Líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL) rompeu, aparentemente, com o governo Temer. Ele gravou dois vídeos, distribuídos pelas redes sociais, que demonstram, inequivocamente, sua disposição de desembarcar do golpe de Estado
Por Redação – de Brasília
Pronto para começar, dentro de mais algumas horas, o julgamento do presidente Michel Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem um desfecho previsto por analistas ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil. Com a popularidade em queda livre e perdendo massa crítica no Congresso, Temer agora enfrenta um adversário improvável.

Temer diz que ‘fala com regularidade’ com Cunha. Caso seja cassado, perderá o foro privilegiado e também irá a Curitiba
Líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL) rompeu, aparentemente, com o governo. Ele gravou dois vídeos, distribuídos pelas redes sociais, que demonstram, inequivocamente, sua disposição de desembarcar do golpe de Estado. A aventura liderada por Temer e setores da extrema direita começa a fazer água.
Na quarta-feira, o governo foi derrotado na votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 395, que instituía a cobrança de mensalidades em universidades públicas para os cursos de pós-graduação lato sensu. A PEC teve 304 votos a favor e 139 contra. Para ser aprovado, o texto precisava de 308 votos, assim como na reforma previdenciária.
— Corte de investimento público, reoneração da folha, aumento de imposto, terceirização geral, tudo isso junto só vai drenar as energias de uma economia que não consegue se levantar — disse o líder do PMDB no Senado.
Maioria apertada
Tais fatos têm ingredientes capazes de influenciar o julgamento do TSE, que tende a cassar a chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer.
— Do ponto de vista da opinião pública, Temer está muito mal. E também no próprio Parlamento — avalia o analista político Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), ouvido pela Rede Brasil Atual (RBA). Ele ressalta que o Congresso tem demonstrado ao governo que o nível de apoio nas duas Casas têm caído vertiginosamente.
Na votação que cassou direitos trabalhistas e liberou a terceirização ampla, o número de votos na Câmara por menor do que Temer esperava. Por 231 votos favoráveis e 188 contrários, se fosse a reforma da Previdência, que exige dois terços do Plenário, estaria no vinagre.
— Tudo isso são sinais claros de enfraquecimento e rejeição do governo. Mas quanto mais impopular ele fica, mais esforço faz para agradar o mercado e apresentar mais coisas em favor dele, para ser sustentado — diz Queiroz. O analista entende que, se o julgamento do TSE fosse hoje, muito provavelmente Temer seria derrotado.
Substitutos
Mas Temer, a exemplo do presidiário Eduardo Cunha, seu principal aliado, é mestre em manobras diversionistas para ganhar tempo.
— Acredito que vai ter pedido de vista no julgamento, para adiar e permitir que sejam trocados os dois ministros no TSE, alterando a correlação de forças no Tribunal — prevê Queiroz.
Dois dos ministros da corte vão terminar os mandatos em breve: Henrique Neves, em 16 de abril, e Luciana Lóssio, em 5 de maio. Os novos ministros, ambos substitutos no tribunal, serão indicados por Temer: Admar Gonzaga ficará no lugar de Neves. Para a vaga de Luciana, o indicado deve ser Tarcísio Vieira de Carvalho Neto.
Votos antecipados
Os ainda titulares Luciana e Neves podem antecipar seus votos antes de deixar o tribunal. Seus votos são atualmente contabilizados como contrários a Temer, a favor, portanto, da cassação da chapa, o que poria ponto final no mandato de Temer.
Embora sigiloso, o posicionamento de Herman Benjamin, relator da ação, também é esperado a favor da cassação. Como o TSE tem sete ministros, nessas circunstâncias Temer já teria contra si três votos, faltando apenas um para ser derrotado. Os outros membros são Gilmar Mendes (presidente), Luiz Fux, Rosa Weber e Napoleão Nunes Maia Filho. Cabe ao presidente colocar o julgamento na pauta de votação.
Para a professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FespSP) Jacqueline Quaresemin, a análise do tema é complexa e envolve muitas variáveis.
— Por que uma pesquisa de avaliação do governo (CBI/Ibope) é divulgada no mesmo dia de mobilizações de diversas categorias e movimentos sociais contrários às políticas e reformas propostas pelo governo? Seria uma pressão dos setores empresariais, apoiados por grandes veículos de comunicação, devido às propostas anunciadas esta semana pelo ministro Henrique Meirelles? — questiona.
Possibilidades
Diante da possível cassação de Temer, segundo o analista do Diap, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, seria candidato cotado. É “o mais identificado com o mercado”, define.
— Ele se elegeu presidente da Câmara muito facilmente — lembrou Queiroz.
Queiroz, do Diap, também entende que Maia pode, sim, vir a ser o nome.
— Quem vai eleger será o Congresso. Ele é fraco mas teve mais de 300 votos para presidente da Câmara. Não precisa ser uma grande liderança. Precisa é ter compromisso com a agenda do mercado. E capacidade de implementar na instância que delibera isso, que é o Congresso Nacional — concluiu.
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