Ficou claro durante a campanha que o grande capital preferia Hilary Clinton, daí a manipulação da mídia que lhe dava quase sempre vantagem. Agora, com o fato consumado, a tarefa imediata é enquadrar o novo presidente.
Por Tarcísio Lage, de Hilversum, Holanda:
Agora que o Trump ganhou e as carpideiras de catástrofes tomam conta da mídia planetária, uma boa pergunta é saber quanto tempo o império vai gastar para enquadrar o novo presidente.
Quando da primeira eleição de Obama o clima era o oposto, suspiros de alívio e a certeza de que o novo presidente acabaria com o pesadelo de Bush. Não acabou, as promessas de Obama de retirar imediatamente as tropas invasoras do Iraque e do Afeganistão, de fechar Guantánamo não se concretizaram, E por que? Simplesmente porque não era do interesse imediato do império que isso acontecesse e o presidente dos EUA é um capataz do império.
Com Donald Trump, em matéria de política internacional, estou quase seguro que seu enquadramento será antes mesmo da posse. Ficou claro durante a campanha que o grande capital preferia Hilary Clinton, daí a manipulação da mídia que lhe dava quase sempre vantagem. Agora, com o fato consumado, a tarefa imediata é enquadrar o novo presidente.
Pode ser que em relação à política interna, haja um retrocesso inicial nos primeiros anos de governo, tensão com imigrantes, quebra de benefícios sociais, mas logo tudo volta como dantes no quartel de Abrantes. A força dos imigrantes nos EUA, sua importância para o sistema econômico, acrescido do poder político da comunidade negra, vai dificultar que Trump cumpra suas promessas de palanque, tipo erguer um imenso muro na fronteira com o México e expulsar todos os ilegais do país.
A democracia burguesa nos EUA talvez seja a que tenha as bases mais sólidas em todo o mundo. O grande capital tem muita força no Congresso para cortar as asas de qualquer presidente com ares absolutistas. A não ser que aconteça algo totalmente imprevisto, o governo Trump não será muito diferente de um hipotético, aliás, descartado, governo Hilary.
Eu amo este país! I liove this country! Disse Trump pouco depois de ser eleito. Evidentemente ele vai querer marcar seu governo com essa capa de patriotismo exacerbado. No entanto, entre o discurso e a prática há um mar revolto que se chama política. Trump terá de atravessá-lo na nau do grande capital financeiro, que não admite manobras de alto risco.
A outra nau? Ah, essa é a nau dos que não querem o navio do poder econômico e, no momento, está muito avariada, sem previsão de conserto. Talvez seja necessário esperar décadas.
(Textos de outros colunistas sobre a eleição de Donald Trump: http://correiodobrasil.com.br/trump-na-casa-branca-nao-e-o-fim-do-mundo/ ; http://correiodobrasil.com.br/trump-sera-como-lula-primeiro-ruge-mas-depois-mia/ ; http://correiodobrasil.com.br/este-e-o-homem-que-votou-no-trump/ )
Tarcísio Lage, jornalista, escritor, começou na Última Hora de Belo Horizonte no início dos anos 60. Com o golpe de 1964 teve de deixar a cidade e o curso de Economia na UFMG. Até 1969, quando foi condenado pela (In) Justiça Militar, trabalhou em várias redações do Rio e São Paulo. Participou da tentativa de renovação da revista O Cruzeiro e da reabertura da Folha de São Paulo, em 1968. Exilado no Chile no final de 1969, trabalhou, em seguida, em três emissoras internacionais: BBC de Londres, Rádio Suiça, em Berna, e Rádio Nederland, em Hilversum, na Holanda, onde vive atualmente. As Tranças do Poder é seu último livro.
Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista e escritor Rui Martins.
O post Trump, o novo capataz do Império apareceu primeiro em Jornal Correio do Brasil.