Por uma atitude insensata, a presidenta Dilma Rousseff deteriorou — ainda mais — as condições econômicas do país ao convidar, logo após o resultado das urnas, um dos mais virulentos agentes do sistema financeiro global
Por Gilberto de Souza – do Rio de Janeiro
O ano de 2015, que parecia uma eternidade, enfim, termina. Com ele, seguem para a História os piores momentos já vividos pela mídia independente, no Brasil. Pressionados pelas exigências de mercado, que preveem condições animalescas para o desempenho na audiência e no alcance das edições, tanto online quanto impressas, os veículos de comunicação que sobrevivem longe do halo produzido pelas seis famílias que dominam e cartelizam a imprensa, no país, precisam ser heróis para permanecer vivos.
O preço que a independência cobra é alto. Ao completar, neste 1º de Janeiro, o seu 16º Ano, o Correio do Brasil paga, mais uma vez, para se distanciar dos níveis de influência que o capital exerce sobre a Opinião Pública brasileira. Sempre que um cidadão, uma cidadã, liga um aparelho de TV, de rádio, ou passa em frente a uma banca de jornal e revistas, ocorre o contato direto com vetores do conservadorismo e da subserviência às regras de um sistema que, dia após dia, mostra-se ineficiente e incapaz de gerir as necessidades mais básicas da vida.
Por uma atitude insensata, a presidenta Dilma Rousseff deteriorou — ainda mais — as condições econômicas do país ao convidar, logo após o resultado das urnas, um dos mais virulentos agentes do sistema financeiro global, pronto a desfechar uma estocada, sem piedade, nos empregos, na renda, na vida dos trabalhadores. Os mesmos que a elegeram e reelegeram para mais quatro anos. A defesa do desemprego, da alta nos juros e da recessão foi uma receita que falhou e, alertado pelas ruas, agora no fim do ano, o Planalto retrocedeu e optou pela mudança no Ministério da Fazenda. Meno male.
Imprensa de resistência
A mesma orientação que falhou na vida real, porém, permanece válida para o segmento da comunicação institucional do governo, que segue radiante no caminho da derrocada final, em 2018, diante das forças da ultradireita, como ocorreu na vizinha Argentina. Dilma não parou de alimentar, um minuto sequer, os cães da matilha que a acossa desde os primeiros minutos no cargo, há seis anos. Malandros, os donos da mídia conservadora defendem, de plano, a democracia e o ‘devido processo legal’ para o impedimento da presidenta da República. Mas, sob a mesa, deixam trafegar as ameaças de golpe e saem em defesa de quaisquer grupelhos fascistas que preguem a volta da ditadura militar. A defesa do golpismo fica ao encargo das penas de aluguel.
A resistência à tentativa de abreviar a democracia brasileira, porém, é deixada à mesma mídia independente que os Três Poderes fazem questão de reprimir, seja pela míngua no campo da publicidade legal, seja na dificuldade para se chegar às fontes de informação, ou na absoluta desfaçatez quanto ao desrespeito cometido, em ambos os casos. Enquanto o Palácio do Planalto brinda as mesmas emissoras de rádio e TV, os jornais e as revistas comprometidas com o golpe de Estado em curso, na régia distribuição de recursos publicitários, em plena crise econômica, penaliza os meios de comunicação que integram a Cadeia da Legalidade formada, a exemplo do que fez o bravo governador gaúcho Leonel Brizola no século passado, uma vez mais, a pedido do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT).
É legítimo afirmar que, a permanecer a mesma correlação de forças entre a mídia conservadora e a imprensa independente, no ano que se inicia, a presidenta Dilma precisará dizer, com clareza, a que veio no seu segundo mandato. O impedimento não ocorrerá, se depender da resistência formada nos meios progressistas de comunicação e nos movimentos sociais, mas a distância tende a aumentar, em muito, caso permaneça a atual política de apoio do Planalto ao cartel que domina a planície da Comunicação Social, hoje, neste país.
Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do diário Correio do Brasil.