Segundo três especialistas próximos ao assunto, a solução seria válida apenas para determinados projetos e provavelmente seria de interesse apenas de grandes grupos
Por Redação, com Reuters – de São Paulo:
Investidores em energia eólica no Brasil avaliaram a possibilidade de assumir a construção de parte das linhas de transmissão que estavam a cargo da Abengoa, que paralisou todos projetos no país, para evitar terem usinas prejudicadas pela falta de conexão ao sistema.
Segundo três especialistas próximos ao assunto, a solução seria válida apenas para determinados projetos e provavelmente seria de interesse apenas de grandes grupos, como Renova e CPFL Renováveis, que podem perder receita se não tiverem linhas onde conectar suas usinas a partir da data estipulada em contrato para início da operação.
– Vários agentes geradores já estão se reunindo para ver se conseguem viabilizar (a proposta)… Isso pode dar certo para alguns casos. Não é uma solução generalizada, mas poderia atender algumas situações específicas – afirmou o consultor Barne Laureano, da Laureano & Meirelles Engenharia.

Mesmo a geradora Casa dos Ventos, que não tem projetos imediatamente afetados, poderá se envolver no caso, mirando o potencial futuro das usinas que estuda implementar na região Nordeste.
– Como temos projetos nas áreas afetadas, nós nos dispusemos a eventualmente estudar ativos específicos (da Abengoa). Talvez isso passe por um consórcio, com transmissoras ou geradoras, para tentar dar uma solução – afirmou à agência inglesa de notícias Reuters o diretor de Novos Negócios da Casa dos Ventos, Lucas Araripe.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Lauro Fiúza Jr, confirmou que há uma busca dos empreendedores de meios para fazer frente à gravidade da situação.
– É real essa movimentação… Uma das soluções é as empresas que já estão no meio do caminho (com obras em andamento) se unirem para propor de fazer a conexão à rede – explicou.
A Abeeólica estima que 1,5 gigawatt em usinas eólicas já licitadas seriam conectadas a linhas em construção pela Abengoa, que suspendeu as obras após sua matriz na Espanha entrar com pedido preliminar de recuperação judicial.
A ideia das geradoras é que, caso a saída em estudo seja vista como viável pelo regulador, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), elas possam escolher quais linhas ou subestações da Abengoa têm interesse em construir, assumindo a receita anual estabelecida para as obras em questão.
Segundo Laureano, o interesse das empresas não é necessariamente assumir os contratos de concessão da Abengoa, mas apenas as instalações minimamente necessárias para escoar a energia das usinas.
– Ele (investidor em eólicas) coloca, por exemplo, um transformador em uma subestação e passa a receber uma receita pelo investimento que fez. A Aneel poderia fazer uma resolução e transferir esse ativo para uma transmissora, e ele fica livre da operação e manutenção disso – explicou.
Tanto Fiúza quanto Laureano defendem que será necessário tomar medidas que não estão previstas na regulação para viabilizar a geração das eólicas sem atrasos.
– O problema é muito sério e só medidas emergenciais e que passem por cima do processo (podem solucioná-lo)… Não dá pra ficar seguindo os trâmites normais – apontou Fiúza.
Procuradas pela reportagem, Renova Energia e CPFL Renováveis não comentaram o assunto.
A Enel Green Power, que também tem usinas eólicas em instalação no Nordeste, afirmou que “não tem interesse em adquirir esses ativos (da Abengoa)”, mas confirmou que participou de reunião sobre o assunto por ser um dos investidores mais relevantes em energias renováveis no Brasil.
– Qualquer discussão sobre a rede de transmissão do país é relevante para o negócio e as operações locais da EGP – afirmou em nota a companhia italiana.
A Abengoa informou, também em nota, que “está em contato permanente com as autoridades locais e em busca de uma solução para os empreendimentos em desenvolvimento no país”.
Segundo a companhia espanhola, os esforços estão concentrados na busca de uma saída que “permita retomar os projetos, minimizar impactos e alcançar uma solução adequada para todas as partes interessadas afetadas pela situação atual”.