Governo, políticos e intelectuais criticam detenção do jornalista Deniz Yücel, de nacionalidade turca e alemã. Desde golpe de Estado fracassado de 2016, Erdogan aumentou cerceamento à imprensa
Por Redação, com DW – de Berlim:
A prisão preventiva do jornalista teuto-turco Deniz Yücel, determinada por um tribunal de Istambul, foi duramente criticada pelo governo alemão e por políticos e intelectuais da Alemanha.
A chanceler federal Angela Merkel chamou a ordem de prisão de uma decisão dura e decepcionante e disse esperar que Yücel seja libertado em breve. “A medida é desproporcionalmente dura, afinal Deniz Yücel se apresentou voluntariamente à Justiça turca e se colocou à disposição para as investigações”, disse Merkel.

Deniz Yücel é acusado de incitação ao ódio e de fazer propaganda para uma organização terrorista
Para esta terça-feira foram programados protestos contra a prisão em diversas grandes cidades alemãs. Além de Viena, Graz e Zurique. Um grupo de intelectuais e jornalistas publicou um anúncio de página inteira em grandes jornais alemães pedindo a liberdade de Yücel. Citando o artigo 19 da Declaração dos Direitos Humanos, que se refere à liberdade de expressão e de imprensa.
Reportagem crítica ao governo
Nesta segunda-feira, um juiz de Istambul decidiu decretar a prisão preventiva de Yücel, que é correspondente do jornal Die Welt. Depois de ele passar 13 dias detido sob a acusação de fazer propaganda terrorista.
A prisão preventiva pode durar até cinco anos. Ao fim dos quais o acusado pode ser julgado ou libertado. O jornalista, que possui dupla nacionalidade, alemã e turca. Ele é acusado de incitação ao ódio e de fazer propaganda para uma organização terrorista, em referência à guerrilha curda PKK.
O vice-presidente do opositor Partido Republicano do Povo (CHP), Sezgin Tanrikulu, que acompanhou a audiência. Ele afirmou em sua conta no Twitter que o promotor perguntou a Yücel exclusivamente sobre sua atividade jornalística. E que o alemão foi preso unicamente por isso.
Yücel foi detido no âmbito de uma investigação sobre uma invasão ao e-mail do ministro da Energia, Berat Albayrak. Que é genro do presidente Recep Tayyip Erdogan. A invasão é atribuída ao grupo clandestino de esquerda RedHack, que publicou os e-mails na internet.
Os e-mails indicam haver iniciativas do governo turco para manipulação de contas no Twitter e controle estatal sobre a mídia. Yücel foi um dos poucos jornalistas a escrever sobre o caso, em setembro passado. Ele se apresentou à polícia para responder perguntas sobre a sua reportagem e foi imediatamente detido.
Cerca de 150 jornalistas presos
Yücel é o primeiro jornalista alemão e ser preso desde que o partido conservador islâmico AKP chegou ao poder, em 2002. No ano passado, o correspondente Hasnain Kazim, do site Spiegel Online. Teve que deixar a Turquia porque o governo lhe negou o registro como jornalista e, com isso, o visto de trabalho e residência.
Bem pior é a situação dos jornalistas turcos. Cerca de 150 estão presos, seja de forma preventiva, seja cumprindo sentença. Depois do golpe de Estado fracassado de 15 de julho, 149 jornais, rádios e televisões já foram fechados. E 775 jornalistas tiveram seus registros cancelados. Segundo a organização Repórteres sem Fronteiras (RSF).
A Turquia ocupa a posição 151, entre 180 países, na lista de liberdade de imprensa da RSF, publicada antes do golpe fracassado e da entrada em vigor do estado de exceção.
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