Nos dois pregões anteriores, o dólar acumulou perda de 0,74% sobre o real. Na véspera, o mercado ficou animado com notícias de que estava sendo costurado um acordo no STF para garantir Renan na Presidência do Senado
Por Redação – de São Paulo
O dólar operava em queda ante o real nesta quinta-feira, com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de manter Renan Calheiros (PMDB-AL) no cargo. A permanência dele na Presidência do Senado promoveu o alívio aos investidores, em relação à pauta econômica do governo Michel Temer no Congresso.

Renan, presidente do Senado, recebeu o apoio do presidente de facto, Michel Temer, para permanecer no cargo
Às 10:12, o dólar recuava 0,33%, a R$ 3,3929 na venda, depois de ter batido R$ 3,3705 na mínima do dia. O dólar futuro operava em alta de cerca de 0,25% nesta manhã.
— Ficou patente na véspera que ia ter um acordo. Existe alguma precificação ainda da decisão do STF. Mas o mercado já começa a olhar para a frente — comentou o gestor do departamento de câmbio da corretora Gradual Investimentos, Hamilton Bernal.
Nos dois pregões anteriores, o dólar acumulou perda de 0,74% sobre o real. Na véspera, o mercado ficou animado com notícias de que estava sendo costurado um acordo para garantir Renan na presidência do Senado.
Divórcio com as ruas
A decisão do STF, de manter Calheiros no comando do Senado teve dois efeitos distintos. De um lado, afastou o receio com a pauta de medidas econômicas. Ao mesmo tempo que desagrada a opinião pública. A crise política, ainda que rarefeita, permanece latente.
A manutenção de Renan no posto e foi comemorada pelo governo e por atores econômicos. Estes viram afastada a possibilidade de adiamento da votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos gastos públicos.
Na outra ponta, porém, a decisão da Corte desta quarta-feira foi tomada sob a marca do descumprimento de uma ordem judicial pela Mesa Diretora do Senado. O fato ocorreu apenas alguns dias depois de Renan ser o principal alvo das manifestações de rua contrárias à corrupção.
Onda de pessimismo
Os manifestantes da extrema direita eram a favor da operação Lava Jato. O senador alagoano é um dos políticos citados em suspeitas de irregularidades.
— É uma posição no sentido da moderação, que deve gerar um contraponto à onda de pessimismo. Uma decisão que mostra uma certa autonomia do Supremo em relação à opinião pública — disse o analista da Tendências Consultoria Rafael Cortez.
O senador Jorge Viana (PT-AC) se recusou a sequer aventar a possibilidade de barrar a votação da PEC dos gastos. No brevíssimo período em que teve a possibilidade de ser alçado à Presidência do Senado, fez questão de se alinhar aos adversários. Ainda assim, atores econômicas temiam que o senador petista pudesse embaraçar a análise da proposta. A votação está prevista para a próxima terça-feira e apontada como crucial pelo governo do presidente Michel Temer.
Opinião pública
Mas se a decisão do Supremo traz alívio na seara econômica, citada inclusive por alguns ministros da Corte em seus votos na sessão desta quarta, também embute em si receios relacionados ao funcionamento das instituições. Idem à reação da opinião pública, já desfavorável à classe política em meio a uma dura recessão e a escândalos de corrupção.
— Creio que (a decisão do STF) foi uma solução de conciliação negociada. A questão é: é função do Supremo fazer isso? Ele é uma casa política? — questionou o cientista política Carlos Melo. O professor do Insper chama atenção para o precedente aberto pelo fato de a Mesa Diretora do Senado se recusar a cumprir a liminar dada pelo ministro Marco Aurélio Mello e afastar Renan da Presidência, decisão reformada nesta quarta.
— Daqui para frente, se o Supremo for chamado a intervir, a moderar, ele pode ou não ser atendido. Isso pode ter consequências sérias para o Brasil — disse.
Crise em alta
Para a socióloga Fátima Pacheco Jordão, embora a decisão do Supremo tenha sido um “compromisso necessário” do ponto de vista da pauta de votações defendida pelo governo Temer, ela foi “um desastre” do ponto de vista da opinião pública, que deve se sentir ainda mais dissociada da classe política.
— A manutenção de Renan não melhora em nada o quadro atual — avaliou.
Na mesma linha, Melo disse que o gesto de conciliação dado pela maioria do plenário do Supremo não ajuda a resolver a crise política. Menos ainda o conflito entre Poderes vigentes atualmente no país.
— Essas crises todas estão intactas. Renan teve uma vitória, sim, mas nem ele nem o Senado saem maiores desse processo. E o pleno do Supremo não fortaleceu o Judiciário — conclui.
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