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1º de Maio

30 de Abril de 2013, 21:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Excerto do livro Stranger than Fiction, do Professor Leo Nardo (Universidade de Colares, Portugal), que tem como assunto uma pesquisa relacionada com o dia 1 de Maio:

No continente europeu esta é uma festividade que interessa a um pequeno grupo de indivíduos em rápida via de extinção: apesar dos programas de protecção, os Trabalhadores são cada vez menos e existe uma forte preocupação quanto à possibilidade de poder salvar a espécie.
Caso emblemático é o da Espanha, onde as últimas manadas de Trabalhadores bravos foram observadas ao longo do ano 2012, enquanto pastavam na Meseta, não longe de Madrid.

Muito grave também a situação em Portugal: apesar dos hábitos mais calmos dos Trabalhadores de raça Lusitana, o stress, as condições de vida e a poluição política provocaram uma forte redução dos indivíduos e as perspectivas de médio e longo prazo não são animadoras. Mesma situação em outros Países, como na Italia, por exemplo, enquanto em outras zonas, tal como a Grécia, a extinção da espécie chega a ser oficial.

O WWF apresentou às Nações Unidas um projecto que prevê a criação de áreas protegidas, nos arredores das grandes cidades (o habitat natural dos Trabalhadores), mas problemas orçamentais podem inviabilizar o programa de preservação.

O mesmo WWF, em colaboração com Greenpeace, publicou um breve guia para que seja possível observar e até lidar com uma espécie delicada, de antigas origens e que ainda hoje suscita uma forte curiosidade no seio da comunidade científica.

Interagir com o Trabalhador: regras básicas

O Trabalhador costuma viver perto das grandes cidades ou, em qualquer caso, numa zona onde seja possível encontrar uma estrada asfaltada. Raros são os indivíduos que vivem no meio da natureza, afastados dos similares, pelo que resulta evidente que o Trabalhador é uma espécie social.

As horas melhores para observar um Trabalhador são as primeiras de manhã, altura em que a espécie sai dos refúgios para alcançar o lugar onde costuma passar a maior parte do dia. Para fazer isso, percorre uma estrada asfaltada e segue em filas compridas até o seu destino.

Caso uma pessoa entre em contacto com um Trabalhador, a primeira regra é não entrar em pânico: pelo contrário, mostrar-se sociável e, se possível, começar a queixar-se. De qualquer coisa, basta que seja queixa. Boa escolha é falar mal do governo, dos políticos no geral, da justiça, até das condições meteorológicas. Isso permite que no Trabalhador se desenvolva uma empatia e que o recém chegado seja visto como "uma boa pessoa", tendencialmente inofensiva.

Em alternativa, pode ser uma boa táctica começar a falar de futebol: todavia esta escolha acarreta um problema, pois cada Trabalhador costuma seguir com paixão uma e só uma equipa, desprezando todas as outras. Pelo que, antes de qualquer discussão que tenha como tema o futebol, é fundamental descobrir qual o clube do Trabalhador na nossa frente. Uma vez descoberto, a conversa poderá verter sobre temas queridos ao Trabalhador, como os árbitros corruptos ou os ordenados exagerados dos jogadores.
É preciso realçar, todavia, como esta técnica obtenha mais sucesso com os exemplares de Trabalhadores machos, enquanto os exemplares femininos parecem menos interessadas no assunto, provavelmente por causa duma congénito desenvolvimento inferior.
Se a intenção for estabelecer um contacto mais profundo com o Trabalhador (por questões de estudo ou por simples curiosidade), o passo sucessivo será oferecer comida: este é um processo que subentende um mínimo conhecimento da realidade local, pois o Trabalhador muda as próprias preferências consoante o habitat que ocupa.
Em Portugal, por exemplo, o Trabalhador aprecia um copo de "imperial" (a cerveja) acompanhado por "tremoços" (as sementes das plantas fabáceas); em Italia, o Trabalhador indígena raramente recusa a oferta dum café.

Mais arriscado é encontrar o Trabalhador enquanto este conduzir o meio de transporte favorito, o "carro" (um automóvel). O Trabalhador identifica-se fortemente no próprio carro, é parte do seu ser e utiliza o meio não apenas para alcançar o lugar de trabalho ou para voltar na toca, mas também para descarregar as próprias frustrações e tentar impor-se perante as outras espécies (não apenas Trabalhadores, portanto, mas também cães, gatos, ouriços...tudo o que se mexe). Neste caso, a atitude mais sábia é não contradizer as manobras do Trabalhador mas deixar que este possa encontrar a própria temporária realização e provocar um inevitável acidente (do qual nunca reconhecerá a responsabilidade).

Caso a pessoa seja convidada para visitar a toca do Trabalhador, é importante lembrar algumas coisas:
  • apreciar as componentes tecnológicas mais avançadas (alguns Trabalhadores chegam a desperdiçar muitos ordenados para ter em casa uma televisão que daria para iluminar uma aldeia)
  • apreciar os filhos do Trabalhador (usualmente paralisados na frente dum computador, televisão ou qualquer outra opção tecnológica)
  • apreciar a mulher do Trabalhador, com moderação (o Trabalhador costuma ser ciumento), e a comida por esta preparada (sem moderação neste último caso).  
Seguindo estas simples regras, aproximar-se dum Trabalhador não comporta grandes riscos.

Sociopatologia do Trabalhador

É importante salientar como o Trabalhador seja uma espécie rotineira: uma vez encontrado um lugar (que o Trabalhador costuma definir como "o meu trabalho"), raramente é abandonado e há notícias de indivíduos que podem passar a vida inteira sempre no mesmo lugar. Em qualquer caso, o objectivo do Trabalhador parece ser mudar de "trabalho" quantas menos vezes for possível.

Mas nem todos os pesquisadores concordam com esta teoria. O Professor C. Ronaldo, da Universidade de Madrid, salienta como a maior parte dos Trabalhadores passem boa parte do próprio tempo em longas discussões nas quais parecem condenar o próprio lugar de trabalho tal como os similares que actuam na mesma zona. Alguns chegam a usar termos depreciativos em relação à ideia de trabalho, condenando até o estilo de vida que caracteriza a espécie toda.

O Prof. Ronaldo apresenta no último trabalho dele (Workers: a strange case in a strange environment) algumas conclusões que parecem apontar para um estado de forte contradição no interior da espécie e não exclui que esta situação possa estar na base da repentina extinção:
Os Trabalhadores alcançaram uma saturação existencial: dum lado parecem gostar do trabalho, do outro afirmam que nunca proporciona as ideais condições de bem estar e culpam-no da maior parte dos males.
Esta teoria não é partilhada pelo Prof. L. Messi, da Universidade de Barcelona, que no recente Social Beasts realça como a espécie seja alvo de periódicas crises: estas têm a função de manter limitado o número dos indivíduos (tipo lemmings) e, ao mesmo tempo, introduzem uma força regeneradora pela qual o Trabalhador volta em breve a gostar do trabalho e a dedicar-se às próprias funções com renovado entusiasmo:
Olhando para trás, estudando o percurso histórico, podemos observar como as crises da espécie sejam algo recorrente: significativo o caso dos Trabalhadores conhecidos entre os especialistas com os nomes de Marx e Lenine, os quais alcançaram uma certa notoriedade entre os similares ao difundir "novas" ideias, tal como "propriedade dos meios de produção", "direitos", "sociedade socialista" (em alguns casos "comunista").
O resultado do movimento assim criado é que o Trabalhador reforça a convicção de que o trabalho é o fim dele e da espécie toda, excluindo e até condenando qualquer outro objectivo que não esteja em linha com esta filosofia.
Seja como for, o problema de fundo não muda: o número de Trabalhadores está a diminuir. Quais podem ser identificadas como causas?

Uma recente pesquisa do Instituto Superior da Natureza de Berlim põe em correlação as compensações dos Trabalhadores ocidentais com aquelas dos homólogos orientais. Para entender esta teoria é necessário dedicar algumas palavras ao conceito de "salário", a compensação dos Trabalhadores.
Cada indivíduo da espécie, de facto, trabalha para obter um salário, um "prémio" obtido após 30 dias de dedicação. É o salário que está na base do trabalho e os Trabalhadores estão dispostos a tudo para obtê-lo: não conseguem sequer imaginar uma outra forma de sobrevivência, a espécie vive tão concentrada na obtenção do salário ao ponto de ignorar boa parte da realidade, tornando o salário numa espécie de Santo Graal em direcção ao qual todos os Trabalhadores fazem confluir os esforços.

Os dados parecem mostrar como o salário dos Trabalhadores ocidentais seja muito mais elevado quando comparado com as compensações dos Trabalhadores chineses, por exemplo. Isto cria uma fricção, um desequilíbrio na ordem natural: estaremos perante uma reedição da luta que viu em lados opostos o Homem de Neanderthal e o Homo Sapiens? Será que as condições ambientais e o grau do adaptação podem determinar o desaparecimento dum dos dois grupos, tendo o salário a função de desencadear um choque evolutivo?

Um artigo publicado no último número de Animals Science contrasta esta visão e realça como os mais recentes dados recolhidos no continente asiático apresentem uma realidade diferente e muito mais complexa: de facto, o grupo de Trabalhadores chineses está à beira duma crise cujos moldes têm fortes traços em comum com a crise dos grupos ocidentais. Também o salário deles não consegue manter o equilíbrio natural e quem traz vantagem desta situação é um terceiro grupo, os Trabalhadores da região vietnamita. Pergunta o artigo:
E depois? Qual futuro para o grupo do Vietnam? Será esmagado pelos Trabalhadores do Sudão? E a seguir? Será a vez do grupo do Bangladesh?
Perguntas para as quais até a data não há respostas.
A única certeza é que o Trabalhador parece sofrer dum conjunto de condições políticas, sociais e evolutivas que estão a determinar uma rápida diminuição do número dos indivíduos: isso enquanto hipóteses de tratamento não aparecem no horizonte, apesar dos esforços globais neste sentido.
Como observa o Presidente Honorário do WWF, o Duque de Edimburgo:
É uma pena e estamos profundamente chocados com a possibilidade que os Trabalhadores desapareçam. Apesar de serem grosseiros, barulhentos, bastante sujos e tendencialmente ignorantes, com o tempo é possível desenvolver um sentimento quase de afecto para estes seres inferiores e vislumbrar neles atitudes quase humanas. E nem podemos esquecer o papel que desenvolvem no ecossistema, pois a Natureza é magnânima e sabe encontrar funções para todas as suas componentes, por insignificantes que estas possam parecer. Ficamos preocupados com os gorilas, porque não tentar salvar os Trabalhadores também? 
É portanto causa de ternura observar os últimos Trabalhadores reunidos no dia 1 de Maio, envergando bandeiras vermelhas (que têm funções de excitar o Trabalhador, como no caso da tourada) e falando de conceitos atávicos como "Esquerda", "Direita", "Liberdade" ou "Direitos".
Nota: um agradecimento pessoal ao Autor do livro que permitiu a publicação do excerto.


Ipse dixit.

Fontes: Leo Nardo da Rodésia - Stranger than Fiction (Edições Cave Canem, 2013, Colares, II edição)

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/InformaoIncorrecta/~3/4qWQ_KAQ6-Q/1-de-maio.html

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