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Mensalão tucano, uma história surreal

12 de Novembro de 2015, 9:15 , por Jornal Correio do Brasil » Opinião Arquivo | Jornal Correio do Brasil - | No one following this article yet.
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Por Altamiro Borges – de São Paulo:

Até a Folha tucana está envergonhada e não tem mais como esconder esta história absurda, surreal. No Brasil, como se fosse uma cláusula pétrea, nenhum tucano de alta plumagem vai para a cadeia! Basta se filiar ao PSDB, que a impunidade está garantida.

Em editorial publicado na semana passada, o jornal criticou a morosidade do Judiciário no julgamento do chamado “mensalão tucano” – que até recentemente o próprio veículo chamava carinhosamente de “mensalão mineiro” para aliviar a barra dos culpados. Vale conferir o artigo, que partindo de onde partiu pode representar um novo capítulo na sangrenta guerra no ninho entre os paulistas e os mineiros que se bicam pelo controle da legenda:

Editorial – 04/11/2015

História sem fim

Publicada por esta Folha, a reportagem “Mensalão tucano segue parado na Justiça” mostra que se tornou real um receio manifestado não só por petistas, mas por todos os que esperam do Judiciário uma atuação imparcial, pouco importando para o desfecho do processo as características pessoais do réu – como sua filiação partidária.

Encontra-se parada há nada menos que 19 meses a ação movida contra Eduardo Azeredo (PSDB), ex-governador de Minas Gerais. Remetido aos tribunais mineiros em março de 2014, o caso tardou um ano até chegar aos cuidados da juíza substituta da 9ª Vara Criminal de Belo Horizonte.

Na última sexta-feira, completaram-se mais sete meses sem novidades. Falta apenas a sentença, mas a magistrada reclama, não sem razão, da extensão da ação penal (são 52 volumes). Afirma que só anunciará a decisão após estudá-la a fundo. É justo.

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Pode-se lembrar, todavia, talvez com ainda mais razão, que o processo estava pronto para ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal em fevereiro de 2014. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedia a condenação de Azeredo a 22 anos de prisão.

Segundo a acusação, Azeredo desviou recursos públicos para bancar sua campanha à reeleição, em 1998, por meio de um esquema montado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza – anos depois condenado por participação no mensalão petista.

Doze dias após Janot apresentar suas alegações finais, Azeredo renunciou ao mandato de deputado federal. Com isso, abdicou do foro privilegiado, e o STF enviou o processo à primeira instância.

A manobra surtiu o efeito que Azeredo desejava, e o exemplo logo foi seguido pelo empresário Clésio Andrade (PMDB-MG), que renunciou a seu mandato no Senado em julho de 2014. Seu processo também foi remetido à 9ª vara de Belo Horizonte, onde pouco avançou.

Após tantas delongas, o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia e o tesoureiro da campanha de 1998, Cláudio Mourão, já se livraram das acusações; Azeredo poderá se beneficiar da prescrição em 2018.

No ritmo manso da Justiça diante do chamado mensalão tucano, já não espantará se todos terminarem impunes – e a maior suspeita incidirá sobre o próprio Judiciário.

O editorial é quase irretocável. A Folha só cometeu um erro. A maior suspeita sobre a impunidade de Eduardo Azeredo não incidirá somente sobre o Judiciário. Ela também recairá sobre a mídia parcial e partidarizada. Durante o triste reinado de FHC, a imprensa privatista, empolgada com a imposição do receituário neoliberal de desmonte do Estado, da nação e do trabalho, evitou cumprir o fictício papel do quarto poder, fiscalizando os tucanos. Houve até denúncias de corrupção, mas elas sempre foram tímidas em função da defesa do projeto maior do neoliberalismo. A privataria das estatais e a compra dos votos para a reeleição de FHC, só para citar dois exemplos, nunca foram investigadas a fundo.

Com o novo ciclo político aberto com a vitória de Lula no final de 2002, porém, a mídia partidarizada mudou radicalmente de postura. Como teorizou a tagarela Judith Brito, executiva da própria Folha e então presidenta da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), a imprensa passou a exercer a “posição oposicionista”. Nos últimos anos, principalmente a partir da operação midiática-judicial do chamado “mensalão petista”, o seu esforço foi para criar no imaginário popular a ideia de que a corrupção foi inventada pelo PT. Na prática, a mídia ajudou a chocar o ovo da serpente fascista, que se expressa nas cenas de ódio de alguns midiotas que rosnam pelo “Fora Dilma” e pela volta dos militares ao poder.

Neste período, o julgamento do “mensalão tucano” – que envolveu exatamente as mesmas figuras que deram origem ao “mensalão petista” – simplesmente foi esquecido. Na sua falsa cruzada moralista, a mídia seletiva preferiu ocultar os tucanos acusados de corrupção – sejam os envolvidos no “mensalão mineiro” ou na construção de “aecioporto”, sejam os metidos nas maracutaias do metrô paulista – que a imprensa até hoje rotula carinhosamente de “cartel dos trens”. Neste sentido, a total impunidade dos caciques do PSDB não é culpa, apenas, do Judiciário. A mídia ajudou a construir esta história surreal.

Em tempo: Outra prova cabal de que os tucanos não vão para a cadeia foi dada no final de outubro. O ministro Teori Zavascki, do STF, determinou o arquivamento do inquérito que investigava a denúncia de que o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) recebeu R$ 1 milhão do doleiro Alberto Youssef no esquema de corrupção da Petrobras. Ele acolheu parecer da Procuradoria Geral da República, que não apontou elementos para a continuidade das investigações, contrariando a própria Polícia Federal. O ex-governador de Minas Gerais comemorou a decisão: “Serenamente, confiei na Justiça. E agora ela acontece. Agradeço o apoio de todos”. De fato, basta ser filiado ao PSDB para escapar da cadeia!

Altamiro Borges, é jornalista, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, militante do PCdoB.

 


Fonte: http://www.correiodobrasil.com.br/mensalao-tucano-uma-historia-surreal/

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