Por Frei Betto – do Rio de Janeiro:
Com pouco mais de 11 milhões de habitantes e PIB de US$ 66 bilhões, Cuba enfrenta dificuldades econômicas, a maioria imposta pelo bloqueio decretado pelo governo dos EUA. Apesar disso, como declarou o escritor Leonardo Padura, no programa Roda Viva, em um quarteirão do Brasil há mais moradores de rua do que em toda a Cuba.
Espera-se que o recente reatamento de relações diplomáticas entre os dois países seja consolidado pelo fim do bloqueio e a devolução da base de Guantánamo, utilizada como cárcere ilegal de supostos terroristas sequestrados mundo afora pela CIA.
Por que os ianques, de repente, decidiram baixar a guarda com Cuba, reatando relações e retirando o país da lista das nações “terroristas”? Business, my friend, business! Eles se deram conta de que estão atrasados quanto ao potencial de negócios de Cuba, que já atrai vários países capitalistas, como Espanha, Reino Unido e, agora, França, cujo presidente, François Hollande, visitou a ilha em maio deste ano.
O velho porto de Havana, junto ao bairro colonial da cidade, já não comporta os grandes navios cargueiros. Cuba, por enquanto, se vê obrigada a recorrer ao porto de Kingston, na Jamaica, para exportar e importar mercadorias. Isso representa um custo de US$ 70 milhões por ano, até que fique pronto o novo porto de Mariel.
Mariel está localizado 45km a oeste de Havana. Financiado em US$ 830 milhões pelo BNDES, e com tecnologia de Cingapura e também da China, que fornecerá as gruas, o porto deverá entrar em funcionamento dentro de quatro ou cinco anos. O projeto é da Odebrecht; a mão de obra cubana, bem como técnicos e engenheiros.
O porto terá uma extensão de 2,4 km e profundidade, junto à murada, de 17,9 metros, o que permitirá o atraque de cargueiros de última geração. Será o maior do Caribe, com capacidade de abrigar 1,3 milhão de contêineres ao ano, cada um com até 18 toneladas de carga.
A Zona Especial de Desenvolvimento de Mariel (ZEDM) não se limita ao porto. No entorno serão implantadas indústrias de alta tecnologia para produzir produtos que substituam as importações, bem como os que se destinam ao mercado internacional. Uma ferrovia ligará o porto a Havana e outras localidades.
O complexo de Mariel será favorecido pela modernização do Canal do Panamáque, a partir do próximo ano, duplicará o número de navios que atravessam do Pacífico para o Atlântico. E já se iniciaram as obras de um novo canal interoceânico através da Nicarágua, que deverá ficar pronto em dez anos – caso se vença a resistência dos ambientalistas que se opõem. Este megaprojeto, no valor de US$ 40 bilhões, é financiado pelo multimilionário chinês Wang Jing, de 41 anos, que contratou uma empresa construtora de Hong Kong.
Enquanto Mariel não entra em operação, a economia cubana fica na dependência das divisas obtidas pelo trabalho solidário de médicos e professores em uma centena de países; pelo crescente turismo; e pela exportação de produtos como níquel, açúcar e charutos.
Frei Betto, é escritor, autor de “Paraíso perdido – viagens aos países socialistas” (Rocco), entre outras obras.