Ir para o conteúdo

Correio do Brasil

Voltar a Opinião
Tela cheia Sugerir um artigo

Jogos Mundiais Indígenas: sufoco e desorganização

23 de Outubro de 2015, 15:04 , por Jornal Correio do Brasil » Opinião Arquivo | Jornal Correio do Brasil - | No one following this article yet.
Visualizado 44 vezes

Por Egon Dionísio Heck, – de Mato Grande do Sul:

Na semana de abertura dos jogos, correria e custos adicionais. Ainda está muito vivo na memória das populações das cidades que sediaram jogos da Copa do Mundo, no ano passado, os transtornos, sufocos e o festival de obras inacabadas. Tudo indica que desta vez também não será diferente.

WebObras permanentes prometidas e projetadas, como um museu do índio e piscina olímpica, ficaram apenas na promessa. Fica no ar a pergunta: será que o dinheiro fugiu, algum ralo se abriu, alguma conta bancária engordou? Ou será que foi mesmo blefe, com total desconsideração para com os povos indígenas e a população da cidade sede dos jogos, iludidos com os inúmeros benefícios?

Apesar dos Jogos Mundiais Indígenas terem sido adiados duas vezes, mesmo assim a infraestrutura, que ficou por conta da prefeitura de Palmas, parece ter sido adiada até os últimos dias antes dos jogos. São melancólicas, para não dizer tétricas, as paisagens do ambiente dos jogos, cheia de tocos de árvores arrancadas que nada tem a ver com a mensagem de vida e respeito à natureza que os povos indígenas trazem para o mundo e o planeta Terra.

Nos bastidores

Começam a circular, no calor de Palmas (na chegada o copiloto anunciou que a temperatura na capital do Tocantins era de 42 graus), as denúncias com relação ao tratamento dispensado aos voluntários indígenas. Segundo essas informações, dos 550 voluntários cadastrados, 250 estão em Palmas. Esses informes dão conta de uma generalizada desorganização, falta de atenção e consideração para com os voluntários. Atribuem a responsabilidade pelos desmandos à prefeitura que os colocou em local inadequado para hospedagem e carestia de alimentação.

“Tem voluntários indígenas que chegaram sem ter pra onde ir e dormir. Eles negaram a estes voluntários que ficassem hospedados com os parentes das delegações que participarão dos jogos (que vão ficar numa área restrita que nem eles como voluntários poderão acessar)… e nesse jogo cada um está jogando pra cima do outro, prefeitura, Comitê, PNUD… Só estando aqui para acreditar nisso”.

Membros da União dos estudantes indígenas estão muito insatisfeitos.

Muitas reclamações com relação ao descaso e tratamento com que a prefeitura de Palmas dispensou a voluntários: “Chegamos aqui e a prefeitura (que ficou responsável pela gestão dos recursos do Ministério dos Esportes para aplicar na infraestrutura, inclusive para os voluntários) colocou a gente num camping que não dava para dormir (muito calor, sem árvore nenhuma e em cima de asfalto) e que sequer tinha água nos banheiros… Fora a alimentação, que ontem conseguimos ter uma reunião com a secretaria e eles vão dar mais de uma refeição pra gente… Eles disseram que se a gente quisesse mais de uma refeição a gente teria que trabalhar em mais de um turno… difícil, né”.

 

“Também somos indígenas”

O slogan visto na placa não condiz, portanto, com a realidade constatada.

Quiçá seja esse um momento para iniciarmos um processo de mudança de mentalidade, superando preconceitos, racismo, descolonizando mentes.

Com os povos indígenas do mundo façamos a solene declaração do Conselho Mundial dos Povos Indígenas, de 1975:

“Nós, povos indígenas do mundo, unidos numa grande Assembleia de Homens Sábios, declaramos a todas as nações:

Quando a terra-mãe era nosso alimento

Quando a noite escura formava nosso teto,

Quando o céu e a lua eram nossos pais,

Quando éramos irmãos e irmãs,

Quando nossos caciques e anciãos eram grandes líderes,

Quando a justiça dirigia a lei e sua execução,

Aí outras civilizações chegaram!

Com fome de sangue, de ouro, de terra e de todas as suas riquezas, trazendo numa mão a cruz e na outra a espada, sem conhecer ou querer aprender os costumes de nossos povos, nos classificaram abaixo dos animais, roubaram nossas terras e nos levaram para longe delas,

Transformando em escravos os “filhos do sol”.

Entretanto não puderam nos eliminar;

Nem nos fazer esquecer o que somos,

Porque somos a cultura da terra e do céu, somos de uma

Ascendência milenar e somos milhões,

E mesmo que nosso universo inteiro seja destruído,

Nós viveremos.

Egon Dionísio Heck, é assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) no Mato Grosso do Sul.

 


Fonte: http://www.correiodobrasil.com.br/jogos-mundiais-indigenas-sufoco-e-desorganizacao/

Rede Correio do Brasil

Mais Notícias