Caso admita a integridade do conteúdo divulgado, Moro será alvo de pesadas ações nos tribunais superiores, terá os processos que julgou questionados nos tribunais.
Por Redação – de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo
Premido por um dilema que, uma vez resolvido, tende a colocar um ponto final na carreira, o ex-juiz Sérgio Moro, preso ao cargo de ministro da Justiça, conforme admite, por absoluta falta de opção profissional, admitiu nesta sexta-feira a veracidade ao menos de parte dos vazamentos publicados, até agora, pela agência norte-americana de notícias Intercept Brasil.
Ministro da Justiça e Segurança, Sérgio Moro, está cada vez mais pressionado por juristas e pela opinião pública a deixar o cargoCaso admita a integridade do conteúdo divulgado, Moro será alvo de pesadas ações nos tribunais superiores, terá os processos que julgou questionados nos tribunais. E, uma vez considerado réu em qualquer desses processos; não restará outra saída senão a entrega do cargo.
Sem problema
Tudo indica que esta é uma opção de curto prazo. O jornalista norte-americano Glenn Greenwald, que integra o time de jornalista na série de reportagens sobre um possível conluio entre Sérgio Moro e o procurador federal Deltan Dallagnol, à frente da Operação Lava Jato, revelou em entrevista ao programa de Juremir Machado na rádio Guaíba, de Porto Alegre, que as próximas matérias são ainda mais contundentes.
— Quero ver Moro se segurar na cadeira depois das próximas revelações — afirmou, sem antecipar detalhes.
Greenwald responde ao ministro, que o desafiou publicar tudo o que sabe.
— Se quiserem publicar tudo, publiquem. Não tem problema — disse Moro, que adiantou sua disposição de permanecer no cargo.
Vaga no STF
Se for verdade o que o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira, sobre a possibilidade “zero” de demitir o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro poderá passar um fim de semana tranquilo.
— Não existe essa possibilidade (de Moro ser demitido), zero — disse Bolsonaro, durante o café da manhã com jornalista, no Palácio do Planalto.
Sem reconhecer a gravidade da situação em que se encontra o subordinado, Bolsonaro chegou a repetir a “possibilidade grande” de Moro ser indicado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), o que apenas complica ainda mais a situação jurídica do ex-juiz, que teria promovido ações combinadas com o Ministério Público para facilitar a campanha política de seu atual superior.
Descuido
Sem o menor constrangimento, Bolsonaro confessa sua completa ignorância quanto à gravidade dos atos supostamente cometidos por Moro e diz que não vê maldade em eventuais conversas entre advogados, policiais e promotores, para cometer crimes de conluio e formação de quadrilha. Segundo Bolsonaro, nos encontros que teve com Moro após o episódio, ele disse não ter falado em demissão, nem o ministro em entregar o cargo.
Pressionado pela opinião pública e pareceres de juristas respeitados nas cortes internacionais, que tiveram acesso aos diálogos vazados, Moro atestou que o conteúdo das conversas dele com Dallagnol, publicadas pela agência, seriam reais. Ele instruiu secretamente os procuradores a preparar material para a condenação contra o ex-presidente Lula, que vem sendo mantido como preso político há mais de um ano.
— Foi descuido meu — confessa.
Auxílio-moradia
Descuido não. Crime. É o que afirmou a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), após a declaração do ministro.
“Foi descuido meu, diz Moro sobre mensagem à Lava Jato com pistas contra Lula’. Descuido não, CRIME”, escreveu a parlamentar, no Twitter.
Em comentário também em uma rede social, o jornalista Fábio Lau, editor do site de notícias Conexão Jornalismo, expõe o que pensa sobre a personagem central do escândalo da Vaza Jato.
“Moro é daqueles homens para quem o dinheiro se sobrepõe a valores como caráter e honestidade. Explico: ele viveu em apartamento próprio em Curitiba e mesmo sabendo que poderia arranhar sua imagem, recebia auxílio-moradia.
‘Banana’
“Chamado para ser ministro, não quis abandonar a magistratura até o fim do ano sob a alegação de que precisava se sustentar. A ética, naquele momento, para ele nada valia. Mas seu conforto, sim.
“Eis que agora, caindo pelas tabelas, se escora em Bolsonaro e afirma que jamais renunciará ao ministério. Motivo: não teria meio de subsistência tendo em vista que, sem registro da OAB, não poderia advogar.
“Este Super Homem é um frouxo, banana, picareta, pilantra e canalha. A redundância é proposital”, conclui.