Entre os integrantes da quadrilha de Cunha que, segundo os investigadores da Polícia Federal (PF), foi formada para promover o maior esquema de corrupção de que se teve notícia na estatal brasileira do petróleo, a Petrobras, estaria o ex-governador Moreira Franco
Por Redação – de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo
O juiz Sergio Moro, titular da Vara Federal do Paraná, já reservou uma cela para o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Tão logo seja cassado, nesta segunda-feira, Cunha estará à disposição da Justiça para responder aos crimes de que é acusado na Operação Lava Jato. O ex-presidente da Câmara, no entanto, estaria pronto a prestar uma delação premiada e entregar seus cúmplices, em troca de uma pena menor para ele e a dispensa da mulher, a jornalista Claudia Cruz, no processo.

Moreira Franco foi ministro da presidenta Dilma Rousseff e agora ocupa uma vaga no ministério do presidente de facto, Michel Temer
Entre os integrantes da quadrilha de Cunha que, segundo os investigadores da Polícia Federal (PF), foi formada para promover o maior esquema de corrupção de que se teve notícia na estatal brasileira do petróleo, a Petrobras, estaria o ex-governador Moreira Franco, atual ministro sem pasta do governo empossado após o golpe de Estado deflagrado no último dia 13 de Maio. A notícia foi veiculada na última edição do diário conservador carioca O Globo, na coluna do jornalista Lauro Jardim:
“A julgar pela impressão de parlamentares ainda fiéis que estiveram com Eduardo Cunha nos últimos dias, o notório deputado cairá atirando. E o primeiro alvo será Moreira Franco”, revela o colunista. A notícia, porém, não é nova. Há cerca de um mês, o Correio do Brasil já havia publicado que Cunha prepara sua delação à Justiça e pretende entregar, um a um, os envolvidos no esquema de corrupção.
Cunha cassado
Para o deputado Henrique Fontana (PT-RS), agir contra a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Congresso significa se “incinerar em praça pública”, como afirmou a jornalistas.
Fontana acredita que a tentativa de aliados de Cunha de aplicar a ele uma pena alternativa à cassação, como uma suspensão, nesta segunda-feira 12, é “um deboche com o País”, mas uma ideia que “não vai prosperar”.
— Não cassar o mandato de Eduardo Cunha seria um ato de desrespeito grave contra toda a lógica que deve funcionar dentro de um Parlamento, seria uma agressão ao próprio sentimento das pessoas. Acharia um deboche com o País alguém levantar essa ideia de uma pena menor do que a cassação para um cara que cometeu o conjunto de crimes que ele cometeu. Agora, se o Parlamento quer se incinerar em praça pública, que assumam aqueles que querem isso — diz o petista.
Fontana avalia que o processo de cassação de Cunha e o impeachment de Dilma Rousseff estão interligados. “Vai ser mais uma demonstração da ilegitimidade da cassação da presidente Dilma, da injustiça que foi a cassação. Vai tornar ainda mais claro o fato de que o grande líder do processo de impeachment é um dos maiores símbolos de corrupção”.
História complexa
Os pouco mais de 19 meses de ascensão e queda de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) abrigaram acontecimentos marcantes nos salões, gabinetes e plenários da Câmara. Prestes a completar 58 anos de idade — seu aniversário é no dia 29 —, o deputado do PMDB foi eleito para comandar a Casa após derrotar em primeiro turno o candidato oficial do governo de Dilma Rousseff, em fevereiro de 2015, e desde então se transformou em um dos protagonistas da cena política nacional.
Político de bastidores e com péssima fama nos corredores do Congresso, Cunha ancorou sua eleição na insatisfação parlamentar contra Dilma, de um lado, e na rede de cerca de cem deputados que receberam recursos para suas campanhas por intermédio do peemedebista –ele admite ter acionado empresários para ajudar apenas os candidatos do PMDB. Sua gestão pode ser dividida em capítulos, a maioria deles polêmicos e conturbados.
Desde o início o presidente da Câmara jogou por terra a promessa de não ser fonte de instabilidade política e partiu para o confronto com os adversários. O líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), o ministro da articulação política de Dilma, Pepe Vargas (PT-RS), e o ministro Cid Gomes (Educação) foram os primeiros a perder os cargos.
A força de Cunha era tal na época que ele anunciou em primeira mão a demissão de Cid —confirmada por Dilma no mesmo dia— após o ministro lançar contra ele suspeita de achaque. Aloizio Mercadante (Casa Civil), outro desafeto, tomou um “gelo” que o inviabilizou no cargo. Em um segundo movimento, o peemedebista patrocinou um ritmo intenso de votações no plenário da Casa, batendo o recorde de aprovação de projetos que não tinham participação do Planalto. Contribuiu a combinação de um governo enfraquecido com a cobrança da presença dos deputados.
Foram aplicadas diversas derrotas a Dilma, seja no campo econômico, com temas que elevaram os gastos federais, seja no comportamental, em que passaram projetos que contrariam a esquerda, como a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos em alguns casos.
Incluso na Lava Jato
Coube a uma ação vinda de fora do Legislativo ou do Executivo impulsionar ainda mais a escalada de ineditismos da gestão de Cunha. Incluído na lista de investigados por suspeita de participação no petrolão, o peemedebista foi à CPI que investigou o caso em março de 2015. Acabou ovacionado por quase todos os colegas.
Nessa sessão, Cunha declararia não ter “qualquer tipo de conta” no exterior, o que depois da revelação de dinheiro seu na Suíça virou a base de seu processo de cassação, iniciado por representação de PSOL e Rede em 13 de outubro de 2015. Nos 355 dias que separam essa representação da sessão em que Cunha pode ser cassado, nesta segunda-feira, ele e aliados patrocinaram manobras para tentar enterrar o caso. Entre outras ações, o relator foi trocado e a primeira votação, anulada.
Uma fracassada tentativa de acordão com o governo Dilma o levou a deflagrar a tramitação do processo de impeachment da petista no início de dezembro de 2015. Cunha trabalhou metodicamente na condução política e regimental desse processo, que culminou com a aprovação da autorização para a abertura do processo de destituição, em abril deste ano.
Mais uma vez de forma inédita, o STF decidiu dias depois, em 5 de maio, afastá-lo do cargo e do mandato sob o argumento de que ele usava suas funções para atrapalhar as investigações contra ele. Réu em duas ações penais no STF e alvo de outras investigações na Corte, sob a acusação de ser um dos protagonistas do escândalo, Cunha tentará nesta segunda um feito inédito: à beira de uma eleição em que os deputados estão mergulhados, ser o primeiro político a não perder o mandato desde que as votações de cassação deixaram de ser secretas, em 2013.
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