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Ministério Público obtém liminar contra Samarco

10 de Novembro de 2015, 10:20 , por Jornal Correio do Brasil - | No one following this article yet.
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Por Redação, com agências – de São Paulo/Mariana:

O Ministério Público Federal (MPF/ES) e o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) obtiveram decisão liminar que obriga a Samarco Mineração e órgãos de meio ambiente e saneamento a adotarem uma série de ações visando à produção e à conservação das provas necessárias para reparação pelos danos ambientais e danos morais coletivos causados no Estado por conta do rompimento das barragens situadas em Minas Gerais.

Equipe de resgate em área tomada pela lama de barragens da Samarco que romperam
Equipe de resgate em área tomada pela lama de barragens da Samarco que romperam

De acordo com a nota do Ministério Público, o rompimento das barragens, que destruições vilarejos, também comprometeu um dos mais importantes rios da região Sudeste, o Rio Doce. Na decisão, a Justiça obriga a Samarco a fornecer um helicóptero a partir das 7h desta terça-feira, às suas custas, para que a aeronave possa sobrevoar a porção capixaba do rio atingida pelos seus rejeitos, pelo tempo que autoridades julguem necessário, sob pena de multa diária no valor de R$ 50 mil por hora de atraso.

Sobreviventes

Praticamente todos os moradores do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), que sobreviveram ao rompimento de duas barragens na semana passada estão hospedados em hotéis e pousadas do município. A maior parte deles pode ser vista do lado de fora dos estabelecimentos, sentada nas calçadas, conversando na rua e tentando manter os costumes.

No centro movimentado de Mariana, quando conversam com a imprensa, eles deixam claro que pouco sabem sobre o futuro, já que a maioria perdeu tudo – casa, carro, móveis, documentos, fotos, memórias. Mas há uma unanimidade na fala de todos os que foram ouvidos pela equipe de reportagem da Agência Brasil: querem reerguer a comunidade num cantinho só deles, como um dia foi o distrito carinhosamente chamado de Bento.

– A saudade é demais. É o que mais incomoda a gente. Não ter pra onde voltar é muito ruim – desabafou a dona de casa Edna Aparecida Euzébio, 34 anos. Ela, o marido e três filhas moravam numa casa de três quartos no povoado, que foi arrasado pela lama e pelo barro. A família costumava ir até Mariana apenas para pagar contas e cumprir um compromisso ou outro, nada mais.

– Lá era tranquilo demais. A gente dormia com as portas abertas, papeava na porta de casa, jogava truco até mais tarde. Não foi só a casa que perdemos. Perdemos toda uma vida, a nossa história, os nossos costumes. E agora queremos um lar, não um quarto de hotel.

Sem conseguir evitar de ouvir a conversa, o encarregado José Luiz da Silva, de 44 anos, concorda com tudo o que a dona de casa diz. Depois da tragédia, ele sequer tentou buscar o que poderia ter sobrado de suas coisas em Bento Rodrigues, porque viu pela televisão que só a estrutura da casa permaneceu de pé.

– Não tenho vontade de voltar lá não, mas tenho uma saudade danada de casa. É uma mistura de emoções muito fortes. Do tipo quero voltar, mas não quero – disse, numa tentativa de explicar o que sente. José destacou ainda o medo, compartilhado por muitos da comunidade, em relação à barragem de Germano, da mesma mineradora, que permanece cheia.

– Há mais coisa lá em cima. E se essa barragem também se romper? Não quero voltar pra lá. Quero uma vida nova, num lugar diferente, mas fora do centro urbano. Já viajei muito, já fiquei em muito hotel, mas meu lugar não é aqui nessa pousada. É lá. Era lá. Agora não sei mais.

O servente Paulo Madalena Fernandes, 56 anos, morava sozinho em uma casa de quatro quartos em Bento Rodrigues. A casa era da mãe dele, repleta de lembranças e memórias que não vão ser mais recuperadas. Quando as duas barragens de romperam, Paulo estava em casa. Correu como nunca. Passou a noite na mata até que foi resgatado e levado para uma pousada da cidade.

– Dentro de hotel, não aguento ficar. Venho sentar aqui fora, papear. Perdemos muita memória e muita lembrança e isso ninguém consegue dar de volta. É por isso que queremos uma nova vila, longe da cidade, como era antes. Só assim pra conseguir recomeçar a vida.

Resgate

O capitão Rafael Cosendey, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, não deixa o distrito de Bento Rodrigues, Mariana (MG), desde a última quinta-feira, quando duas barragens se romperam e a comunidade foi atingida pela lama. No local da tragédia, ele coordena as operações de busca e resgate. Já ajudou a salvar a vida de animais presos no barro, a encontrar documentos em casas enlameadas e a recuperar corpos encontrados na região.

Ao detalhar o trabalho dos militares no local, ele explica que foi definida uma rotina de turnos para que os homens não cheguem à exaustão. “Se os 40 militares que temos hoje tentarem trabalhar das 8h às 18h, não vão conseguir. Por isso, a gente tem que fazer o revezamento, pra poder dar sequência e fazer com que o serviço renda mais.”

De acordo com o capitão, o monitoramento da Barragem de Germano, que permanece intacta e cheia de resíduos, está sendo feito 24 horas por dia. Um posto de comando foi fixado dentro da mineradora responsável pelas atividades na região, a Samarco, e está conectado com a base em Bento Rodrigues por meio de uma sirene.

– Temos as viaturas e todo um plano de segurança, principalmente para os militares que trabalham ao longo do dia. Há um plano de evacuação e uma rota de fuga. Temos sinais sonoros que a gente utiliza para que os militares evacuem, se houver necessidade. O caminho é pela rota que está sendo feita por vocês agora.

Cosendey lembrou que alguns moradores e parentes de pessoas que continuam desaparecidas estão sendo chamados a retornar à comunidade, numa tentativa de buscar todas as ferramentas possíveis para direcionar o trabalho das equipes. “Num evento de grande magnitude como esse, onde há um território imenso para ser feita a busca, a gente vai juntando o histórico e a narrativa das pessoas, onde ficava cada residência, árvore, praça, rua.”

No momento em que a equipe de reportagem estava no local da tragédia, o pai do menino Thiago Damasceno Santos, de 7 anos, auxiliava os homens na busca pela criança, que continua desaparecida desde o rompimento das barragens. Horas antes, militares haviam encontrado indícios que apontavam que o quarto do menino poderia estar ali, soterrado pela lama. Segundo o capitão, foram encontrados troféus ganhos na escola e roupas infantis.

Com esse tipo de referência e com as ferramentas estratégicas utilizadas pela equipe de busca e resgate, como cotas altimétricas, cartas topográficas e coordenadas geográficas do povoado, além do uso de aeronaves, as buscas são facilitadas.

– Queremos acelerar esse trabalho porque a gente sabe que as pessoas estão sofrendo demais com a situação e todo esse desastre. Apesar de estarmos preparado, mexe muito com todos nós. A gente se esforça na tentativa de dar um alento para essas famílias – concluiu Cosendey, antes de retirar repórteres, fotógrafos e cinegrafistas do local diante da iminência de uma forte chuva na região.

 


Fonte: http://correiodobrasil.com.br/ministerio-publico-obtem-liminar-contra-samarco/

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