ao longo da carreira, a República corre o risco de ser subtraída, a exemplo do que fez o romano citado no artigo. Ele recomenda aos demais Poderes que, doravante, tenham muita cautela.

“As demais instituições dessa República — parte da tríade do poder — precisarão, então, blindar-se contra os atos indecorosos, desalinhados dos interesses da sociedade, que advirão como decisões do ‘imperador imortal’. Deverão ser firmes, não recuar diante de pressões”, aconselha.

Quase um desabafo, Rêgo Barros confessa que, na qualidade de um dos “assessores leais” ao mandatário, falhou na missão de convencer o superior a manter-se íntegro, no exercício do cargo. A frustração fica clara no parágrafo em que ele joga a toalha.

Seguidores

“Tão logo o mandato se inicia, aqueles planos são paulatinamente esquecidos diante das dificuldades políticas por implementá-los ou mesmo por outros mesquinhos interesses. Os assessores leais — escravos modernos — que sussurram os conselhos de humildade e bom senso aos eleitos chegam a ficar roucos.”

Tais assessores, escreve Rêgo Barros, “deixam de ser respeitados”, sem citar nomes. Outros são “abandonados ao longo do caminho, feridos pelas intrigas palacianas”, deixa a dica. E continua:

“O restante, por sobrevivência, assume uma confortável mudez. São esses seguidores subservientes que não praticam, por interesses pessoais, a discordância leal.”

O artigo inteiro parece um recado aos demais comandantes de tropas, nas Três Armas. Nele, Rêgo Barros escreve como se tentasse alcançar o grupo de amigos, fardados, permanece na máquina do governo, entre eles dois generais que lhe são próximos, humilhados por setores dos quais o presidente não prescinde.

Alto comando

O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, foi publicamente desautorizado por Bolsonaro depois de anunciar a compra de 46 milhões de doses da vacina chinesa CoronaVac.

— Um manda e o outro obedece — disse Pazuello, em um vídeo gravado a mando de Bolsonaro.

No caso do outro militar, o fato é ainda mais vexatório. Ministro-chefe da Secretaria de Governo, o general Luiz Eduardo Ramos foi chamado de “Maria Fofoca” e de “Banana de Pijamas” por Ricardo Salles, colega dele na pasta do Meio Ambiente. O fato, no entanto, pareceu ter deixado mais constrangido o alto comando do Exército, do que o próprio ofendido.

Rêgo Barros deixa transparecer tal incômodo e o atribui à impressão de que alguma coisa mudou na personalidade do presidente, como se fosse transformado em uma espécie de ser iluminado, com uma missão divina, própria dos celerados.

Imprensa

“A autoridade muito rapidamente incorpora a crença de ter sido alçada ao Olimpo por decisão divina, razão pela qual não precisa e não quer escutar as vaias. Não aceita ser contraditada. Basta-se a si mesmo. Sua audição seletiva acolhe apenas as palmas. A soberba lhe cai como veste”, refletiu.

O ódio que seu ex-chefe dedica aos repórteres também foi lembrado, no artigo do militar que trabalhava na Assessoria de Comunicação Social da Presidência da República.

“A imprensa, sempre ela, deverá fortalecer-se na ética para o cumprimento de seu papel de informar, esclarecendo à população os pontos de fragilidade e os de potencialidade nos atos do César”, recomenda.

Piromaníaco

Além do recado aos que ficam e asseguram o apoio do braço armado ao projeto de ditador, que busca formas de se perpetuar sobre os escombros do regime democrático, Rêgo Barros também passa uma mensagem aos eleitores, contra a insensatez que hoje dorme e acorda, no Palácio da Alvorada.

“A população, como árbitro supremo da atividade política, será obrigada a demarcar um rio Rubicão cuja ilegal transposição por um governante piromaníaco será rigorosamente punida pela sociedade. Por fim, assumindo o papel de escravo romano, ela deverá sussurrar aos ouvidos dos políticos que lhes mereceram seu voto:

— “Lembra-te da próxima eleição!”, atalha o articulista.

Nenhum dos oficias graduados que receberam o pedido da reportagem do Correio do Brasil, para repercutir o artigo do general Rêgo Barros, nesta quarta-feira, responderam aos pedidos de entrevista, até o fechamento da edição.


Source : https://www.correiodobrasil.com.br/ex-porta-voz-presidencia-republica-general-detona-bolsonaro/

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