Cunha nega, mas fontes próximas ao parlamentar já adiantaram ao Correio do Brasil, com exclusividade, que o preso negocia uma delação premiada
Por Redação – de Brasília
Setores do grupo político que assumiu o Palácio do Planalto, após a deposição da presidenta Dilma Rousseff — todos citados na Operação Lava Jato — receberam recentes informes sobre o andamento do processo, de uma fonte improvável. Noite passada, informante do núcleo de poder recebeu um dos advogados que visitaram o presidiário Eduardo Cunha, deputado do PMDB expulso da vida pública do país por uma década. O advogado Renato Ramos teria passado as “impressões” de seu encontro com o peemedebista preso em Curitiba.

Cunha foi escoltado por homens da Polícia Federal ao ser preso. A prisão ocorreu logo após perder o mandato, no final do ano passado
Cunha nega, mas fontes próximas ao parlamentar já adiantaram ao Correio do Brasil, com exclusividade, que o preso negocia uma delação premiada. Os rumos da novela política teriam sido repassados ao subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha. Aliados de Cunha tentam saber se o ex-parlamentar estaria mesmo disposto a fechar um acordo com a Justiça. Se falasse o que sabe, implicaria, diretamente, o presidente de facto, Michel Temer, e toda a cúpula do governo.
Cunha preso
O peemedebista foi preso, preventivamente, há cerca de três meses sob a acusação de ter recebido propinas em contratos da Petrobras. Os recursos foram desviados de uma concessão, na costa leste da África. E por usar bancos suíços para o lavar dinheiro apurado na operação. Ramos reconheceu, diante de jornalistas, ter mantido contato com Cunha. Acrescentou que teria comentado as impressões da sua visita a Gustavo Rocha.
— Ficou no limite do comentário — disse.
Rocha, por sua vez, afirma que tem falado com Ramos por telefone. Mas assegura não se recordar de alguma conversa específica sobre Cunha.
— Esse assunto não me diz respeito — teria dito, segundo o diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo.
Renato Ramos e Gustavo Rocha são amigos e ex-sócios em um escritório de advocacia. Eles também eram próximos de Cunha, acrescenta a publicação.
Delação em curso
Cunha chegou a conversar com os poucos aliados que lhe restaram sobre uma possível delação premiada, no dia seguinte à cassação de seu mandato. Deputado da base de Cunha, ouvido pela reportagem do Correio do Brasil, avalia como “bastante possível que ele faça um acordo com a Justiça”. Tentaria, com isso, evitar o encarceramento dele, da mulher, Cláudia Cruz, e da filha, Danielle.
Ambas, no entanto, estão citadas na Justiça da Suíça. O Tribunal Penal Federal daquele país, em sua primeira manifestação de mérito da investigação contra Cunha, afirmou, em nota distribuída nesta manhã, que existem “indicações concretas”. “Suspeitas óbvias” e “suficientes” de que o deputado cassado esteve envolvido em um esquema de corrupção.
Para o Tribunal suíço, pela posição que ocupava no Congresso, o peemedebista tinha a “capacidade de influenciar” a decisão sobre negócios da Petrobras no Benin, África, em maio de 2011. Cunha é réu, na Justiça brasileira, acusado de receber propina de contrato de exploração de petróleo no país africano. Ainda, de usar contas na Suíça para lavar o dinheiro.
Conta na Suíça
Por tais indícios, os juízes negaram o desbloqueio das contas de pessoas e empresas envolvidas no processo. A corte, no entanto, não revela o autor do pedido. Liberados nesta semana, os papéis datam de novembro de 2016 e podem servir ao processo no Brasil. Na decisão de manter congelados os recursos no país, o tribunal suíço relata ainda como o negócio da Petrobras no Benin irrigou uma conta controlada por Cunha.
À época, o peemedebista era deputado. A estatal brasileira pagou US$ 34,5 milhões (R$ 111 milhões), em maio de 2011, pela licença de exploração no país africano, conhecida como Bloco 4. Segundo as autoridades suíças, após o negócio, houve a transferência de cerca de US$ 1,3 milhão (R$ 4,2 milhões) para uma conta no país atribuída a Cunha.
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