Uma das dificuldades enfrentadas atualmente pelos sindicatos verticalizados é a falta de sustentação organizada na base de cada local de trabalho.
Por Maria Fernanda Arruda – do Rio de Janeiro
Os caminhoneiros rejeitam a representação sindical existente; aliás, na área de transporte de cargas e passageiros, os dirigentes das entidades sindicais costumeiramente convocam paralisações conluiados com o patronato quando estes demandam aumento do valor das tarifas e dos preços dos fretes.
Há exceções, mas insuficientes para moldar forças capazes de romper o cerco dos rumos ditados pelas regras. Este painel reduz a representatividade da imensa maioria das direções ao burocratismo imposto pela vinculação e submissão ao Estado a que se sujeitam como se tivessem sido nomeadas para um subtipo de autarquia.
Isto não aconselha o simplismo de abandonar o que existe e é real para, na contramão, cair na armadilha das organizações paralelas, experiência levada a cabo com efeitos desastrosos em tempos não muito distantes; é ao contrário um campo a ser disputado e um espaço a ser ocupado pelos que realmente são leais aos trabalhadores.
Delinquentes
Uma das dificuldades enfrentadas atualmente pelos sindicatos verticalizados é a falta de sustentação organizada na base de cada local de trabalho e a ausência de práticas em que a representatividade seja submetida ao controle direto e democrático dos representados. Somam-se a isso outros fatores:
1) – a subordinação da pauta de reivindicações dos trabalhadores aos ditames das resinas impregnadas nas esteiras de governabilidades, talvez a causa maior da perda de credibilidade das direções, inclusive as mais leais aos trabalhadores, quando ousam convocar atos de avanço nas conquistas ou resistência no campo dos direitos e interesses de classe;
2) – Ingrediente inseparável da democracia, a exposição das feridas e das fraturas conduz à sintetização, solução insubstituível por receitas lenientes e meramente protelatórias ou internações nos remédios delinquentes das conciliações. A composição de conflitos é a síntese própria de um sistema democrático de relações entre camadas sociais colidentes.
Compor conflitos é afastá-los das areias movediças da irracionalidade para as seguras margens das soluções duradouras; conciliar é dissimular, usar o disfarce do espelho d´agua para encobrir violações e desregramentos abaixo das superfícies do avesso, não é, portanto, uma ação digna de um Estado que se proclama Democrático e de Direito.
Pântanos
3) – o abandono material das propostas de combate à exploração da força de trabalho e contra a opressão da inexistência de garantia de emprego. , As propostas de conciliação de conflitos inerentes a relações contraditórias subtraem dos trabalhadores as possibilidades de construção de uma sociedade mais justa, mais humana, menos desigual e inteiramente solidária.
Os sonhos, como as paixões, são materiais a ser despertados dos redutos da intimidade para a configuração de um novo modo de viver. Ingrediente inseparável da democracia, a exposição das feridas e das fraturas permite sintetizá-las em sintonia com os elementos inseparáveis as necessidades insubstituíveis por receitas meramente protelatórias ou internações nos pântanos dos remédios delinquentes das conciliações.
Maria Fernanda Arruda é escritora e colunista do Correio do Brasil.
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