Por Redação, com agências do Rio de Janeiro:
O assassinato de cinco jovens negros em um carro na Zona Norte do Rio de Janeiro, no último sábado, não envolve racismo, afirmou nesta segunda-feira o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão.
Ele classificou de abominável o crime, pelo qual três policiais militares foram presos em flagrante. Um quarto PM foi detido por suspeita de ter ajudado o trio a alterar a cena do crime.
– Não envolve racismo. É erro e erro a gente combate como eu falei aqui. A gente vai combater. Não é racismo – disse o governador.

Ele afirmou, também, que a Polícia Militar tem realizado acompanhamento psicológico dos agentes que mais atiram no Estado e expulsado os que cometeram crimes comprovados.
Em uma pesquisa divulgada este ano, a Anistia Internacional apontou que 79% das pessoas mortas por policiais militares entre 2010 e 2013 no Rio de Janeiro eram negras, 99,5%, homens, e 75% tinham entre 15 e 29 anos de idade, faixa etária em que se enquadram as cinco vítimas do crime do último sábado.
O governador defendeu punição imediata dos responsáveis, depois de garantido o direito de defesa.
– Vamos ver o que ocorreu, mas parece que foi execução, e isso nós não vamos tolerar. Se tiver de expulsar, vamos expulsar como já expulsamos este ano – disse Pezão.
Acrescentou que esse tipo de conduta “foge ao controle” do comandante do batalhão e da Secretaria de Segurança Pública.
Segundo Pezão, desde o início do governo de seu antecessor, Sérgio Cabral, quando era vice-governador, mais de 900 policiais militares foram expulsos.
Em 2015, o número de PMs punidos chega a 111, disse.
O governador afirmou, ainda, que pediu que os órgãos estaduais deem assistência às famílias das vítimas.
– É muito dolorido, é abominável, muito triste, a gente ver quase 50 tiros em um automóvel. Isso não é trivial, não é normal. Eu pedi uma apuração muito séria, pedi que a nossa Procuradoria Geral do Estado, a Defensoria Pública e nossa Assistência Social que deem todo apoio. É o mínimo que a gente pode fazer – observou.
O caso foi registrado na 39a Delegacia Policial (Pavuna) e também está sendo investigado pela Corregedoria da Polícia Militar.
Três policiais militares são acusados de terem fuzilado Roberto de Souza Penha, 16 anos, Carlos Eduardo da Silva de Souza, 16, Cleiton Correa de Souza, 18, Wilton Esteves Domingos Júnior, 20, e Wesley Castro Rodrigues, 25.
Além de homicídio, eles são acusados de fraude processual por suspeita de terem tentado modificar a cena do crime, ato do qual teria participado um quarto policial, que também foi preso.
PM exonera comandante
O tenente coronel Marcos Netto, comandante do batalhão de Irajá (41º BPM) foi exonerado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro nesta segunda-feira. Esta é a unidade onde os policiais presos suspeitos de matar os cinco jovens que estavam em um carro em Costa Barros, Zona Norte do Rio, são lotados.
A exonoração ocorreu “em razão dos últimos lamentáveis acontecimentos envolvendo PMs sob o seu comando, informou a Polícia Militar. As operações confrontam com as orientações do Comando da Corporação. A exoneração é resultado do esforço que a PMERJ vem desenvolvendo ultimamente no sentido de mudanças operacionais de Unidades em áreas conflagradas”.
Três dos cinco jovens que morreram na operação foram enterrados nesta segunda-feira. Roberto de Souza Penha, 16 anos, Wilton Esteves Domingos Junior, 20 anos, e Wesley Castro Rodrigues, 25 anos, foram sepultados no Cemitério de Irajá. Ainda não há previsão para enterro e velório dos outros dois mortos, identificados como Carlos Eduardo da Silva de Souza, de 16 anos, e Cleiton Correa de Souza, 18 anos.
A Polícia Civil prendeu em flagrante os policiais Thiago Resende Viana Barbosa, Marcio Darcy Alves dos Santos e Antonio Carlos Gonçalves Filho, suspeitos da morte dos cinco jovens na madrugada de domingo. De acordo com a delegacia da Pavuna (39ª DP), eles vão responder por homicídio doloso, com intenção de matar, e fraude processual, por alterar a cena do crime. O PM Fabio Pizza Oliveira da Silva também foi preso, mas vai responder apenas pelo último crime.
O soldador Jorge Roberto Lima da Penha, de 48 anos, pai de Roberto, revelou que os jovens moram na comunidade e se conheciam desde criança. Segundo ele, o filho começou a trabalhar há pouco tempo e fazia parte do Programa Jovem Aprendiz. “Todo mundo estava comemorando o trabalho dele, primeira assinatura na carteira do garoto, 16 anos, um futuro enorme pela frente, queria trabalhar com publicidade e acabou tudo agora”.
Jorge voltou antes para casa e pouco tempo depois recebeu uma ligação sobre a morte do filho. “O pessoal me ligou dizendo que tinha uns baleados lá em baixo e meu filho estava no meio. Fiquei doido. Não acreditei. Fui ver e estavam os cinco vizinhos dentro do carro.”
Segundo ele, o veículo onde estavam os rapazes foi encontrado com várias marcas de tiros na Via José Arantes de Melo, na entrada da comunidade.
– Só quem faz aquilo ali são os terroristas do Estado Islâmico. Foi uma barbaridade. Eram muitos tiros e depois plantaram uma réplica no pneu ao lado do motorista. A chave de ignição estava no porta-malas. Foi uma cena deprimente. Eles tentaram desconfigurar a cena do crime. Acrescentou que fotos e vídeos do local, feitos por testemunhas, ajudarão nas investigações e comprovarão a participação dos policiais.
Em nota, a Polícia Civil informou que uma perícia foi realizada no local do crime e os corpos encaminhados ao IML (Instituto Médico Legal) para exame de necropsia. As armas dos agentes também foram apreendidas.
A PM informou que o comando do batalhão de Irajá (41º BPM) abriu um Inquérito Policial Militar para esclarecer o caso. Segundo a corporação, os agentes presos vão ser transferidos para a unidade prisional da PM e vão responder na Justiça comum e na militar.