Segundo Carina Santos, os professores das disciplinas ”técnicas” na escola serão admitidos por notório saber
Por Redação – do Rio de Janeiro
Professora de Sociologia em um educandário no Sul do Estado do Rio, a cientista social Carina Santos denunciou, em sua página de uma rede social, ter sido “retaliada na escola onde atuo por conta da minha posição crítica à Medida Provisória (MP) do Ensino Médio”.

A cientista social Carina Santos fez críticas à reforma do ensino, proposta pelo governo, e sofreu a censura na escola pública onde trabalha
“Publiquei aqui (no Facebook) que estava sendo retaliada na Escola onde atuo por conta da minha posição crítica à MP do Ensino Médio e o Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI)”. As razões que levaram a educadora a formular as críticas, pelas quais sofreu a retaliação, em seu local de trabalho, foram especificadas:
“O projeto aumenta a carga horária, com foco no letramento e desenvolvimento das operações matemáticas. O restante do tempo vai se dividir na opção do aluno entre: Sociologia, Historia , Artes, Educação Física, Física, Química e mais letramento, com foco para a linguagem formal sem considerar a diversidade da nossa língua mater e das suas formas. Dentro dessas ”opções” consta, também, as disciplinas técnicas que tem o nome genérico de ‘’Projeto de Vida”.
Ainda segundo Santos, os professores das disciplinas ”técnicas” serão admitidos por notório saber. As regras para tal contrato não estão evidenciadas no projeto”, acrescentou.
‘Bom comportamento’
Sobre o ProEMI adaptado às regionais, a professora ressalta:
“Criam-se núcleos regionais de educação (CICs) — área de conhecimento para desenvolvimento de saberes, onde a opção será do aluno. Refletindo as divisões citadas. A carga horária aumenta gradualmente, mas o projeto tem apenas três parcelas a serem vencidas e, até onde sei, não se tem garantia de efetivo pagamento. Além da chegada de uma PEC que reduz os gastos com Educação. A conta não bate”.
Para Carina Santos, “a meritocracia está presente e tem características médias esperadas para o estudantes. Dentre elas , termos que lembrar substantivos utilizados para defesa da ‘moral e bons costumes’. Alguém se lembra a ultima vez que isso esteve em questão? Exemplos : ‘bom comportamento’, ‘ter bom letramento’, ‘ser bem conhecido dentre sua turma’. Quais são as perdas com isso?”.
“O projeto já chega solapando de maneira autoritária. A divisão se dará entre estudantes para o mercado de trabalho e estudante que ingressará na universidade seguindo as ‘opções’ oferecidas. O que vcs acham que irá acontecer?”, questiona.
Espaço na aula
Para a educadora, formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), “há um alinhamento com a tese da Escola sem Partido. Uma vez que o estudante não precisará optar por aulas de humanas”.
E cita, como exemplo:
“No ano passado tive em sala dois estudantes que mais participaram dos debates. Um deles, do Partido Militar, defensor do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). E o outro do campo popular democrático, que apoiou Lula. Ambos tinham espaço na aula, e os debates ocorriam.
“No final do período o aluno que apoiava Bolsonaro não entregou um trabalho sobre movimentos sociais por conta da sua ideologia. Esse aluno, nessa divisão, não se sentirá obrigado a refletir sobre pensamentos divergentes ao dele. Há de se constar que, embora eu tenha militado no mesmo grupo politico do aluno do campo popular, apenas no último dia de aula a sala teve conhecimento disso”.
Meritocracia
A Lei 16.639/03 do Ensino da História da África no Brasil, segundo Santos, “sequer é citada”. “O que permite à ideologia meritocrática ter mais destaque é o fato de não discutimos a origem da desigualdade racial e social no Brasil”, pontua.
Carina Santos cita o professor de História Felipe Duque, ao afirmar que a perda de autonomia do professor, afinal o projeto fala em presença constante de representações federais, como se não bastasse a tal da Gestão Integrada de Desenvolvimento (GID), embora aponte o alinhamento do projeto governamental à Escola sem Partido.
Como resultado da MP, Santos acrescenta o “aumento de trabalho, afinal, há zilhões de relatórios para justificar a contemplação do projeto. E a pulverização de professores em mais colégios, afinal há o enxugamento do currículo que se amplia gradativamente em todas as turmas nos próximos”.
Para a educadora, “o professor será agente descartável na escola onde não tem pertencimento”.
“É preciso resistir”, conclui.
O post Professora sofre retaliação na escola por opinar contra reformas no ensino apareceu primeiro em Jornal Correio do Brasil.