Ir para o conteúdo

Correio do Brasil

Voltar a CdB
Tela cheia Sugerir um artigo

Os malditos emails de Hillary Clinton

1 de Novembro de 2016, 20:25 , por Jornal Correio do Brasil - | No one following this article yet.
Visualizado 114 vezes

Para trás ficaram os abusos sexuais de Donald Trump, suas bancarrotas, seus contos do vigário (como a “Trump University”), suas fraudes no não-pagamento de impostos, seu racismo, sua xenofobia. Suas  acusações de que a mídia é dominada por judeus, enquanto seus correligionários entoam “Jews-S-A”, num trocadilho com o conhecido cântico “U.S.A.”,  dos estádios esportivos.

Por José Inácio Werneck, de Bristol, EUA:

O FBI entrou na campanha eleitoral americana em favor de Donald Trump

O FBI entrou na campanha eleitoral americana em favor de Donald Trump

Uma cena que não me sai da memória ocorreu no primeiro debate entre Hillary Clinton e Bernie Sanders, quando se disputavam as primárias do Partido Democrata.

O moderador (Anderson Cooper, da CNN) perguntou a Hillary sobre os e-mails que ela enviara de um provedor particular enquanto Secretária de Estado.

Era um procedimento irregular, pois uma Secretária de Estado (como de resto, qualquer funcionário do governo) deve utilizar os e-mails de seu Departamento sobre assuntos de serviço.

Hillary deu sua desculpa costumeira: tinha sido um erro, ela não repetiria, os assuntos não afetavam a segurança nacional, etc.

Anderson Cooper passou a bola a Bernie Sanders:

“Não quero ouvir falar dos malditos e-mails” – rebateu o Senador.

A plateia, toda democrata, aplaudiu de pé (me lembro  especialmente do pastor e líder político negro Jesse Jackson). Hillary Clinton estendeu a mão a  Bernie Sanders, por pouco não o abraçava no palco.

Em vez de aproveitar a brecha, o Senador chutara para escanteio, como se o assunto não tivesse a menor relevância. Ele queria falar de educação, globalização, perda de empregos, a desigualdade social, mudanças climáticas, coisas que considera realmente importantes.

Mas de repente, a dias da eleição, com Hillary candidata democrata, Trump candidato republicano e Bernie Sanders no desvio, não se fala em outra coisa a não ser nos malditos e-mails.

Sanders tinha razão: os e-mails são muito menos importantes do que educação, globalização, desigualdades sociais, desemprego, mudanças climáticas.

Mas o diretor do FBI, James Comey, republicano, jogou tudo para o ar ao informar aos Comitês do Congresso (todos eles chefiados por republicanos) que está estudando outra vez os e-mails de Hillary Clinton.

E-mails que ele, em julho, havia declarado não se constituírem em procedimento criminoso, dignos de uma denúncia à Justiça.

Naquela ocasião, Comey acrescentara, numa afirmação  que muitos julgaram estranha e fora de seu âmbito,  por se constituir em opinião, não em fato: “eles mostram porém muita negligência”.

Agora, num procedimento muito mais estranho, Comey diz  estar estudando outra vez o assunto por ter sabido que Huma Abedin, a Assistente Pessoal de Hillary Clinton, tinha uma grande quantidade desses e-mails em seu laptop. Laptop doméstico, ao qual seu marido, o ex-deputado Anthony Weiner, de quem está se separando, tinha acesso.

Antony Weiner é famoso por suas incursões  sexuais na Internet.

Mas os e-mails seriam  os mesmos? Seriam outros?

Em vez de conduzir a investigação em sigilo e anunciar depois as conclusões, Comey lançou tudo no ventilador.

Para trás ficaram os abusos sexuais de Donald Trump, suas bancarrotas, seus contos do vigário (como a “Trump University”), suas fraudes no não-pagamento de impostos, seu racismo, sua xenofobia. Suas  acusações de que a mídia é dominada por judeus, enquanto seus correligionários entoam “Jews-S-A”, num trocadilho com o conhecido cântico “U.S.A.”,  dos estádios esportivos.

A nação só fala nos malditos e-mails.

E se Trump ganhar graças aos e-mails e depois o FBI anunciar, outra vez,  que nada havia  de criminoso  no computador da Secretária Pessoal de Hillary Clinton?

Esta eleição não  é exatamente nem sobre Hillary Clinton nem sobre Donald Trump. É sobre o caráter do povo americano.

Será que ele terá a firmeza necessária, o discernimento necessário, para não se deixar levar por um evidente golpe baixo eleitoral desfechado a 11 dias da eleição?

As indicações são de que, apesar de tudo, Hillary ainda é a favorita.

Mas Sanders tinha razão: “malditos e-mails”.

José Inácio Werneckjornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. Cobriu Jogos Olímpicos e Copas do Mundo no exterior. Foi locutor, comentarista, colunista e supervisor da ESPN Internacional e ESPN do Brasil. Colabora com a Gazeta Esportiva. Escreveu Com Esperança no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.

Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins.

O post Os malditos emails de Hillary Clinton apareceu primeiro em Jornal Correio do Brasil.


Fonte: http://correiodobrasil.com.br/os-malditos-emails-de-hillary-clinton/

Rede Correio do Brasil

Mais Notícias