Por Gilberto de Souza – do Rio de Janeiro
É preciso crer, piamente, na Justiça brasileira. E, por acreditar que esta é uma grande nação, e não uma ‘republiqueta’, como se referiu o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, ao afirmar que os brasileiros precisarão definir se construímos uma, ou a outra, é necessário seguir os exatos termos do justo processo legal para, ao final do julgamento, mandar alguém para trás das grades. Para a cadeia. Para cumprir, em regime fechado, o tempo que a Lei assim determina.
Antes de mais nada, na fase atual da denúncia ao presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), os promotores daqui debulham, tintim por tintim, o rico material encaminhado, de mão beijada, pela contraparte suíça. Por não ser segredo nenhum para ninguém — como definiu, nesta quinta-feira, o mesmo STF onde ocorrerá o julgamento do parlamentar uma vez aceita a denúncia, a minuciosa denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) — a fase seguinte do rito processual transformará o ora suspeito em réu no processo. Leva um tempo até que isso aconteça e, ressabiado, o mais pio dos brasileiros percebe que não faltam atores para fazer de tudo contra a chegada do processo ao seu destino.
Resistir é tudo o que cabe ao acusado. Quanto mais esperneia e desliza e dribla e nega e esbraveja, melhor. Trata-se de ninguém menos do que o terceiro na linha sucessória da República. Não se pode esperar que entregue os pontos com a mesma rapidez e celeridade com que a Suíça lhe preparou o cenário lúgubre dos próximos anos. Como fluminense, uma vez condenado, talvez use sua influência para cumprir pena no Instituto Penal Francisco Spargoli Rocha, em Niterói, onde o ex-colega Roberto Jefferson passou dias modorrentos, enquanto pagava por uma roubalheira quase do mesmo tamanho dessa, da qual Cunha é acusado.
O que merece registro, no entanto, é o pragmatismo imoral das legendas de direita. Não que se deva esperar grandes arroubos de moralidade do DEM, do PSDB ou de qualquer das legendas rebutalhas que orbitam em torno de interesses os mais escusos, tamanha é a lista de trambiques dos quais participaram — e ainda participam — muitos de seus mais ilustres integrantes. Convenhamos que não serão pueris raposas políticas que, há décadas, dominam a planície do Congresso brasileiro. Foram capazes, ao longo de séculos, de impedir realizações das mais básicas ao país, como as reformas agrária e urbana, apenas para citar duas delas. Eles sabem o que fazem e a que senhor devem servir.
Mas os tempos mudam. Recentemente, prenderam o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu. Sem uma prova sequer, apenas porque os fatos apontavam na direção de que ele “sabia de tudo”. Não satisfeitos, consideraram-no o chefe de uma quadrilha da qual até o probo ex-deputado José Genoino fazia parte. Ainda bem que, para o beneplácito da história, anularam o processo contra o ex-guerrilheiro e fundador do Partido dos Trabalhadores. Na composição anterior do STF, o pau só cantou no lombo do Chico. Com as últimas decisões da Corte atual, começa a bater em Francisco.
Parece que os neoliberais, mesmo os mais alucinados, já perceberam que a canoa do acusado vai, inexoravelmente, afundar. Ainda assim, tentam fazer com que tramite, no Congresso, um processo de impedimento à presidenta Dilma Rousseff. Jogam com a estabilidade da economia, da sociedade brasileira, do Brasil, como se treinassem em um tabuleiro. Têm plena consciência de que a chance de uma estupidez dessas acontecer é zero, seja nos tribunais, seja nas ruas. Mas insistem, como se da insanidade possa nascer a esperança para golpistas de toda sorte.
Tudo indica, assim, que a Justiça prevalecerá. Cunha será preso. Dilma terminará seu mandato. O Brasil tende a superar o atual momento de extrema dificuldade que vive, nos campos econômico e político e, em 2018, uma nova eleição acertará os ponteiros internos do país. Este, sim, será o momento para o eleitorado ajustar as contas.
Até lá, haja paciência.
Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do diário Correio do Brasil.