A recente adoção de um teto para limitar a expansão dos gastos do governo está longe de ser uma solução. Para deter o rombo nas contas públicas, segundo o Credit Suisse, será preciso aumentar impostos
Por Redação, com agências internacionais – de São Paulo
Ou o país alcança um aumento na arrecadação de impostos ou o rombo nas contas do setor público realizará um deficit menor apenas do que o da Venezuela, entre 2015 e 2018. Um estudo inédito do Credit Suisse, com dados de 68 países, divulgado nesta terça-feira, reforça a tese dos partidos de esquerda quanto à incapacidade de um governo de exceção resolver a crise econômica.

Ao lado de Henrique Meirelles, da Fazenda, o presidente de facto, Michel Temer, precisará aumentar impostos, para deter o déficit público
A recente adoção de um teto para limitar a expansão dos gastos do governo está longe de ser uma solução para o rombo nas contas públicas, segundo o Credit Suisse. A possível aprovação da reforma da Previdência também será insuficientes para evitar o aumento no déficit público, acrescenta a pesquisa.
Déficit impressionante
Na véspera, a agência Fitch alertou para o risco de rebaixamento da nota soberana de crédito do Brasil. A medida ocorrerá, caso o governo não adote medidas extras para conter a expansão da dívida pública.
Nos cálculos do banco suíço, se não houver um ajuste, via aumento de impostos, o deficit nominal (diferença entre receitas e despesas) do Brasil será de 9,5% do Produto Interno Bruto (PIB), em média, entre 2015 e 2018.
Nas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI, o déficit nominal da Venezuela será de 24,7% do PIB, no mesmo período. Outros países em situação econômica crítica, a exemplo da Grécia, Espanha e Portugal, não tiveram um deficit tão impressionante quanto o brasileiro.
Com a trajetória de gastos prevista pelo banco, a dívida chegará a 99% do PIB em 2024. Essa projeção considera saída da recessão em 2017 e expansão média de 2% ao ano nos dez anos seguintes.
Mais impostos
O relatório, ainda mais pessimista, conclui que o desafio de equilibrar as contas do governo é extremamente alto. Embora haja uma aparente calmaria no mercado financeiro, as correções necessárias podem não resolver o drama econômico do Brasil. Pode ser tarde demais até para subir os impostos, aponta o estudo.
Ainda que este e o próximo governo mantenham-se dentro do limite de expansão de gastos e a reforma da Previdência seja aprovada, a dívida pública pararia de crescer apenas na metade da próxima década. Na avaliação do banco, é muito perigoso calcular as diretivas em um prazo tão alongado.
O banco levantou dados de 191 países desde 1980. Verificou, dentre todos eles, que apenas em 24 países permaneceram quatro anos seguidos com deficit acima de 9% do PIB. Um deles é o Brasil. Em apenas sete casos, o deficit ficou acima de 6% por 11 anos, como pode ocorrer com o país entre 2014 e 2025.
Obstáculos
A saída, na avaliação do banco, é antecipar os efeitos do ajuste da próxima década. E aplicar um aumento de impostos imediato e provisório.
A necessidade da adoção de medidas para reduzir a gravidade do quadro fiscal tem ganhado defensores nas últimas semanas. O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que apoiou a deposição da presidenta Dilma Rousseff, tem dito em ambientes empresariais que o governo precisa cortar gastos imediatamente. E fazer algum ajuste na carga tributária.
Para a agência de classificação de risco Fitch Ratings, o cenário econômico do Brasil melhorou com a queda da inflação. Mas a queda na confiança de empresários, o endividamento ainda elevado de consumidores e o desemprego alto são obstáculos gigantescos para a recuperação econômica brasileira.
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