Não foi porque o povo foi às praças, querendo o direito de voto. A ditadura elitista morreu, os militares voltaram aos quartéis, com o seu patriotismo anacronicamente desagradável
Por Maria Fernanda Arruda – do Rio de Janeiro
UDN e PSD sonharam em vencer as eleições, impondo ao eleitorado um candidato comum, quase que o bipartidarismo da ditadura. Sozinha, a UDN somou derrotas nas eleições, tendo que suportar a volta de Vargas, o seu nacionalismo crescente, a criação da Petrobrás e a regulamentação do capital estrangeiro. Ironicamente, assistiu à internacionalização da economia brasileira, mas procedida pelo PSD, não por ela, com os 50 anos em 5 de Juscelino Kubitschek, quando o público e o privado então uniram-se em convívio promíscuo.

Na verdade, o modelo elitista implantado durante os oito anos de FHC torna de fato desnecessária a Nação e desnecessário o povo
Não foi porque o povo foi às praças, querendo o direito de voto. A ditadura morreu, os militares voltaram aos quartéis, com o seu patriotismo anacronicamente desagradável, quando os empresários, em 1978 e em 1983, determinaram que era necessária a redemocratização (para que se fizesse a globalização). A partir de 1985 foi sendo gestada a “democracia consentida” que nos anima até hoje. A Constituição Cidadã assegurou isso, para que não houvesse rompimento, mas espaço para a continuidade conservadora. Sintomático, o Estado redemocratizado começou por ser presidido por um político da ditadura. E assim o Brasil chega à globalização que lhe dá a modernidade periférica.
Esta, caracteriza-se pela incorporação pelas classes dominantes nesses países das inovações da tecnologia posta a serviço do capital, gerando o consumismo acelerado em progressão geométrica, o que exige a concentração da renda no seu mais alto grau, ao preço da miséria crescente do povo.
País elitista
Na verdade, o modelo implantado durante os oito anos de FHC, baseado no discurso da abertura comercial, das privatizações, da redução do Estado a expressão menor, da concessão de privilégios à banca internacional, isso torna de fato desnecessária a Nação e desnecessário o povo. Foi o fracasso na gestão desse modelo que tornou possível a sua sucessão pelo Estado Assistencialista promovido pelo Partido dos Trabalhadores. E daí o seu sucesso, com a quase eliminação da miséria e a redução muito expressiva da pobreza.
Mais que urgente, o que precisa ser entendido por Lula e pelo PT é que não é possível qualquer composição com as elites, nem espaço para continuísmos. Entender a História do Brasil não é exercício intelectual, é busca de consciência. Para que não se esqueça que convivemos com elites anacrônicas, esclerosadas numa visão de mundo que propõe ainda a casa grande e a senzala como organização social desejável.
Essas elites são sócias menores do capitalismo internacional. Este faz uso da voz do ventríloquo que manobra o FMI. Um governo que insista nessa prática não pode ser apoiado. É preciso não ter medo e aceitar sempre o desafio maior. Como exemplo: não basta a universalização da Universidade. É preciso que se construa a Universidade “do” e “para” o Povo. Para que tenhamos uma intelectualidade não elitista.
Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil.
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