A partir de 20 de janeiro de 2017, Trump terá que cumprir o que prometeu na campanha que tornou a mais agressiva da história americana. Vai nomear um ministro de direita para a vaga aberta na Suprema Corte de Justiça? Mudará a política de imigração dos EUA? Levantará um muro ao longo da fronteira com o México?
Por Moisés Rabinovici, de São Paulo:

Uma coisa é campanha eleitoral de candidato, outra é governar como presidente
Aos aflitos, arrasados, desconsolados, deprimidos, escandalizados e chocados com a imprevista vitória do presidente eleito dos EUA, o noviço político Donald Trump, trago um consolo, uma esperança: já vi um país eleger um candidato inesperado, capaz de provocar uma tragédia, e não só sobreviver, como reelegê-lo ao final do mandato.
Estou falando de Menachem Begin, eleito premier de Israel em 1977, o primeiro de direita depois de 30 anos de trabalhistas no poder, e aliado dos partidos religiosos radicais. Foi saudado pelos colonos judeus da Cisjordânia como o Messias que viria salvá-los. E prometia não dar um grão de areia do Sinai em troca da paz com o Egito do presidente Anuar Sadat.
Mas a verdade é que Begin devolveu todo o Sinai, com seus poços de petróleo e mais Yamit, uma cidade nascida à beira-mar. Seus ministros Moshé Dayan e Ariel Sharon, depois, iniciaram o diálogo com a Organização de Libertação da Palestina (OLP), chefiada por Yasser Arafat, retomado mais tarde por Yitzhak Rabin e Shimon Peres.
O próprio Sadat reconhecia que, se Begin estivesse na oposição, o acordo de paz não seria aprovado. Ele o derrubaria.
A partir de 20 de janeiro de 2017, Trump terá que cumprir o que prometeu na campanha que tornou a mais agressiva da história americana. Vai nomear um ministro de direita para a vaga aberta na Suprema Corte de Justiça? Mudará a política de imigração dos EUA? Levantará um muro ao longo da fronteira com o México?
Como se comportará com mulheres, afro-americanos, hispânicos, judeus e muçulmanos, refugiados e países em guerra nos quais tropas americanas estão envolvidas?
“Se quiseres testar o caráter de um homem, dê-lhe poder” – receitava o 16º presidente dos EUA, Abraham Lincoln. O 45º acaba de ser empoderado. Terá Câmara e Senado a seu favor, mas é um noviço, sem experiência militar e de governo.
Jornais preparados para a vitória da candidata democrata Hillary Clinton, prevista pelas pesquisas de opinião pública, amanheceram com manchetes espantadas, ressaltando uma “tragédia americana”, uma “nação dividida”, a próxima “Casa (branca) dos Horrores”, os “Estados Desunidos”, uma “Nação Trump”, um deles pedindo “God save America” e um outro, “Deus perdoe a América”. Houve um, o Red Eye (foto), de Chicago, que saiu com a capa preta, e um aviso típico de computador: “baixando democracia”, como se fosse um aplicativo.
No discurso de vitória da madrugada, Trump mudou o tom hostil que usou na campanha. Mostrou-se magnânimo: “Serei o presidente de todos os americanos”. Ele também confirmou uma de suas promessas: “Os esquecidos homens e mulheres de nosso país agora serão lembrados”.
O czar Putin rejubilou-se. Talvez tenha sido o único líder mundial a festejar a escolha dos eleitores americanos. O boliviano Evo Morales disparou: “Nos EUA valem mais as armas que os votos”. Do Irã surgiu um apelo: “Que o acordo nuclear fechado com o presidente Obama seja mantido”. Mas em geral prevalecem a incerteza e o susto, agravados pelo mercado financeiro despencando.
Uma revista americana publicou em outubro um ensaio explorando como seria a Casa Branca de Trump. A primeira medida que ele iria tomar seria desfazer alguma decisão importante do presidente Obama, para marcar presença e gerar forte impacto. A escolha recairia, então, sobre o acordo de mudança do clima de Paris. Mesmo na ficção, Trump não se torna um presidente palatável para os Estados Unidos e o mundo.
A realidade só começará a ser revelada em cerca de 70 dias.
(Textos de outros colunistas sobre a eleição de Donald Trump: http://correiodobrasil.com.br/trump-na-casa-branca-nao-e-o-fim-do-mundo/ ; http://correiodobrasil.com.br/trump-sera-como-lula-primeiro-ruge-mas-depois-mia/ ; http://correiodobrasil.com.br/este-e-o-homem-que-votou-no-trump/ ; http://correiodobrasil.com.br/trump-o-novo-capataz-do-imperio/ ; http://correiodobrasil.com.br/trump-e-classe-operaria-branca/ ).
Moisés Rabinovici, jornalista e grande repórter, correspondente durante muitos anos do Estadão em Israel, redator da Agência Estado, diretor dez anos do Diário do Comércio de São Paulo, até o fechamento da edição papel do jornal pela Associação Comercial de São Paulo.
Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.
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