O governo imposto tem enfrentado dificuldades para aprovar medidas de ajuste fiscal no Congresso Nacional, como a renegociação da dívida dos Estados, com resistência sobretudo dos governadores do Norte e Nordeste, que pedem mais concessões
Por Redação – de Brasília e São Paulo
Presidente de facto após o golpe parlamentar, jurídico e midiático, em curso, Michel Temer convocou reunião na residência dele, nesta sexta-feira, com os ministros provisórios da Fazenda, Henrique Meirelles, do Planejamento, Dyogo Oliveira, e da Casa Civil, Eliseu Padilha; além de aliados no Congresso. Fez 100 dias, nesta sexta-feira, que a presidenta Dilma Rousseff foi afastada do governo.

Ao completar 100 dias de ruptura democrática, o presidente de facto, Michel Temer, reúne-se com colaboradores
Segundo o deputado André Moura (PSC-SE), líder do governo na Câmara, a reunião busca definir uma estratégia para a aprovação do ajuste fiscal, com a participação dos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do líder do governo no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP), e das cúpulas do Banco Central, Banco do Brasil e do BNDES.
O governo imposto tem enfrentado dificuldades para aprovar medidas de ajuste fiscal no Congresso, como a renegociação da dívida dos Estados, em que pese a resistência dos governadores do Norte e Nordeste, contrários ao golpe de Estado. Na extrema direita, principal esteio do governo junto aos segmentos econômicos, apesar do respaldo ainda vigente, a paciência se esgota. Os investidores esperam que, uma vez consolidado o golpe após o impeachment da presidenta Dilma, previsto para o final deste mês, Temer e sua equipe comecem a entregar efetivamente as medidas econômicas consideradas necessárias, tais como o fim do 13º salário, das férias remuneradas e do FGTS, entre outros direitos trabalhistas, sem contar a privatização de empresas públicas como a Petrobras e a Eletrobras.
Duas fontes palacianas confidenciaram ao Correio do Brasil nesta manhã, sob a condição de anonimato, que a reunião desta sexta-feira serviria para agilizar a votação do projeto de renegociação da dívida dos Estados e aumentos salariais, que são cruciais para a elaboração do Orçamento de 2017. Para tanto, disseram as fontes, será necessário o fim do impasse com Estados do Nordeste. A Desvinculação de Receitas da União (DRU) também constaria do pacote.
Temer volta
atrás, de novo
Nestes 100 dias de ruptura do regime democrático, uma semana depois de o governo anunciar a recriação do Ministério do Desenvolvimento Agrário a partir de setembro, a pasta — que passou a ser órgão subordinado à Casa Civil após a instituição do governo golpista — poderá ser absorvida no Ministério do Desenvolvimento Social. Pesam no recuo de Temer as críticas à falta de enxugamento da máquina administrativa. Em maio, ele anunciou que cortaria mais de dez ministérios, mas foram apenas seis até o momento.
Com a recriação do MDA, seu governo passaria a ter 27 ministérios, apenas cinco a menos que o da presidenta Dilma Rousseff. Anunciada pelo ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), a recriação do órgão gerou reclamações de PSDB e DEM, principalmente. Os dois aliados acharam “inoportuno” e sinal de que o governo interino “se movimenta em direção ao aplauso fácil”.
Este, porém, está longe de ser o último recuo do governo instalado após votação, na Câmara, sob a presidência do deputado afastado Eduardo Cunha, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por formação de quadrilha, evasão de divisas e corrupção, entre outros crimes. O governo Temer) chegou ao seu centésimo dia, nesta sexta-feira, em meio a polêmicas, vacilos e um programa que difere totalmente daquele pelo qual a chapa que ele integrou nas eleições de 2014 foi eleita.
Iniciado com uma série de tropeços, com recuos sobre extinção de ministérios, ampliação do rombo fiscal e em meio ao escândalo das gravações do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que levou a queda de três ministros, o peemedebista foi alvo, ao longo deste tempo, de protestos em todo o país. A expressão #ForaTemer! invade as redes sociais e se transformou em cumprimento, repetido à exaustão: “Primeiramente, Fora Temer”. Na abertura dos Jogos Olímpicos, há duas semanas, foi vaiado no Maracanã. Tal fato fez com que ele desistisse de participar do encerramento do evento.
Os investidores também já sinalizam com desconfiança para a gestão golpista, embora a mídia conservadora mantenha a tendência de desaparecer com os fatos desagradáveis que marcam a gestão do ex-vice-presidente paulista
Principais fatos em 100 dias
Ministros afastados
A divulgação das gravações de Sérgio Machado com políticos derrubou os ministros Romero Jucá (Planejamento), Fabiano Silveira (Transparência) e Henrique Eduardo Alves (Turismo). Os áudios evidenciaram que o golpe contra Dilma Rousseff tinha o objetivo de enfraquecer a Operação Lava Jato.
Gastança desenfreada
Temer fez passar pelo Congresso um projeto que ampliou o déficit fiscal do país para R$ 170 bilhões. Com rombo de R$ 170 bi, Temer autoriza aumentos de servidores A presidente Dilma Rousseff denunciou o rombo. O mercado já sinaliza que o cheque em branco concedido ao presidente interino está com os dias contados.
Vacilo em cima de vacilo
Ao assumir o governo, Temer extinguiu o Ministério da Cultura. Após muitos protestos, desiste da ideia e recriou a pasta. O presidente interino, que acabou com a pasta do Desenvolvimento Agrário, após ser ameaçado pelo deputado Paulinho da Força, decidiu criar uma Secretaria Especial (aqui) e prometeu devolver o status de ministério ao órgão após a votação do impeachment.
Agenda conservadora
Temer quer impor um limite de gastos, pelos próximos 20 anos, para áreas essenciais como Saúde e Educação, além de defender flexibilização das leis trabalhistas e mudanças na Previdência, com aumento da idade para aposentadoria. As propostas enfrentam resistências no Congresso.
Fora Temer
Protestos contra Temer ocorrem diariamente em todo o país. Por isso, ele não tem participado de agendas públicas. Inclusive, já avisou que não irá ao encerramento dos Jogos Olímpicos, após ser vaiado na abertura da Rio 2016. O governo até tentou calar as manifestações no evento, mas não conseguiu. No último dia 9, manifestações contra Temer ocorreram em várias partes do país.
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