Freixo perdeu para o senador e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) Marcelo Crivella (PRB). Nas Organizações Globo, atribuiu sua derrota a “tudo de ruim que aconteceu durante o ciclo do PT na Presidência”
Por Redação – do Rio de Janeiro
Deputado estadual do PSOL fluminense, Marcelo Freixo voltou à polêmica com o Partido dos Trabalhadores (PT) e a esquerda, em geral. Os petistas o apoiaram, no primeiro e segundo turnos das eleições municipais, nesta capital. Mas, em vez de agradecer o empenho dos militantes, culpou o PT por sua derrota. Não ficou, porém, sem resposta. Em declaração pública, nesta terça-feira, a deputada Jandira Feghali apontou as posições isolacionistas do candidato do PSOL, durante a campanha derrotada.

Marcelo Freixo (PSOL) voltou a criar polêmica com a esquerda e o PT, ao atribuir parte da culpa de sua derrota aos erros da presidenta Dilma Rousseff
Freixo perdeu para o senador e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) Marcelo Crivella (PRB). Nas Organizações Globo, atribuiu sua derrota a “tudo de ruim que aconteceu durante o ciclo do PT na Presidência”.
— A esquerda brasileira vive agora o seu pior momento desde o fim da ditadura militar. É uma pena. Mas pagamos o preço por tudo de ruim que aconteceu durante o ciclo do PT na Presidência da República. Apesar de não termos feito parte daquele governo. Na verdade, essa não é apenas uma questão carioca. Se olharmos os resultados das eleições municipais em todo o Brasil, vemos que a esquerda sofreu uma derrota nacional — disse Freixo ao jornal conservador carioca O Globo.
Explicações
Na entrevista à empresa da família Marinho, Freixo disse que retorna à Assembleia Legislativa do Estado do Rio nesta terça-feira. Ele prometeu fazer uma oposição “dura e constante” ao governo de Crivella.
— Não aceitaremos nenhum direito a menos. É bom que o Crivella entenda que o Rio de Janeiro não é um templo. É uma cidade cheia de diversidade e isso não vai mudar por mais que ele possa tentar. Respeito a vontade das urnas e reconheço a vitória dele, mas seremos bem duros em nossa oposição — disse.
Em seu escritório de campanha, na Glória, Freixo buscou explicações para o mapa de votação que mostra os locais onde os eleitores o apoiaram ou votaram em Crivella.
— Arrisco dizer que é o pior momento para a esquerda desde a ditadura. Não lembro de uma crise tão grande. A esquerda não deve dizer que a culpa é de outros atores e esquecer a sua responsabilidade. É hora de autocrítica e entender os erros — disse Freixo.
Culpa do PT
Embora tenha criticado o senador Crivella por alianças com o PMDB, do prefeito Eduardo Paes, e o PR, do ex-governador Anthony Garotinho, Freixo confirma suas críticas à esquerda, na entrevista ao diário que apoiou a ditadura de 1964 e o golpe de Estado, em curso no país.
— Todo projeto de esquerda está pagando caro por isso. Há o fim de um ciclo, erros do modelo de governabilidade. Erros cometidos, principalmente, pelo PT. Mas não adianta crucificar o PT. É fundamental que a esquerda não se vitimize — disse.
Às dificuldades nacionais da esquerda, Freixo acrescenta um dado específico do Rio, que se comprovou nas urnas: o PSOL não tem penetração na Zona Oeste, onde perdeu por grande diferença para Crivella.
— É um desafio. É só por causa da milícia? Não é. Fato é que a candidatura do Crivella teve um cunho popular muito forte. Vem da Universal e da Record, que têm penetração grande no setor popular. Não adianta querer resolver o distanciamento da Zona Oeste na eleição. É até mais fácil dialogar fora desse período, porque você não está ali pelo interesse imediato, a sua credibilidade aumenta — acrescentou.
‘Atordoados’
Em uma espécie de autocrítica, Freixo cita a primeira semana do segundo turno como decisiva. Para ele, faltou maturidade ao PSOL. Acredita que sua campanha demorou a atacar Crivella.
— A gente foi surpreendido com os ataques pelo WhatsApp, tipo “ele vai mudar o sexo das crianças, vai liberar droga, acabar com a PM. Aquilo atingiu a gente. Era uma rede subterrânea, onde não conseguíamos entrar. A gente perdeu uma semana ali, ficamos muito atordoados. Estava esperando uma crítica política, “ah, é de esquerda, é radical”. Acho que esse foi um erro. Faltou maturidade ou instrumento para responder. Só depois do debate da Band fomos para o ataque — relata.
O deputado acrescenta que, na campanha, não tratou mais de impeachment. Ele questiona ainda um possível sectarismo do PSOL.
— Cinco mil pessoas participaram do programa de governo. Isso não é um partido fechado. Tivemos apoio de partidos no segundo turno, como a Rede e o PSB — afirmou. Ele disse, ainda, que sua campanha buscou os setores empresariais, com os quais o partido não tinha relação antes da eleição.
Freixo também quebrou o protocolo, na noite de domingo. Não fez a tradicional ligação telefônica a Crivella, reconhecendo a derrota:
— Por que ligaria? Esse é um protocolo muito hipócrita. Eu não ligava antes da eleição para ele, não vou ligar para ele agora e dizer “deixa disso, vamos dar risada”. A campanha dele foi baixa, desonesta. Desejar um bom governo é honesto, eu realmente desejo que ele acerte. Não torço pelo quanto pior, melhor.
Negação da política
Diferentemente de Freixo, a candidata comunista Jandira Feghali publicou artigo, nesta terça-feira, no qual atira na direção dos adversários, e não para dentro das próprias trincheiras. Segundo Feghali, “a vitória da negação da política e o comando da prefeitura do Rio em mãos conservadoras são um retrocesso”. Ela lamentou “sinceramente a derrota de Marcelo Freixo, candidato apoiado por nós do PCdoB e demais forças de esquerda no segundo turno”.
A deputada se notabilizou pela defesa da democracia contra o golpe de Estado de Maio deste ano. Segundo Jandira, “o palanque de Marcelo Crivella mostrou uma unidade de centro-direita”. E o fez com lideranças religiosas e “a expressão de uma visão atrasada de como ‘cuidar das pessoas’.
Leia, adiante, os principais trechos do artigo:
“O processo eleitoral ocorreu debaixo de um golpe institucional, da violação da nossa Constituição, da criminalização da política, com foco na eliminação da esquerda que governou o Brasil e em consequência dos direitos por ela garantidos.
“Sinais de fascismo e Estado de exceção com envolvimento de agentes públicos dos três Poderes marcaram os últimos meses, contando com amplificação e consolidação da criminalização da política pela Grande Mídia, particularmente pelo sistema Globo de televisão, rádio, jornais e revistas semanais. Ao analisar este cenário, não concordo com os que acham que os erros da Esquerda foram a razão do golpe e da desesperança do povo, mesmo admitindo que existiram muitos erros.
Campo progressista
“Tudo isso tem exigido de nós uma demarcação clara de campo, a inserção da cidade que queremos neste contexto e o máximo de unidade possível do campo mais avançado e da Esquerda em particular. Todos sabíamos que no primeiro turno, o voto útil unificaria a opção do eleitorado à esquerda. Ficou claro que minha candidatura foi atingida por este movimento.
“No segundo turno, porém, a unidade e a ampliação seriam fundamentais para enfrentar no Rio a onda conservadora que varreu o Brasil. Ainda que não ganhássemos a eleição, teríamos dado um grande passo em direção a uma perspectiva futura de unidade das esquerdas e do campo progressista. A soma não é apenas matemática, mas de forte simbolismo político.
“No entanto, não dar visibilidade ao apoio do PT, da REDE e do PCdoB foi uma opção nítida da campanha de Marcelo Freixo, e a única alternativa que nos restou foi respeitar uma estratégia onde não cabíamos. Falando por minha candidatura, reafirmo meu compromisso no segundo turno, quando declarei apoio à candidatura do PSOL antes mesmo de terminada a apuração dos votos do primeiro turno.
Territórios populares
“Fizemos outras declarações públicas durante o processo, com vídeos, presença em atos na Cinelândia – como o de mulheres – com nossa tradicional militância presente na rua durante todo o tempo e de forma muito bonita. Mas é necessário dizer à sociedade que, se mais não fizemos foi porque entendemos o recado e respeitamos a decisão da candidatura de Freixo, que não buscou a nossa opinião, muito menos a nossa presença em demais atividades, imagens, TV e redes sociais.
“Ao emitir uma ‘Carta aos Cariocas’ para, tardiamente, atrair o eleitor de classe média mais ao centro, equivocou-se. Na minha opinião, seu conteúdo reforçou um movimento de “despolitização da política” fortemente presente no país, que acabou marcando as duas campanhas neste segundo turno e que pode ter contribuído para o altíssimo índice de abstenções. Isso foi visto, sintomaticamente, em maior grau na Zona Sul e bairros de classe média do que nos territórios populares.
“A história já diz. As vitórias eleitorais da Esquerda no Rio sempre estiveram respaldadas no voto popular, e grandes votações nas zonas norte e oeste. Foi assim nas eleições de Brizola para governador em 1982 e em 1990. Lula, por exemplo, sempre teve votações expressivas no Rio de Janeiro, desde a sua primeira campanha em 1989. Em 2002 e em 2006, teve média de 70% dos votos nas zonas norte e oeste, performance repetida por Dilma em 2010.
Mapa eloquente
“O PSOL, que optou por não receber o apoio de Lula em sua campanha, nunca conseguiu chegar perto deste patamar nas regiões populares desta cidade. Faltou povo no seu eleitorado, porque talvez falte construir pontes com os setores da esquerda que construíram lastro e raízes históricas junto aos setores populares. Como escreveu Sidney Rezende em seu portal, “ajudar a Direita a desconstruir os demais partidos de Esquerda, principalmente o PT, pode abrir estradas ao PSOL, mas pode afastar delas quem ainda acredita que a esquerda mais unida, ainda que com divergências, seja indispensável para merecer seu voto”.
“E a segunda lição das urnas para o PSOL é que a ofensiva anti-PT e anti-esquerda desencadeada nestas eleições municipais atinge também o próprio PSOL. O partido perdeu as 3 eleições que disputou nesse segundo turno, e vai governar apenas 2 pequenos municípios em todo o país. Pau que bate em Chico, bate em Francisco.
“O mapa da votação na cidade é eloquente e fala por si. Esquerda sem povo e sem ampliação não vai muito longe, como a história das batalhas eleitorais do Rio nos ensina.
“A responsabilidade agora é de todos nós.
Vitória do povo
“Olhar para o futuro e repensar o papel da Esquerda, dos movimentos sociais em conteúdo, gestos e forma de relação com a sociedade, particularmente o povo trabalhador e menos aquinhoado. No centro do nosso projeto deve estar a recuperação democrática, os direitos e o desenvolvimento do nosso país.
“Os desafios são muitos e devemos trabalhar em unidade e frentes amplas que nos permitam recuperar nossa referência. Devemos reconhecer a lição que saiu das urnas e seguir apoiando e incentivando a juventude em luta nas periferias, nas escolas e universidades ocupadas, os trabalhadores e mulheres guerreiras, os artistas que se expuseram com riscos reais para suas carreiras.
“Há muito que fazer para superar os nossos limites e visões que dificultam composições mais amplas no campo da Esquerda e dos setores progressistas. É preciso permitir acumular forças entre os que defendem, como nós, um futuro de politização, ampliação da democracia e vitória do nosso povo contra a dramática agenda de Estado mínimo em implantação por este governo ilegítimo”, conclui Jandira Feghali.
O post Freixo bate no PT mas apanha de Jandira após derrota para Crivella apareceu primeiro em Jornal Correio do Brasil.