Gehe zum Inhalt

Correio do Brasil

Zurück zu CdB
Full screen Einen Artikel vorschlagen

Militar infiltrado na esquerda segue encoberto por comandantes

September 14, 2016 15:53 , von Jornal Correio do Brasil - | No one following this article yet.
Viewed 224 times

A atuação do militar infiltrado Pina Botelho resultou, no domingo, na prisão ilegal de manifestantes, na capital paulista

 

Por Redação – de São Paulo

 

O capitão William Pina Botelho, infiltrado em movimentos sociais contrários ao golpe de Estado, em curso no país, é alvo de um inquérito no Comando Militar do Sudeste (CMS), após denunciado em uma série de reportagens em sites, jornais e revistas do Brasil e do exterior, há mais de uma semana. Mas, até agora, o Exército Brasileiro (EB) não informou a patente exata do oficial, quem é o seu comandante imediatamente superior ou quaisquer outros detalhes acerca do processo a que responde, internamente. Segue com os detalhes de suas operações encobertos por seus superiores hierárquicos.

O capitão William Pina Botelho, militar infiltrado em movimentos sociais

O capitão William Pina Botelho, militar infiltrado em movimentos sociais

Na semana passada, em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército confirmou que Pina Botelho pertence ao quadro de oficiais do CMS e, depois desta informação, nenhuma outra foi adicionada, oficialmente. A reportagem do Correio do Brasil perguntou sobre o motivo que levou o EB a destacar um de seus capitães para a missão de espionar jornalistas, grupos de estudantes, midiativistas, sem-teto e sem terra, em protestos contra o presidente de facto, Michel Temer. Não obtivemos qualquer resposta, até o fechamento desta edição.

A atuação de Pina Botelho resultou, no domingo, na prisão ilegal de manifestantes, na capital paulista. Todos os presos já foram devidamente liberados, por ordem judicial. A 5ª Seção do CMS não soube responder, também, se o oficial agia em conjunto com a Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP). Resumiu-se a afirmar que “com relação aos fatos questionados, as circunstâncias estão sendo apuradas”.

Comunicação, porém, é um assunto difícil para o CME. Em sua página, na internet, publica o número do telefone de contato sem o código de área (11). Quem liga de qualquer outro Estado do país, termina por incomodar pessoas como Dnª Georgina que, no Rio de Janeiro, não se cansa de receber ligações por engano.

— Há mais de um ano virou esse problema. Tenho a linha há mais de 16 anos, mas de um ano para cá, o número de ligações erradas se multiplica — reclamou.

Agente desmascarado

Ao longo da última semana, as redes sociais e os principais veículos de comunicação do país e do exterior foram inundadas por matérias que denunciavam a infiltração de um agente das Forças Armadas em grupos de manifestantes em São Paulo. Disfarçado de “Balta Nunes”, o capitão Willian Pina Botelho teria passado informações que levaram à prisão de 21 jovens manifestantes. Sem qualquer motivo para a prisão, Pina Botelho e os demais agentes envolvidos na operação ilegal teriam utilizado do expediente de forjar flagrantes de porte ilegal de armas, como uma barra de ferro, antes mesmo de começar a manifestação do último dia 4, que levou mais de 100 mil às ruas da capital paulista.

“Botelho não se infiltrou somente em grupos de manifestantes que acabavam de se conhecer pelas redes sociais: sob o mesmo disfarce, o agente coletou por meses informações privilegiadas da frente Povo Sem Medo, que hoje reúne alguns dos mais importantes movimentos sociais do país, como Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Fora do Eixo e Mídia Ninja, Central Única dos Trabalhadores (CUT) e União Nacional dos Estudantes (UNE); além de militantes de partidos de esquerda como o PSOL e PCdoB, jornalistas e comunicadores, entre outras organizações sociais”, denunciou o coletivo Mídia Ninja, em nota distribuída nesta quarta-feira.

Ainda segundo o coletivo, “Botelho abordava diversas mulheres dos movimentos em conversas privadas pelo menos desde abril de 2015, e passou a ter acesso direto a informações do grupo após participar presencialmente do ‘Encontro dos Comunicadores Sem Medo’, realizado em junho deste ano na Casa Fora do Eixo, em São Paulo. Na ficha de inscrição, Balta alegava ser administrador e “contra o golpe”.

Nas mensagens privadas, Botelho deixava claro o interesse em questões estratégicas dos movimentos sociais e a determinação de conseguí-las através de seu relacionamento íntimo com militantes. No relato de ao menos cinco ativistas da Frente Povo Sem Medo, Botelho se utilizava de insinuações afetivas para se aproximar e obter informações, o que sempre causou estranhamento nas vítimas.

Rotineiramente perguntava sobre ações do MTST, encontros e atividades fechadas de redes como os Jornalistas Livres, a relação dos movimentos com o Governo Federal da Presidenta Dilma e chegou a saudar a atuação do Levante Popular da Juventude. Em certa mensagem a uma militante, afirmou: “É meu sonho conhecer a Florestan Fernandes. Vamos lá? Eu dirijo”, referindo-se à tradicional escola de formação do MST em Guararema, a 70km da capital paulista.

Foi dessa forma que teve acesso à convocatória do Encontro Comunicadores Sem Medo, uma imersão de jornalistas, designers, fotógrafos e midiativistas que reuniu em torno de 70 pessoas entre os dias 4 e 5 de junho. Segundo testemunhas, Balta teria participado dos dois dias do encontro e dormido na Casa Fora do Eixo. O capitão parece ser um mestre em fugir de registros fotográficos que possam comprometê-lo: surpreendentemente, ele aparece em apenas uma foto do evento, de costas, mesmo com centenas de imagens registradas ao longo do encontro.

Cantadas baratas

Passando-se por recém-chegado nos movimentos sociais, as primeiras interações do militar alegavam desentendimento das pautas e vontade de se somar à luta, como relata uma das envolvidas: “Ele costumava falar comigo perguntando o que eu achava sobre os acontecimentos políticos, assim como passou a acompanhar atividades que eu postava no meu facebook”, disse um dos interlocutores do militar infiltrado. Em seguida, o capitão dava início às investidas, assédios e tentativas de envolvimento emocional e afetivo com as mulheres, como ilustram as imagens a seguir, capturadas de conversas do capitão com cinco ativistas diferentes e embaralhadas por questões de segurança.

OBS: ‘Usuário de Facebook’ é o nome que permaneceu para as conversas com Balta após a exclusão de sua conta da rede. Todas as mensagens enviadas por ‘Usuário de Facebook’ nas imagens acima são, portanto, de autoria de Balta.

O agente chegou a oferecer auxílio financeiro inúmeras vezes a militantes, se propondo a comprar celular, pagar exames médicos e qualquer necessidade que fosse apresentada pelas mulheres como empecilho.

“Quando você olha pra mim, você se sente atraída?”, “você é muito bonita”, “estou esperando você aqui, enrolado no meu cobertor..” e “Você é bonita… não deveria ter o sentimento de oprimida”, eram mensagens comuns. Como se não bastasse a arbitrariedade e o abuso na inserção em espaços organizados dos movimentos sociais e a falsidade ideológica, ao que parece, o assédio e machismo foram práticas recorrentes do sistema de inteligência do Estado nesse caso.

Hoje reconhecido como agente infiltrado, Botelho logrou a inclusão de outro membro nos grupos, identificado inicialmente como “Fagner”. Em uma das mensagens, o agente fala de seu ‘companheiro’: “Tem um compa que tá querendo ir no ato da Dilma para ajudar a cobrir o evento”. No dia da manifestação, questionou: “O Fagner tá ai?”. A reportagem não conseguiu localizar informações ou imagens de Fagner, e suas contas nas redes sociais estão desativadas, assim como as de “Balta”. A única informação que há sobre ele é que esteve presente no ato de Dilma Rousseff no condomínio João Candido, São Paulo, no dia 8 de Julho, quando enviou imagens de cobertura no chat do movimento.

O juiz Rodrigo Tellini, responsável pela soltura de 18 dos jovens na segunda-feira, contatado por repórteres do coletivo Midia Ninja, informou que não foram citados possíveis infiltrados no inquérito. Embora o “flagrante” não fale sobre isso, pois só apura a conduta dos detidos, Tellini alertou que o caso deve ser denunciado e se dispôs a auxiliar no encaminhamento da denúncia. O deputado federal Ivan Valente (PSOL/SP) anunciou que vai entrar com um requerimento de informação exigindo das Forças Armadas explicações sobre a infiltração de agentes com o objetivo de monitorar movimentos sociais organizados. Valente comentou à reportagem sobre a gravidade do caso.

— A notícia é gravíssima e o Ministro da Defesa deve explicações à sociedade. A utilização de membros do exército para monitorar os protestos parece ter sido planejada com o propósito de reprimir, violentamente e sem ordem judicial, uma manifestação legítima. Essa prática, típica de regimes ditatoriais, é um grave ataque à liberdade de reunião e expressão e não pode ser permitida na democracia — afirmou o deputado.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, por sua vez, transferiu a responsabilidade sobre quaisquer explicações sobre os fatos ao EB.

Um ‘mala’

Não bastasse espionar os movimentos da esquerda brasileira, o falso militante Balta, também usava o aplicativo de paquera Tinder
Natural de Lavras (MG), Willian Pina Botelho formou-se em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ), ficou lotado inicialmente em Araguari (MG), onde organizava os leilões dos materiais, e concluiu o mestrado em Operações Militares na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, na capital carioca. Em 2013, com mais dois colegas, publicou na revista militar A Lucerna um artigo, A inteligência em apoio às operações no ambiente terrorista, em que alertava para “os riscos de ataques terroristas no Brasil”, apurou o diário espanhol El País.

Ainda segundo o jornal madrilenho, “o oficial vinha atuando em São Paulo pelo menos desde o ano passado. Durante esse tempo, morou em um prédio da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 3249, no apartamento 906, que está em nome do general de brigada Manoel Morata Almeida, primeiro comandante da Base e Administração e Apoio do Ibirapuera. Ali, os funcionários do prédio o conhecem pelo nome verdadeiro e sabem que Botelho trabalha para o Exército”.

Conhecidos do militar disseram aos jornalistas que ele nasceu em uma família humilde, mas os pais se esforçaram para matriculá-lo nos melhores colégios. Enfrentou duas tragédias: um câncer que levou sua mãe e o assassinato do irmão. Na sua lista de livros favoritos, biografias e obras cristãs se misturam a títulos sobre estratégias militares, como A utilidade da força – a arte da guerra no mundo moderno, de Rupert Smith, que ensina a a “combater inimigos sem uniforme” e “conquistar os corações e as mentes”.

“Na batalha pelos corações e mentes da militância de São Paulo, o capitão buscou se misturar aos ativistas deixando crescer barba e cabelo e tentando imitar os jargões do meio. A tentativa de  infiltração, porém, tinha lá as suas falhas. No aplicativo de paquera Tinder, ostentava uma frase falsamente atribuída a Karl Marx (“Democracy is the road to socialism”). E, falando com pessoas que conheceram Balta, a reportagem da Ponte.org teve a impressão de que o disfarce do capitão nunca fez muito sucesso. Nos seus melhores momentos, era visto como um iniciante. E, nos piores, como um ‘mala’ (pessoa extremamente aborrecida).

— Da primeira vez em que nos vimos, Balta disse que me conhecia do Facebook e começamos a conversar. Ele me pareceu uma pessoa de esquerda com posições moderadas, que estava começando na militância — conta um ativista de um movimento social.

No Tinder, em que o militar aparentemente tentava combinar diferentes tipos de infiltração, misturando paquera e busca de informações, os resultados podiam ser constrangedores.

— Há um tempo cruzei com esse cara no Tinder e realmente tinha me soado esquisito, meio forçado. Ele foi logo perguntando de uma conhecida em comum, que é bem militante. Achei bizarro e desconversei, nunca mais falei com ele — contou à Ponte.org uma servidora municipal.

O post Militar infiltrado na esquerda segue encoberto por comandantes apareceu primeiro em Jornal Correio do Brasil.


Quelle: http://www.correiodobrasil.com.br/militar-infiltrado-na-esquerda-segue-encoberto-por-seus-comandantes/

Rede Correio do Brasil

Mais Notícias