Temer viu a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, atirar um copo na direção do senador José Serra (PSDB-SP), que a chamou de ‘namoradeira’. Aécio Neves deixou a festa carregando doces enrolados em guardanapos
Por Redação – de Brasília
A noite que serviria para coroar o encontro entre a presidenta Dilma Rousseff (PT) e seu vice, Michel Temer (PMDB), terminou em baixaria. Temer foi a um jantar, na noite passada, na residência do líder do partido, Eunício Oliveira (CE), para onde a lista interminável de políticos ligados às forças da direita, no país, rumou na esperança de aparecer diante do nome cotado, no momento, para liderar o golpe contra o mandato petista.
Entre uma baforada e outra no charuto cubano que degustou, o vice confessava à troupe o prazer de, supostamente, ver a presidenta em uma posição humilde, em busca de seu apoio para permanecer no cargo, segundo relato da jornalista Maria Lima, no diário popular carioca Extra Digital.

“Mas o jantar não foi só de confraternização natalina. Em um momento que deixou constrangidos os convidados, a ministra da Agricultura Kátia Abreu e o senador José Serra (PSDB-SP) protagonizaram um verdadeiro “barraco”, que terminou com a peemedebista jogando seu copo de bebida no tucano depois de um bate-boca acalorado provocado por uma brincadeira mal recebida. Nesta quinta-feira no Twitter, a ministra Kátia Abreu confirmou a discussão com Serra e protestou contra a conduta do senador paulista”, relata a repórter.
“Reagi a altura de uma mulher que preza sua honra. Todas as mulheres conhecem bem o eufemismo da expressão “namoradeira”. Foi infeliz, desrespeitoso, arrogante e machista. A reclamação de vários colegas senadores sobre suas piadas ofensivas são recorrentes”, escreveu Katia Abreu.
No espaço aberto da mansão de Eunício Oliveira, perto da piscina, senadores e ministros assediavam Michel Temer, que carrega o título de presidente da República, por 24 horas, durante o tempo em que Dilma assistiu à posse do novo presidente da Argentina, Mauricio Macri. O assunto, segundo a comentarista, era o relato do vice, ora presidente, com a presidenta de fato e de direito. Todos queriam saber, ainda, qual a avaliação dele sobre o desfecho do processo de impeachment, em curso.
Apelo dramático
Quem mais prestava atenção era a ministra Temerministra da Agricultura Kátia Abreu que, supostamente, apoia o governo Dilma. Outro convidado falante foi o senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL), “que passou a noite falando sobre o processo de impeachment que o apeou da Presidência em 1992”, conta Maria Lima.
— Temer ficou surpreso com o apelo dramático que a presidente Dilma fez a ele. Logo ela que é durona e não mostra fraqueza, se emocionou muito — comentava Kátia Abreu entre os colegas. Só faltou dizer que a presidenta Dilma chegou a chorar, durante a conversa. Mas isso ela não disse, claramente.
A conversa entre os convidados era que Dilma, para encontrar Temer, fez um pequeno aquecimento junto com o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, que foi a uma reunião na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com outros senadores do partido. No treino, Dilma fora instruída a aparentar uma certa emoção e fugir dos temas citados na carta desabafo do interlocutor. O objetivo de se discutir a relação seria, somente, a manutenção do PMDB na base aliada, com um nível aceitável de traição, longe do que é praticado, atualmente.
— O vice está deslumbrado e muito embevecido achando que já é o presidente, mas disse que não vai fazer nenhum comentário a respeito. Na conversa ele disse para a presidente Dilma que sua preocupação agora é com o partido que está dividido ao meio. Há em curso um processo paulista, do empresariado e da mídia impulsionando esse seu comportamento de distanciamento da presidente — comentou a ministra Kátia Abreu com interlocutores.
Na festa de Temer, Serra chama Kátia Abreu de ‘namoradeira’
O ex-ministro, ex-governador e atual presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, presente entre os convivas, sugeria, nas conversas, a importância de o PMDB do Senado, que tem dado sustentação a presidente Dilma, se articular mais junto ao partido. “A conversa de mais ou menos 15 minutos de Collor com Temer também chamou a atenção”, reparou a jornalista.
— É a vítima dando lições para algoz — comentou o senador Paulo Bauer (PSDB-SC).

Ao voltar para a mesa em que estavam vários senadores, inclusive o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), Ronaldo Caiado (DEM-GO) e outros, Collor passou a discorrer sobre sua própria experiência de impeachment. Os senadores quiseram saber em que momento ele percebeu que não tinha mais volta, que a cassação será irreversível.
— O momento mais dramático foi quando eu tive que demitir os ministros Bernardo Cabral (Justiça) e Zélia Cardoso de Melo (Economia) . Naquele momento eu perdi o comando do governo. Depois, quando o povo se vestiu de negro, eu senti que perdera a presidência da República — contou Collor, dizendo que na conversa com Temer não tinha abordado como tinha sofrido, o que poderia ser interpretado como um gesto em defesa da presidente Dilma nesse momento.
Até de madrugada
As conversas políticas, porém, a certa altura do jantar, pararam para ver a baixaria que se sucedeu entre a ministra Kátia Abreu e o senador tucano José Serra (SP). “Numa roda, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), que é médico, contava de um episódio em que teve de aplicar uma injeção na ministra. O tucano quis brincar, mas a brincadeira descambou para uma resposta que deixou os senadores surpresos”, relata.
— O que tenho ouvido é que você tem fama de ser muito namoradeira — brincou Serra.
— Me respeite que sou uma mulher casada e mesmo quando solteira, ao contrário de você, nunca traí — reagiu a ministra, segundo as testemunhas presentes, arremessando um copo na direção do senador tucano.
Serra, porém, não deixou o caso esfriar e, como Temer, foi um dos últimos a deixar a festa. Temer chegou pouco depois das 23h e por volta de 2h da madrugada ainda permanecia na casa de Eunício.
— Temer hoje não dá para quem quer. Está todo mundo encostando nele para perguntar de Dilma e das outras coisas — disse o ministro da Saúde, Marcelo Castro.
“Aécio deixou a festa carregando tortinhas de morango e chocolate, enroladas num guardanapo, para levar para a esposa, Letícia”, conclui.