Os brasileiros esperam que todos os políticos com culpa no cartório, independentes de siglas partidárias, sejam investigados com o máximo rigor.
Por Mário Augusto Jakobskind, do Rio de Janeiro:
Os tempos mudaram – a Justiça agora prende até ex-governadores
O cinismo das Organizações Globo é de causar espécie. Depois de muitos anos apoiando Sérgio Cabral e posteriormente Pezao, o jornal e as mídias eletrônicas do grupo investem furiosamente contra o ex-governador acusado de receber altas propinas de empreiteiras.
E as acusações que agora aparecem não são novas, mas quando denunciadas não mereceram divulgação ou mesmo servirem de sugestão de pauta para matérias investigativas.
Era então tempo em que Sérgio Cabral mandava absoluto e tinha o controle das verbas publicitárias do Governo do Estado do Rio de Janeiro. É por aí também que se pode explicar o silêncio deveras comprometedor das Organizações Globo.
Mas agora os tempos são outros. As provas contra Cabral o levaram para a cadeia e o político do PMDB está se tornando um cachorro morto, da estirpe de um Eduardo Cunha.
Os amigos de ontem, que eram também contemplados de todas as formas, seja com verbas publicitárias ou até mesmo por métodos comprometedores, tentam de todas as formas livrar a própria cara.
É possível que em algum momento, caso seja condenado à pena equivalente à prisão perpétua, Cabral decida fazer delações premiadas. É o temor do seu grupo político do PMDB, onde lá se encontram, entre outros, os deputados estaduais Jorge Picciani, Paulo Mello, que disseram esperar que o acusado consiga provar inocência. Não se exclui também o temor envolvendo a nível federal os golpistas Moreira Franco e Michel Temer.
Cabral e as figuras a ele ligadas terão todo direito de defesa, mas pelas provas até agora apresentadas serão difíceis de serem refutadas. Cabral terá também de devolver aos cofres públicos todo que abocanhou indevidamente em seus dois mandatos, não apenas os 220 milhões de reais recebidos por favores prestados ás empreiteiras, como também as jóias valiosas recebidas até mesmo por seus familiares, um iate, automóveis de luxo e tudo mais que aparecer.
O que se espera também é que políticos de outros partidos, como o PSDB, por exemplo, sejam da mesma forma investigados e seus nomes divulgados pela mídia conservadora. E se isso não acontecer, quem sairá mal da história será a Justiça, especialmente o juiz Sérgio Moro, que acabou se transformando no “queridinho” da mídia conservadora brasileira.
O que não se pode admitir é a resposta do referido quando indagado sobre o motivo de políticos do PSDB não despontarem na Lava Jato e ele ter dito para um repórter estadunidense “que até agora os nomes não apareceram”.
Os brasileiros esperam que todos os políticos com culpa no cartório, independentes de siglas partidárias, sejam investigados com o máximo rigor.
Mas também não se pode admitir que alguns políticos sejam tratados de forma diferenciada ou forjadas provas contra outros que as oligarquias não querem que continuem atuando no cenário político, porque podem ameaçar os seus projetos de dominação em detrimento da maioria do povo brasileiro.
E se porventura isso acontecer, ficará a dúvida de que a Justiça age para valer ou segue a velha prédica de dois pesos e duas medidas com o objetivo de continuar o também o velho esquema de dominação.
Só mesmo o tempo dará a melhor resposta a essas dúvidas.
Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil). Consultor de História do IDEA Programa de TV transmitido pelo Canal Universitário de Niterói, Sede UFF – Universidade Federal Fluminense Seus livros mais recentes: Líbia – Barrados na Fronteira; Cuba, Apesar do Bloqueio e Parla , lançados no Rio de Janeiro.
Direto da Redação é um fórum democrático de debates editado pelo jornalista Rui Martins.
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