Repressão da PM paulista não poupa parlamentares, intelectuais brasileiros, mulheres e crianças e dispara, indiscriminadamente, balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogênio, em uma demonstração de violência comparável aos piores momentos da ditadura militar
Por Redação – de São Paulo
O senador Lindberg Farias (PT-RJ), o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) e o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Roberto Amaral foram atingidos pelo despreparo e pela violência policial, na noite deste domingo, durante o ato que reuniu mais de 100 mil pessoas no Centro da capital paulista. Eles concediam uma entrevista ao coletivo Jornalistas Livres, quando o ataque começou.

Parcela dos manifestantes pede a realização imediata de novas eleições no Brasil e a PM reprime com violência
“Eram bombas, bala de borracha e gás lacrimogênio atirados a torto e a direito por PMs descontrolados que só escutavam e obedeciam ao comando do oficial. Gente caída, tentando se esconder, ou fugindo eram perseguidas indiscriminadamente. O Ato, que transcorreu pacífico durante todo trajeto desde a Avenida Paulista até o Largo da Batata, terminava”, relata a reportagem.
Ainda segundo o vídeo, divulgado nas redes sociais, “por conta da desorganização da polícia, que sequer bloqueou os cruzamentos durante a passeata – e que não organizou a dispersão daqueles que usariam o metrô – a maioria dos milhares de manifestantes foi impedida de entrar na estação Faria Lima. Usou-se então, para contê-la, não o diálogo, mas a violência e todo aparato de guerra da PM de Alckmin – helicópteros, blindados israelenses que atiravam jatos dàgua, balas de borracha, bombas de gás lacrimogênio, e muita agressividade. Tudo isso com o teu, o meu, o nosso dinheiro. E o claro recado: saiam das ruas!”, afirma o texto.
Em sua página no Facebook, o senador Lindberg não poupou críticas à violência promovida pela gestão do governo tucano Geraldo Alckmin:
“É uma vergonha: ao final de uma imensa e emocionante passeata, a PM do governo tucano atirou bombas sem a menor justificativa, quando as pessoas já começavam a se despedir. Eu, Paulo Teixeira e Roberto Amaral fomos atingidos pela nuvem de gás, sendo que Amaral ainda foi ferido por um estilhaço de bomba no braço. É inadmissível tamanha afronta ao direito democrático de manifestação. Primeiro, afastam na marra uma presidenta eleita sem a menor justificativa; agora, escalam a polícia para reprimir violentamente os protestos”,
Manifestantes
mais conscientes
O protesto contra o governo de Michel Temer, nesta capital, reuniu mais de 100 mil manifestantes, segundo os organizadores, ao longo deste domingo para pedir novas eleições no Brasil. Com gritos de “diretas já!” e faixas com o slogan “fora, Temer”, o grupo ironizou a fala do presidente no sábado, em visita à China, de que os atos reuniam apenas 40 pessoas.
— O presidente golpista do Brasil disse que a nossa manifestação teria 40 pessoas. Aqui estão as 40 pessoas. Já somos quase 100 mil na av. Paulista — discursou Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e um dos organizadores, no início do ato. A PM não fez estimativas do número de manifestantes, assim como não fizera anteriormente.
Em outro ataque a Temer, Boulos disse que “melhor seria estar ao lado de 40 manifestantes do que em um governo de 40 ladrões”, em referência direta ao ministério do presidente que assumiu, na última quarta-feira, após consolidado o golpe com a deposição da presidenta Dilma Rousseff.
A manifestação, convocada pelas frentes de esquerda Povo Sem Medo e Brasil Popular, estava melhor organizada e maior do que as outras manifestações que ocorreram desde o início do julgamento do impeachment de Dilma, esta reuniu um público de mais idade do que em outros protestos.
Tiros e bombas
O ato começou às 16h30, na Paulista, seguiu em direção ao largo da Batata (zona oeste) e foi pacífico durante todo o tempo. Na dispersão, ocorreu um princípio de tumulto em frente à estação Faria Lima, no Largo, fato suficiente para a PM distribuir tiros com balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogênio, sob a desculpa de “dispersar a multidão”.
Segundo o tenente-coronel Henrique Motta disse a jornalistas, a PM foi “socorrer o metrô”, que havia fechado as portas por volta das 19h, por segurança, para evitar excesso de gente nas plataformas.
— Quando chegou lá a equipe da Polícia Militar, os manifestantes -manifestantes, não, as pessoas que estavam forçando a porta, porque eu não posso dizer que são manifestantes, podia ser alguém que já estava aqui na praça- começaram a jogar pedras e paus — disse.
Mas a versão de testemunhas presentes no momento em que houve a repressão ao ato público, no entanto, é bem diferente:
— A tropa de choque entrou no meio da manifestação para provocar, depois começaram a jogar bombas e jatos de água. Foi premeditado, e é escandaloso que a polícia trate uma manifestação assim. Quem tem que responder é o governador Geraldo Alckmin e o comando da PM — afirmou Boulos.
Segundo o jornalista Felipe Souza, repórter da agência britânica de notícias British Broadcasting Company (BBC), porém, a versão do coronel PM está longe da realidade.
“Cobri o protesto contra o presidente da República, Michel Temer, desde o seu início na avenida Paulista, às 16h30. A manifestação seguiu sem problemas até o Largo da Batata, na Zona Oeste da capital. No caminho, membros do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto obrigaram supostos black blocs a tirarem suas máscaras ou deixarem o ato. A intenção do MTST, segundo eles, era evitar que ocorressem atos de vandalismo”, escreveu Maringoni, em uma rede social.
Ainda segundo o jornalista “minutos após os manifestantes começarem a se dispersar, por volta das 21h, a polícia começou a jogar bombas de gás lacrimogênio e efeito moral pelas ruas de Pinheiros”. E continua, no relato sobre a violência: “Enquanto manifestantes atiravam garrafas e colocavam fogo em barricadas, eu acompanhava os confrontos atrás dos policiais, na rua Sumidouro. De repente, eles decidiram mudar de rota e se voltaram para o lado oposto ao que seguiam”.
“Nesse momento, a Tropa de Choque ficou de frente para mim e ao menos outros dois repórteres fotográficos. Ao perceber que poderia ficar encurralado, procurei uma rota de fuga e me encostei na parede para aguardar a passagem dos policiais.
Identificado com colete e crachá da BBC Brasil, levantei minhas mãos e me identifiquei como imprensa. Mesmo assim, os policiais avançaram contra mim enquanto gritavam para eu sair da frente.
“Sai da frente! Vaza, vaza!’, diziam ao menos quatro policiais pouco antes de me atingir com golpes de cassetete no antebraço direito, na mão esquerda, no ombro direito, no peito e na perna direita. Um deles ainda me chamou de lixo, mas o áudio do vídeo que fiz não captou”, relata.
“A marcas das agressões ficaram no meu corpo, principalmente no antebraço, que inchou e ficou roxo. Por sorte, o golpe que levei no peito foi amortecido pelo colete. Eu também usava capacete e máscara de gás. A utilização desses equipamentos de segurança é exigência de normas internas da BBC para cobertura de manifestações. O celular que eu usava caiu no chão após a agressão e ficou com a tela danificada”.
Para o professor de Relações Internacional da Universidade Federal do ABC (UFABC) Gilberto Maringoni, o ato de São Paulo foi um sucesso. “Por isso é preciso desqualificá-lo”.
“A manifestação de São Paulo não estava na conta do governo golpista, da gestão estadual tucana e nem da grande mídia. Alguma providência precisaria ser tomada. E ela veio com uma estúpida repressão policial, em seu final”, escreveu em uma rede social, em alusão à cobertura das emissoras de TV, que deram destaque, na noite de domingo, ao “confronto entre manifestantes e PMs”, sem mostrar os atos de violência policial.
Para Maringoni, apesar da tática de impor medo à população, é pouco provável que as ações da PM sirvam para intimidar. “A brutalidade contra manifestações em outros três dias da semana paulistana serviu de incentivo para as ruas serem ocupadas de forma democrática. Em 2013, a repressão exagerada foi um dos combustíveis para que a revolta se espalhasse pelo país”, lembrou.
Para ele, “provocação não vale a pena de lado nenhum. Seria bom Michel Temer recuperar aquelas palavras de Carlos Átila de três décadas atrás e perceber que mesmo bravatas palacianas não abafam o ruído das ruas.”
Golpista reconhece violência
Horas após os protestos contra o governo do presidente de facto, Michel Temer, reunir milhares de pessoas em São Paulo, o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) — em visita à China — reconheceu o “número bastante substancial de pessoas”. Ainda assim, tentou desqualificar o ato contra o seu superior hierárquico, na estrutura do golpe: “Já tivemos manifestações muito maiores”.
Questionado sobre o tamanho do movimento, estimado em mais de 100 mil pessoas por um dos organizadores, Meirelles disse se tratar de “uma manifestação razoável” sem, no entanto, citar os atos de violência.
— É uma manifestação razoável, 100 mil pessoas é um número substancial de pessoas, mas também já tivemos manifestações muito maiores, já tivemos manifestação de 1 milhão de pessoas no Brasil. Em resumo, é uma manifestação coerente com um grupo de pessoas que é minoritário na população, mas é um número bastante substancial de pessoas — disse aos repórteres, nos corredores do centro de convenções onde se realiza o encontro do G20.
O post PM mandada pela direita abusa da violência contra manifestantes apareceu primeiro em Jornal Correio do Brasil.