Há nomes mais indicados para limpar o cenário, após a tentativa de golpe e a eventual renúncia de Eduardo Cunha
Por Gilberto de Souza – do Rio de Janeiro
O golpe de Estado que as forças da ultradireita tentam contra a presidenta Dilma Rousseff está por um fio. O fracasso das manifestações deste domingo deixou claro que a Opinião Pública brasileira soube ponderar entre a realidade dos fatos e o discurso golpista dos conservadores. A liderança do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) passou, imediatamente, a ser questionada nas hostes do partido ligadas ao discurso de apoio ao impeachment.
Setores do PMDB lançaram, nesta segunda-feira — em uma tentativa de resposta à derrota do movimento golpista, nas ruas — o nome do deputado Jarbas Vasconcelos (PE) para a imediata substituição de Cunha na Presidência da Câmara. Se tentar, mesmo, este movimento, a direção da legenda terá aberto a janela para que o parlamentar fluminense possa escapar da ‘guilhotina’, imediata, na tentativa de assegurar o mandato até meados do ano que vem. Vasconcelos, inimigo figadal da esquerda, passaria a conduzir o processo imaginado contra a presidenta.
O plano é viável, mas as chances de um contratempo é alta. De volta às ruas, tende a aumentar — exponencialmente — o apoio dos movimentos sociais, dos sindicatos, dos estudantes, dos partidos da esquerda à manutenção da democracia e da governante eleita até 2018. O cenário que se desenha, a partir da vontade popular expressa nas manifestações previstas para as próximas semanas, é de um enfrentamento mais direto aos conservadores. À exemplo da França, onde os políticos neonazistas apontaram na dianteira das eleições parciais em uma semana e foram empurrados para o terceiro lugar nos sete dias que se seguiram, o destino do golpe, no Brasil, segue destino semelhante.
Não vai ter golpe
Uma vez fracassada a tentativa de um novo golpe, vergonhosa para a História do Brasil, será necessário contabilizar quantos deputados ainda permanecerão fiéis do líder em queda, no Conselho de Ética, de onde Cunha poderá sair com o mandato a ser julgado no Plenário da Câmara. A pressão sobre o PMDB em caso de renúncia, como se estuda na direção nacional da legenda, durante a campanha para permanecer à frente da Casa, tende a provocar rachaduras e a base aliada, com o mandato da presidenta Dilma fortalecido, passa a atuar de forma intensiva contra a eleição de Vasconcelos.
Há nomes mais indicados para limpar o cenário, após a eventual renúncia de Eduardo Cunha. Ele deverá recuar, o quanto antes, para que o palco todo não desabe nas cabeças dos poucos atores da ópera bufa em que se transformou a tentativa de golpe contra a democracia brasileira. Uma saída de cena, nessa altura dos acontecimentos, deixaria Cunha com tempo livre para protelar a perda iminente do mandato e, consequentemente, sua possível prisão no âmbito da Operação Lava Jato.
A estocada final na aventura do impeachment, prestes a ocorrer no Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quarta-feira, também fere de morte o terceiro turno das eleições de 2010, no qual o candidato tucano derrotado Aécio Neves tenta um novo confronto com a adversária petista. A se concretizar este cenário, a exemplo do que o Correio do Brasil previu no editorial do dia 4 deste mês, os três anos que restam de governo à presidenta Dilma começam em 2016.
Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do diário Correio do Brasil.