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Infância, prisão perpétua

December 27, 2015 15:00 , von Jornal Correio do Brasil - | No one following this article yet.
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Por MariaLúcia Dahl, do Rio de Janeiro:

Colunista rememora sua infância no Rio de Janeiro
Colunista rememora sua infância no Rio de Janeiro

Os lugares que mais gosto no mundo estão todos ligados ao meu passado. É uma forma diferente de gostar, é com se eles fizessem parte de mim, do meu corpo, da minha alma.

É estranho voltar a casa onde passei minha infância e início da adolescencia e nem me dar conta de que ela virou o Colégio Andrews da Rua Visconde Silva.Vou direto pro meu quarto brincar de boneca com a babá, mesmo que ele tenha se transformado numa sala de aula. Não vejo a decoração moderna e os alunos que a usufruem, mas, babá contando histórias da roça, de onde veio,e eu com a boneca na mão.

Depois vou pro quarto da vovó, ao lado do meu, pra ouvir Monteiro Lobato, brinco com meus cachorros Dick e Diana,no jardim, entro na sala de visitas pra ouvir mamãe tocar Chopin ou músicas de seu pai, Gastão Penalva, compostas com Chiquinha Gonzaga. Lembro-me dos amigos do meu avô, do Padre Assis Memória, por exemplo, pra quem vovô  fez um versinho:

“Senhor Deus, à hora extrema,
Quando  a memória me falte,
Que não me falte o Memória.”

E  por incrível que pareça, meu avô morreu de mãos com ele, o Memória.

Tambem toco violão com meu pai e com meu professor, Patrício Teixeira, quem me fez tomar conhecimento dos melhores compositores brasileiros.

Por tudo isso que passei dentro dela, essa casa é parte de mim, e pode virar o que quiser na realidade, por que já tinha sido feita antes, no meu espírito, numa construção imutável mesmo que eu queira vê-la de outro jeito.

Foi assim também com o apartamento da Av. Atlantica, onde passei a  adolescência e juventude, olhando a praia, em frente ao prédio, esperando os vizinhos amigos, como o  Guilherme Guimarães, por exemplo, pra me juntar com eles.

Mais tarde trocamos todos o posto Seis pelo Arpoador compactuando com a turma dos surfistas com o Arduino Colasanti, os personagens do Pasquim, como o Trio Tumba, composto por Tania Scher, Dorinha e Solanginha, sempre alegres e engraçadas, mas fiéis  a época da Fossa com fundo musical de Maysa Matarazzo.

Frequentava  quase todo o dia  o Country Club, também, onde fiz vários amigos que de vez em quando ainda vejo por lá,  alem de milhares de jovens  desconhecidos e em silencio, empenhados em desvendar suas mensagens nos seus consagrados selfies, enquanto a minha geração, na idade deles   se juntava pra fofocar  no bar  ao som  do  Bené Nunes e  depois cantar Bossa Nova com músicas de João Gilberto e Tom Jobim.

O problema da idade, acho eu, é que vamos virando espectadores selfies  em vez de atores
que compactuam com  as viradas gerais.

Antes vivíamos o mundo intensamente com suas transformações da vida e da arte que refletiam  um padrão de mudanças e curiosidades que nos levava a uma perfeição de felicidade e alegria contidas que explodiam do nosso inconsciente em ações transformadoras do mundo e da vida.

Maria Lúcia Dahl , atriz, escritora e roteirista. Participou de mais de 50 filmes entre os quais – Macunaima, Menino de Engenho, Gente Fina é outra Coisa – 29 peças teatrais destacando-se- Se Correr o Bicho pega se ficar o bicho come – Trair e coçar é só começar- O Avarento. Na televisão trabalhou na Rede Globo em cerca de 29 novelas entre as quais – Dancing Days – Anos Dourados – Gabriela e recentemente em – Aquele Beijo. Como cronista escreveu durante 26 anos no Jornal do Brasil e algum tempo no Estado de São Paulo. Escreveu 5 livros sendo 2 de crônicas – O Quebra Cabeça e a Bailarina Agradece-, um romance, Alem da arrebentação, a biografia de Antonio Bivar e a sua autobiografia,- Quem não ouve o seu papai um dia balança e cai. Como redatora escreveu para o Chico Anisio Show.Como roteirista fez recentemente o filme – Vendo ou Alugo – vencedor de mais de 20 premios em festivais no Brasil.

Direto da Redação, editado pelo jornalista Rui Martins.


Quelle: http://www.correiodobrasil.com.br/788688-2/

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