Em 1946, Jean Paul Sartre publicava A Questão Judía apontando para o perigo em tomar-se o antissemitismo como uma opinião. Esse é o caminho que permite, sob alegação da “liberdade de expressão”, a legitimação do preconceito
Por Maria Fernanda Arruda – do Rio de Janeiro
Opiniões antissemitas, ou, genericamente, opiniões preconceituosas, tendem a minimizar o problema. Pois é como se as opiniões equivalessem a gostos e todas pudessem ser, “democraticamente”, aceitas. Tomar o preconceito como opinião é torná-lo inofensivo, pois, “gostos, cores, opiniões não se discutem”, escreve Jean Paul Sartre em A Questão Judía.
Em 1946, Jean Paul Sartre publicava A Questão Judía apontando para o perigo em tomar-se o antissemitismo como uma opinião. Esse é o caminho que permite, sob alegação da “liberdade de expressão”, a legitimação do preconceito. O antissemitismo é um fenômeno político-social.
Hipotético passado
Freud pode ser lembrado, no seu texto Psicologia das Massas, quando pondera que, como membro de uma massa, o indivíduo perde a sua personalidade consciente, sufocada pelo inconsciente. Torna-se crédulo, facilmente influenciável e acrítico. A massa não procura verdade, sujeitando-se ao poder mágico das palavras, sedenta de ilusões.
A massa deseja ser conduzida. O antissemitismo alemão, no Segundo Reich, e sob Hitler, deve ser entendido assim,como comportamento de uma massa desesperançada. Atraída pela ilusão de uma vida materialmente segura e que aceita ser acalentada por uma palavra, de sons, cores,estandartes, de apelo a um hipotético passado de glórias medievais resgatadas aos sons de Wagner, da batida das botas de cano-alto, arrematando uniformes maravilhosos, e que marchavam a passo-de-ganso.
O expressionismo irracional das tropas nazista provocou o Holocausto, que não foi esquecido, é sempre lembrado, descrito, e que permanece em grande parte desentendido. Como a História não se repete, o antissemitismo alemão foi fenômeno único, em seus limites de tempo e espaço, não cabendo comparações com pretéritas perseguições aos judeus.
Sociedade massificada
Existe o perigo de um renascer do nazismo?
Pequenos grupos que se intitulam neonazistas, trajando-se de negro e cultuando a cruz gamada, vivem de fato o drama da violência urbana. Fenômeno de escala mundial, cultores da violência pelo prazer sádico da violência. Um problema de polícia, não um questionamento político. Nos tempos que estamos vivendo, o perigo imenso é outro: o que temos é uma sociedade, espalhada por todas as partes do mundo. Massificada, exatamente nos termos identificados por Freud. Acuada pelo medo ensinado pelo marketing político e que alimenta o pânico de cérebros vazios, substituídos pelo mundo de vontades inconscientes. Orientadas para o consumo extremo que transformou pessoas em produtos consumíveis, comestíveis. As massas são conduzidas, estão vivendo novos tempos e novos espaços.
Isso tem a ver com o Brasil de hoje? Tem e muito. A propaganda promovida por uma imprensa corrompida ao máximo cria o medo, o terror, o inimigo comunista, o inimigo que quer empobrecer a todos. O partido político que diz lutar pelos operários. A fanatização, que transforma o povo. Essa é a grande arma das elites burguesas.
E não se pode tolerar isso por medo. A retórica que fanatiza não é opinião a ser respeitada em nome da liberdade que ela extingue.
Paz, para o ano que chega.

Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil.
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