Por Redação, com ABr – de Ljubljana, Eslovênia:
O governo da Eslovênia anunciou que poderá tomar medidas de urgência para reforçar a proteção da fronteira com a Croácia, por temer que nova onda de migrantes crie uma situação politicamente intolerável no país.
Em comunicado divulgado ontem à noite, o governo da Eslovênia anunciou que “preparou medidas suplementares de urgência para gerir o fluxo de migrantes, incluindo as necessárias para a proteção das fronteiras [do espaço] Schengen (que permite a livre circulação de pessoas dentro dos países)”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Eslovênia, Karl Erjavec, declarou que entre 20 mil e 30 mil imigrantes que se dirigem à Europa Ocidental poderiam chegar esta semana às fronteiras do país, que são parte das fronteiras do espaço Schengen.
– Se for preciso, as medidas serão concretizadas nos próximos dias – acrescentou o governo no texto, sem explicar porém em que consistem.
A cadeia privada de televisão POP TV informou, citando fontes governamentais, que foi decidida a construção de uma barreira de arame farpado na parte da fronteira com a Croácia, de 670 quilômetros, pela qual passou a maior parte dos 167 mil imigrantes que chegaram à Eslovênia em um mês.
A Hungria já fechou duas fronteiras aos migrantes, a da Croácia e da Sérvia, com a instalação de dezenas de quilômetros de barreiras de arme farpado.
Mais de 750 mil refugiados e imigrantes já entraram desde o início do ano na Europa, segundo a Organização das Nações Unidas, que prevê a chegada de mais 600 mil pessoas no continente nos próximos quatro meses, por meio da Turquia.
Casas para refugiados
A crise dos refugiados enfrentada pela Alemanha entrou na rota das exportações brasileiras. A MVC Plásticos, empresa baseada em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, começará a exportar na semana que vem casas pré-fabricadas que devem abrigar algumas das milhares de pessoas que buscam asilo na Alemanha.
O kit da primeira unidade vai ser despachado na próxima quinta-feira por via aérea e montado na cidade de Bremen, no noroeste do país. A empresa espera que, em 2016, o total de casas exportadas chegue a 1.200 unidades, num negócio que deve render R4 65 milhões.
As casas, que têm 64m² e dois dormitórios, são baseadas em chapas de compósitos e fibra de vidro. Elas serão adquiridas pelo consórcio alemão AMD, baseado em Bremen, que pretende revendê-las para empresas alemãs interessadas em doar as unidades para prefeituras e governos estaduais. Futuramente, a AMD espera negociar diretamente com as autoridades a venda das casas pré-fabricadas. O material usado é semelhante ao de trailers e turbinas eólicas.
De acordo com o diretor-geral da MVC, Gilmar Lima, a primeira casa exportada servirá de “cobaia” para avaliar a necessidade de eventuais modificações. Os kits já sofreram várias adaptações para se adequar ao clima europeu. “Tivemos que modificar algumas coisas, como reforçar o teto por causa do acúmulo de neve e adequar o layout ao gosto dos alemães”, afirma Lima. A empresa já exportou casas do mesmo modelo para Angola, Moçambique e Venezuela.
A primeira unidade será montada por uma equipe de técnicos brasileiros, em até 15 dias. O plano prevê que operários alemães sejam treinados para montar as unidades que serão exportadas em 2016. Após o período de testes, que também deve durar 15 dias, a previsão é que seja exportado um lote inicial de 40 casas. A partir de março, cem casas por mês deverão ser enviadas do Brasil para a Alemanha. A AMD não revela onde as casas serão distribuídas.
– Como prevemos que a demanda para casas de refugiados não deve diminuir tão cedo, estamos estudando aumentar a capacidade para eventualmente exportar até 400 casas por mês – afirma Lima, da MVC.
Cada unidade vai custar 13.800 dólares (cerca de R$ 52 mil) na fábrica brasileira. Além de paredes, forro e teto, os kits já incluem as instalações hidráulicas e elétricas. O acabamento final, que inclui janelas, portas e outros itens, vai ser fornecido por empresas alemãs, o que deve elevar o valor de cada unidade para 25 mil dólares (R$ 95 mil ). A empresa afirma que as unidades são capazes de resistir por anos sem muita manutenção.
Segundo o diretor da MVC, empresa controlada pela Artecola Química e pelo grupo Marcopolo, o interesse pelas unidades brasileiras surgiu na Alemanha em parte devido à alta do dólar, que tornou o produto mais competitivo perante concorrentes da Turquia e da China.
O negócio envolvendo os refugiados é visto como um alívio para a empresa, que teve receitas de R$ 670 milhões em 2014, mas espera registrar pouco menos da metade disso em 2015 por causa da retração do mercado brasileiro de componentes automotivos e da construção de unidades para programas como o Minha Casa, Minha Vida, que vem sofrendo cortes.
Crise
Oficialmente, o governo alemão espera receber 800 mil solicitantes de asilo em 2015, principalmente refugiados que fogem das guerras na Síria e no Iraque e imigrantes que deixam seus países por razões econômicas, especialmente pessoas originárias dos Bálcãs.
A maioria dos que fogem do Oriente Médio tem grande chances de conseguir o documento de permanência. Já os imigrantes econômicos têm poucas chances de ficar na Alemanha, só que, até que seus casos sejam analisados (o que costuma demorar semanas), eles têm uma permissão temporária para permanecer no país.
Várias prefeituras e governos estaduais afirmam que estão sobrecarregados com as tarefas de abrigar e alimentar os recém-chegados. Algumas cidades estão tendo que improvisar abrigos e instalações. Em Berlim, um terminal do antigo aeroporto de Tempelhof foi convertido num dormitório para mil pessoas. Outras cidades, como Hamburgo, armaram barracas para abrigar famílias.
O temor é que, com a chegada do inverno, muitas dessas instalações provisórias se revelem inadequadas. Segundo um levantamento realizado em outubro pelo jornal Die Welt, pelo menos 42 mil refugiados estão abrigados em barracas instaladas em acampamentos improvisados por prefeituras e governos estaduais da Alemanha.
Algumas empresas alemãs já entraram no negócio de fornecer casas e alimentação para refugiados. Entre elas está a European Homecare, que fechou contratos com prefeituras e fornece abrigo e comida para 15 mil refugiados. O governo alemão estima que vai gastar 6 bilhões de euros (R$ 24 bilhões) com os refugiados em 2015.