Por Redação, com DW – de Paris:
A polícia de Paris fez nesta quarta-feira uma operação em Saint-Denis, no norte da capital francesa. De acordo com os agentes, o objetivo era a captura do suposto cérebro dos atentados da última sexta-feira, o belga Abdelhamid Abaaoud, de 27 anos.
De acordo com a polícia, dois suspeitos morreram na operação, incluindo uma mulher que detonou uma vestimenta com explosivos. Ao menos cinco policiais ficaram feridos e três pessoas foram presas no apartamento. Além disso, um homem e uma mulher foram detidos nas proximidades do local.
Segundo as autoridades, o alvo da operação era um grupo de cerca de cinco pessoas que estavam entrincheiradas num apartamento em Saint-Denis, mesma região onde fica o estádio Stade de France, um dos alvos dos ataques. Uma delas era Abaaoud, e elas estavam fortemente armadas, segundo policiais.
A área onde ocorreu a operação policial foi interditada. Houve tiroteios, e cinco policiais ficaram feridos. Os disparos, que começaram por volta das 4:30 (horário local, 1:30 em Brasília), aconteceram junto à praça Jean Jaures, muito próxima da histórica basílica gótica onde estão enterrados vários reis franceses.
Moradores das área disseram ter ouvido várias explosões no meio da madrugada, seguidas de uma intensa troca de tiros de cerca de uma hora. Cerca de duas horas depois do início da operação, novamente foram ouvidas várias explosões, que pareciam ser de granadas.
A operação durou cerca de sete horas.
Suspeito de arquitetar os ataques
De acordo com fontes ouvidas pelas agências inglesa de notícias Reuters e AFP, trata-se de Abdelhamid Abaaoud, de 27 anos, que integra as fileiras do Estado Islâmico na guerra civil que assola a Síria desde 2013, sob o nome de Abu Omar al-Baljiki.
Com ascendência marroquina e nascido em Moleenbeck, na região metropolitana de Bruxelas, Abaaoud é um velho conhecido da imprensa belga. Em 2014, ele foi tema de diversas reportagens locais ao recrutar seu irmão caçula, de 13 anos, para se juntar ao EI na Síria.
O caso provocou comoção no país, que apelidou o adolescente de “o mais jovem jihadista na Síria”. Em julho, Abaaoud foi julgado por uma corte belga e condenado à revelia a 20 anos de prisão por recrutar combatentes para as fileiras do EI.
Ele também apareceu recentemente em um vídeo divulgado pelo EI conduzindo uma picape que carregava quatro corpos mutilados em uma área dominada pelo grupo.
Em fevereiro de 2015, a revista Dabiq, um dos veículos de comunicação do EI, publicou uma extensa entrevista com Abaaoud na qual ele declarou ter planejado ataques na Bélgica. Em um vídeo divulgado em 2014, Abaaoud declarou: “por toda a minha vida eu vi o sangue dos muçulmanos ser derramado. Eu rezo para que Alá destrua e extermine todos que se oponham a ele”.
Em janeiro deste ano, Abaaoud já havia sido apontado por autoridades belgas como um dos chefes da célula terrorista de Verviers (leste da Bélgica) que foi desbarata em uma operação policial. Na ocasião, dois suspeitos foram mortos.
De acordo com a revista francesa Le Nouvel Observateur, a polícia francesa já conhecia Abaaoud. O nome ele apareceu em diversas investigações. Em agosto deste ano, um homem identificado como Reda H. foi preso pela polícia do país após voltar da Síria. Em depoimento, ele contou que havia recebido a missão de atacar uma casa de concertos na França e apontou que o plano fora arquitetado por Abaaoud.
Ainda segundo a imprensa francesa, o nome de Abaaoud apareceu nas investigações de outros atentados frustrados, como o de um ataque a uma igreja de Villejuif em abril, na ocasião, um terrorista argelino que planejava chacinar membros de uma congregação matou uma mulher, mas não conseguiu seguir com o ataque após atirar acidentalmente no próprio pé.
Autoridades afirmaram que Abaaoud foi também citado nas investigações do ataque, em agosto, ao trem de alta velocidade Thalys, que fazia a rota Amsterdã-Paris. O ataque foi impedido por um grupo de passageiros que dominou um terrorista armado com um fuzil.
O Le Nouvel Observateur cita ainda que Abaaoud manteve contato com Mehdi Nemmouche, o atirador do Museu Judaico em Bruxelas, em maio do ano passado e que ele conhecia pessoalmente um dos irmãos Abdeslam, que são suspeitos de participação nos ataques em Paris.