O máximo que Barbosa promete de imediato é moderar algo o ajuste fiscal, o que equivale a atenuar alguns milímetros o garrote no pescoço da vítima
Por Redação – do Rio de Janeiro e São Paulo
Cientista político e ex-porta-voz da Presidência da República, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, André Singer afirmou, neste sábado, que a estratégia do governo da presidente Dilma Rousseff para sair da crise econômica e política “praticamente sela a derrota do lulismo em 2018”.
“Pelo desenho enunciado, não haveria tempo de recuperação eleitoral. Na prática, o que Dilma está propondo, tanto ao capital quanto à oposição, é que a deixem concluir o mandato em troca de passar o bastão a outro bloco daqui três anos”, afirma Singer em artigo publicado no diário conservador paulistano Folha de S. Paulo.”A opção minimalista representa o desastre. O PT levará uma tunda nas eleições municipais e Dilma, mesmo se escapar do impeachment, continuará acossada por pressões golpistas. Por isso, Lula e o PT cobram outra postura imediata”, afirma.
Para Singer, ao afirmar que o PT se lambuzou no “financiamento privado”, o ministro Jaques Wagner responde à pressão partidária com uma chamada à responsabilidade de cada um. “Afinal, a crise econômica é também resultado parcial da Operação Lava Jato. O recado é: todos erramos e teremos que pagar o preço juntos, não há salvação individual”, afirma.
Singer aborda também a pouca margem de manobra do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, diante do quadro de aumento do desemprego e a contração da demanda. “O máximo que Barbosa promete de imediato é moderar algo o ajuste fiscal, o que equivale a atenuar alguns milímetros o garrote no pescoço da vítima. Saúde, educação, Estados e prefeituras continuarão à míngua, mas não fecharão as portas”.
Medo e esperança
Ainda neste sábado, outro cientista político — Emir Sader — afirma, também no texto de um artigo publicado na internet, que “há quem diga que o Brasil está dividido entre quem tem medo do Lula e que tem esperança nele. Pode ser exagerado, mas expressa certamente algo da realidade, do imaginário e das expectativas do país”.
“Ele pode estar com fotos na primeira página dos jornais, revistas ou sites. Ou nem ser citado dias inteiros. Mas o seu espectro cruza toda a história brasileira, há varias décadas. Desde que conseguiu, sob sua liderança, romper a espinha dorsal do ‘milagre’ da ditadura, e o santo desse ‘milagre’: o arrocho salarial.
Mais tarde, candidato a presidente, deu o primeiro grande susto nas elites tradicionais, ao passar para o segundo turno contra o Collor. O fracasso deste de novo fez subir o temor, até que veio o alivio, com as vitórias do FHC.
“Mas o fracasso também de FHC recolocou o medo e a esperança na ordem do dia. Não adiantou o pânico que quis se criar – a debandada de empresários, o ‘risco Lula’, a disparada do dólar -, Lula ganhou e aí o espectro se fez carne. Alguém passou a presidir o país colocando em prática tudo o que as elites diziam que era impossível: crescimento com distribuição de renda e controle da inflação, recuperar o papel ativo do Estado, resgatar a auto estima dos brasileiros, projetar uma imagem altamente positiva do Brasil no mundo.
Emir Sader acrescenta que “era demais para a elite tradicional e seu arauto mais conotado: FHC. A grande maioria dos brasileiros, pobres no país mais desigual do continente mais desigual do mundo, graças às politicas das elites tradicionais, passou a acreditar em si mesma e no país, a sentir que seu destino não era sofrer desprovida de todos os direitos fundamentais. E encontrou um dirigente no qual confiar.
“Desde então, a direita reserva toda sua artilharia contra Lula. Não importa que o PT e o governo estejam fragilizados, que não haja nenhuma prova das acusações contra o Lula, o que importa para a direita é acumular suspeitas para tentar construir rejeições ao Lula. Já terminaram com a reeleição – como já tinham feito uma vez -, contra o Lula, diminuíram o tempo de campanha, pelo pânico do Lula falando para todo o país.
“Diante da crise atual e das dificuldades do governo superá-la – especialmente a econômica, que afeta a grande maioria da população –, o medo e a esperança só aumentam. O medo, porque sabem que o Lula é o único dirigente político com credibilidade, com apoio popular e que pode apresentar os resultados do seu governo, para poder construir um bloco de forças e um projeto de resgate democrático da crise. E a esperança, pela mesma razão, do lado de quem foi beneficiário, teve sua vida mudada pelo governo Lula e confia nele”, acrescentou.
“Por tudo isso, é muito medo de um lado e muita esperança do outro”, conclui Sader.