As pessoas perdem seu emprego por causa da automação, por causa de novas tecnologias, não por causa do México ou da China. As pessoas perdem seus empregos porque algumas indústrias, como a de extração de carvão, se tornam obsoletas.
Por José Inácio Werneck, de Bristol, EUA:
Os operários brancos e nacionalistas vítimas da automação vingaram-se votando em Trump
Foi a vitória dos luditas (o termo ludita (do inglês luddite) identifica toda pessoa que se opõe à industrialização ou a novas tecnologias), a classe operária branca que está perdendo seus empregos em indústrias como extração de carvão e manufaturas e põe a culpa na globalização, em acordos de comércio, em tratados para combater o aquecimento global, no México, na China…
Na realidade eles estão perdendo seus empregos para a automação, para novas tecnologias, para a computerização, para a inovação, assim como os luditas se sentiram prejudicados durante a Revolução Industrial e saíram em campo quebrando tudo quanto era máquina, porque achavam que as máquinas estavam roubando seus empregos. Mas quem cantou vitória na batalha? Os luditas ou as máquinas?
As pessoas perdem seu emprego por causa da automação, por causa de novas tecnologias, não por causa do México ou da China. As pessoas perdem seus empregos porque algumas indústrias, como a de extração de carvão, se tornam obsoletas. Mas pessoas podem e precisam ser reeducadas, retreinadas, precisam aprender novas habilidades. Tais trabalhadores devem, é claro, ser ajudados pelos governos em tempos de transição, mas acreditar que seus velhos empregos sempre estarão no cenário é ridículo, porque o mundo não pára.
Abro um parêntese para dizer que me lembro, nos idos de 60, de uma época em que trabalhei no jornal Última Hora, no Rio de Janeiro. Havia dois colunistas do jornal – um deles o Maneco Müller (Jacinto de Thormes) mas não recordo o nome do outro – que só escreviam à mão, porque nunca tinham aprendido datilografia. A Última Hora mantinha um empregado na oficina cuja especialidade era decifrar a caligrafia do Maneco e do outro colunista. Quer dizer: tal empregado não podia ser demitido enquanto Maneco e o outro continuassem a escrever para a Última Hora. Fecho o parêntese.
Donald Trump ganhou a eleição apelando para os instintos mais básicos – incluindo, é claro, uma grande dose de racismo e de xenofobia – dos setores menos educados da sociedade americana. Basta olhar o mapa e ver os estados que deram a vitória a Trump no Colégio Eleitoral
Os mercados, cuja defesa os Republicanos tanto proclamam, entraram em pane em todo o mundo. Mas Donald Trump não poderá governar de acordo com as promessas que fez em campanha, porque o mundo não pára. Alguém acredita mesmo que Trump erguerá um “gigantesco muro” ma fronteira e obrigará o México a pagar por ele?
A resposta, como na velha canção do Prêmio Nobel Bob Dylan, está flutuando no vento…
(Textos de outros colunistas sobre a eleição de Donald Trump: http://correiodobrasil.com.br/trump-na-casa-branca-nao-e-o-fim-do-mundo/ ; http://correiodobrasil.com.br/trump-sera-como-lula-primeiro-ruge-mas-depois-mia/ ; http://correiodobrasil.com.br/este-e-o-homem-que-votou-no-trump/ ; http://correiodobrasil.com.br/trump-o-novo-capataz-do-imperio/ ).
José Inácio Werneck, jornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. Cobriu Jogos Olímpicos e Copas do Mundo no exterior. Foi locutor, comentarista, colunista e supervisor da ESPN Internacional e ESPN do Brasil. Colabora com a Gazeta Esportiva. Escreveu Com Esperança no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.
Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins.
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