Por José Inácio Werneck, de Bristol, EUA:

Nos velhos tempos da revista O Cruzeiro, MillIôr Fernandes tinha duas páginas chamadas “Pif Paf” (depois transformadas em revista) e, nelas, a seção Ministério das Perguntas Cretinas .
Era como Millor fazia perguntas óbvias, irônicas, sarcásticas ou ultrajantes, que ninguém mostrava vontade de fazer, talvez por receio de parecer absurdo.
Tenho uma pergunta e ela diz respeito à imensa quantidade de e-mails que recebo com mensagens de ódio à Presidente Dilma Rousseff e aos muçulmanos em geral, mas especialmente aos que fogem da Síria e outros países do Oriente Médio para se refugiarem no Ocidente.
Minha pergunta é: por que nunca recebo mensagens assim contra o notório corrupto Eduardo Cunha e contra a política de ocupação dos territórios palestinos pelo Primeiro-Ministro israelense Benjamim Netanyahu?
Tais e-mails são sempre enviados a mim por representantes da classe média, classe média alta e classe rica no Brasil.
Eles se mostram contrários à ideologia do governo Dilma ( a quem, pejorativamente, sempre se referem como Dilmanta). Especificamente, são contra os programas sociais que procuram promover uma inclusão social e econômica.
A realidade mundial mostra que apenas as nações que promoveram a inclusão das classes mais baixas alcançaram seu pleno desenvolvimento econômico, pois aumentaram seu mercado interno.
Ao se colocarem com tanto ardor contra a inclusão econômica e social, e fecharem os olhos ao comportamento de um homem como Eduardo Cunha, a classe média, classe média alta e classe rica no Brasil estão mostrando visão estreita e atirando no próprio pé.
Mas, aparentemente, eles preferem ser privilegiados num pais subdesenvolvido, com corrupção, a serem mais iguais num país rico e menos corrupto.
Quanto à situacão na Palestina, a verdade é que, há décadas, o mundo ocidental pede que eles se comportem “com moderação”, dizendo que esta é a única maneira de um dia recuperarem os territórios perdidos e serem reconhecidos como nação.
José Inácio Werneck, jornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. Cobriu Jogos Olímpicos e Copas do Mundo no exterior. Foi locutor, comentarista, colunista e supervisor da ESPN Internacional e ESPN do Brasil. Colabora com a Gazeta Esportiva. Escreveu Com Esperança no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.
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