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Uma repactuação social necessária

26 de Junho de 2017, 7:57 , por Jornal Correio do Brasil - | No one following this article yet.
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O atual presidente não mostra nenhuma grandeza, pois não pensa no povo e nas graves consequências de suas medidas sociais

Por Leonardo Boff – do Rio de Janeiro:

Seguramente não estou enganado se disser o que se está passando na cabeça das pessoas e se ouve por todas as partes: assim como está, o Brasil não pode continuar. A corrupção generalizada, porque foi naturalizada, contaminou todas as instâncias públicas e privadas. A política apodreceu. A maioria dos parlamentares não representa o povo, mas os interesses das empresas que financiaram suas campanhas eleitorais. São velhistas, perpetuando a política tradicional das coligações espúrias, das negociatas e dos conchavos a céu aberto.

O Brasil não pode continuar do jeito que está

O atual presidente não mostra nenhuma grandeza, pois não pensa no povo e nas graves consequências de suas medidas sociais. Mas em sua biografia. Entrará seguramente na história. Mas como o presidente das anti-reformas. O presidente ilegítimo do anti-povo que desmantelou os poucos avanços sociais que beneficiavam as grandes maiorias sempre maltratadas.

O projeto dos que deram o golpe parlamentar é do mais radical neoliberalismo. Em crise no mundo inteiro, que se expressa pelas aceleradas. Privatizações e pelo atrelamento do Brasil ao projeto-mundo. Para o qual o povo e os pobres são estorvo e peso morto. Esta maldição eles não merecem. Lutaremos para que haja ainda um mínimo de compaixão. E de humanidade que sempre faltou por parte dos herdeiros  da Casa Grande. 

Estamos num voo cego em um avião sem piloto. Há poucos que ousam apresentar um novo sonho para o Brasil. Mas tenho para mim, que o cientista politico, de sólida formação acadêmica, Luiz Gonzaga de Sousa Lima, o tentou com seu livro

A refundação do Brasil: rumo a uma sociedade biocentrada (Rima, São Carlos 2011). Infelizmente até agora não recebeu o reconhecimento que merece. Mas aí se vislumbra uma visão atualizada com o discurso da nova cosmologia, da ecologia e contra o pensamento único, recolhendo as alternativas para  um outro mundo possível.

Permito-me resumir seu instigante pensamento que o expus, com mais detalhes, neste Jornal do Brasil em maio de 2012.

O desafio

O desafio, para ele,  consiste em gestar um outro software social  que nos seja adequado e que nos desenhe um futuro diferente. A inspiração vem de algo bem nosso: a cultura brasileira. Esta foi elaborada mormente pelos escravos e seus descendentes, pelos indígenas que restaram, pelos mamelucos, pelos filhos e filhas da pobreza e da mestiçagem. Gestaram algo singular, não desejado pelos donos do poder que sempre os desprezaram e nunca os reconheceram como sujeitos de direitos  e filhos e filhas de Deus.

O que se trata agora é refundar o Brasil, “construir, pela primeira vez. Uma sociedade humana neste território imenso e belo; é habitá-lo, pela primeira vez, por uma sociedade humana de verdade. O que  nunca ocorreu em toda a era moderna, desde que o Brasil foi fundado como uma empresa mundializada.

Fundar uma sociedade é o único objetivo capaz de salvar nosso povo”.Trata-se de passar do Brasil como Estado economicamente globalizado. Como querem os atuais governantes depois do golpe parlamentar. Para o Brasil como sociedade biocentrada,vale dizer. Cujo eixo estruturador é a vida em toda sua diversidade; a ela se ordena tudo mais, mormente a economia e a política.

Ao refundar-se como sociedade humana biocentrada, o povo brasileiro deixará para trás a modernidade, apodrecida pela injustiça e pela ganância, e que está conduzindo a humanidade, por causa da falta de sentido ecológico,  a um caminho sem retorno.

Não obstante, a modernidade entre nós, bem ou mal. Nos concedeu forjar uma infra-estrutura material que pode nos permitir a construção de uma biocivilização. Que ama avida humana e a comunidade de vida, que convive pacificamente com as diferenças. Dotada de incrível  capacidade de integrar e de sintetizar os mais diferentes fatores e valores. Estes que estão sendo negados pela onda de ódio e de preconceito surgida nos últimos tempos e que contradiz nossa matriz fundamental.

Esperança

É neste contexto que Souza Lima associa a refundação do Brasil às promessas de um tipo novo de sociedade. Diferente daquela que herdamos do passado, agora com a atual crise, agonizando. Incapaz de projetar qualquer horizonte de esperança para o nosso povo. Para este propósito se faz urgente uma reforma política que embasará uma  nova repactuação social.

Para esta repactuação dever-se-á colocar a nação como referência básica e não os partidos e contar com a boa-vontade de todos para, finalmente, gestar algo novo e promissor.

Minha esperança não arrefece e se traduz no verso de Thiago de Mello dos tempos sombrios da ditadura militar: ”faz escuro, mas eu canto”.

 

Leonardo Boff é teólogo, escritor e professor universitário, expoente mundial da Teologia da Libertação.

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Fonte: http://www.correiodobrasil.com.br/uma-repactuacao-social-necessaria/

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