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A China e a América do Sul

29 de Julho de 2014, 9:52 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Nos passados dias 15 e 16 de Julho,  Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul participaram na
sexta reunião dos Brics, em Fortaleza​​.

Além disso, houve uma série de encontros bilaterais com acordos comerciais e de alianças estratégicas. Falamos aqui de mais um quarto do PIB mundial. pelo que vale a pena espreitar o que aconteceu.

O fundo

Além de aumentar a sinergia política em relação aos grandes problemas internacionais, os Brics tinham outro grande objectivo: criar o fundo de reserva comum de que se falava há algum tempo.

Este foi, de facto, o principal evento da Sexta Conferência: a criação de um "banco de desenvolvimento" e de um fundo de reservas, com um capital de 100 biliões de Dólares para financiar projectos de desenvolvimento, mas também para proteger os Países do Brics de eventuais futuras crises financeiras ou ataques especulativos. O fundo terá uma presidência rotativa e incluirá o abertura de escritórios em todos os Países do Brics.

Ainda não é um FMI alternativos nem um Banco Mundial, mas é o primeiro passo e a direcção é aquela.

China 

Como era de se esperar, o gigante asiático fez a parte do leão nas convenções da América do Sul: não acaso, irá doar cerca de metade do capital inicial do novo banco, cuja sede será Xangai.

A relevância da economia do gigante asiático no continente foi posteriormente confirmada por vários outros acordos que Xi Jinping assinou nas já citadas reuniões bilaterais.

Se historicamente os investimentos de Pequim foram sempre projectados principalmente para os recursos naturais dos Países emergentes (compras maciças de terra em África, de petróleo e gás da Venezuela, minerais na América do Sul, etc.), a tendência teve uma parcial inversão após a crise de 2008, quando o enfraquecimento das economias ocidentais permitiu uma maior entrada de capitais chineses.

Em 2013, a China alcançou o terceiro lugar, atrás de EUA e Japão, como o maior investidor do mundo. Grande parte deste dinheiro e foi atribuído ao continente sul-americano, passando gradualmente das compras de matérias-primas para o fornecimento de infra-estruturas, produção high-end, tecnologia agrícola, logística, pesquisa e desenvolvimento, construção de estradas, ferrovias, portos, centrais de energia e telecomunicações.

China & Brasil

A China é o maior parceiro comercial do Brasil, considerado por Pequim a porta de entrada para a
América Latina. No ano passado, o intercâmbio comercial chegou a 90.000 milhões de Dólares, dos quais, no entanto, apenas 21 feitos de exportações brasileiras.

Esse desequilíbrio se reflecte no tipo de bens comercializados, uma vez que os chineses continuam a comprar terrenos, principalmente de soja, trigo, petróleo, minerais. Além disso, a carne brasileira ainda tem dificuldades para penetrar nos mercados indiano e chineses, embora este último finalmente resolveu suspender o embargo para a importação.

Os líderes dos dois Países assinaram um total de 32 acordos sobre várias questões, enquanto as principais preocupações, como sempre, serão a colaboração nas exportações, de grão, de minerais e a utilização de energia.

O projecto mais ambicioso seria a construção, em parceria com o Peru, duma ferrovia transoceânica que atravessa todo o continente, a partir da costa brasileira para os portos peruanos para facilitar as exportações para a China. Os chineses, no entanto, são muito interessados ​​em investir na cadeia produtiva do petróleo e nas pesquisas conjuntas para o desenvolvimento do transporte da electricidade na modalidade ultra-alta tensão.

A Petrobras já é o parceiro de empresas estatais chinesas na exploração do campo de petróleo Libra, enquanto os dois Países irão construir juntos as duas centrais energéticas de Belo Monte e do Rio Tapajós.

China & Venezuela

No entanto, o País para o qual são direccionados os maiores investimentos na região permanece a
Venezuela. A principal potência energética da América do Sul desenvolveu laços estreitos com Pequim, sob a liderança de Chávez, uma relação definida como uma "parceria estratégica para o desenvolvimento conjunto" que levou à fundação, em 2007, do Fundo conjunto chino-venezuelano.

Pequim tem derramado para a Venezuela mais de 40 biliões de Dólares e assinou mais de 300 acordos de cooperação, a maioria destinados à construção de linhas ferroviárias, transportes subterrâneo e colocação em órbita de dois satélites.

O que a China recebe em troca é sempre o mesmo: a energia necessária para a "fábrica de produção do mundo e a sua economia. A substância dos 38 novos acordos (um total de 4.000 biliões de Dólares) subscritos por Maduro e Xi Jiping refere-se principalmente ao fornecimento de petróleo e de minerais.

Pequim é o segundo comprador mundial de bruto, depois dos Estados Unidos, e Caracas está empenhada a fornecer um milhão de barris por dia até 2016, quase o dobro dos actuais 524.000.

menor o impacto da visita chinesa em Cuba, poucos dias após a aprovação da nova lei de investimento estrangeiro com a qual Raul Castro procura aliviar a crise económica do País.
Xi Jiping e 13 grandes empresas chinesas visitaram a ilha, dando especial atenção à zona do porto de Mariel, onde o governo quer criar um centro industrial com capital estrangeiro.

Apesar de a visita do líder chinês ter sido saudada quase unanimemente como uma oportunidade para o continente para ser incorporado no novo equilíbrio mundial em formação, a presença económica da China continua a ser alvo de críticas também.

A maioria dos analistas realça como, de facto, a relação comercial dos Países sul-americanos com os parceiros orientais ainda é altamente desigual e impede que as indústrias nacionais de desenvolvam, com prejuízo para os mercados locais.

Há também um outro aspecto preocupante da influência chinesa: o meio ambiente. Aqui, a crítica tem como objectivo os danos causados pela repetição do modelo de desenvolvimento e agro-exportador "extraccionista", como no caso da compra em Março de 8,1 milhões de hectares de floresta amazónica do Equador, para explorar os campos de petróleo que esconde: uma decisão sobre a qual terá pesado mais a dívida de 7.000 milhões de Dólares que Quito tem com Pequim (o que corresponde a 10% do PIB do País) do que considerações ambientalistas.

China e o canal

Neste sentido, ainda mais assusta o projecto talvez mais ambicioso dos chineses na América Latina: um concorrente para o Canal do Panamá. A Nicarágua acaba de aprovar o projecto Grand Canal, um canal de 280 quilómetros que vai cortar o País no meio, ligando os dois oceanos e ultrapassando os 80 km de hidrovia controlada pelos Estados Unidos.

O projecto, de uma sociedade de investimentos de Hong Kong, vai custar 40 biliões de Dólares e criaria centenas de postos de trabalho relacionados com a construção e a gestão do canal. Todavia, além de reunir 32 acusações de inconstitucionalidade na Nicarágua, o canal passaria pelo Lago da Nicarágua, a mais importante bacia da América central e importante reservatório natural de água potável, com efeitos devastadores sobre o ecossistema e as comunidades locais.

Ao mesmo tempo, encontra-se também em expansão o Canal do Panamá, pelo qual passa hoje 6% do comércio mundial. O objectivo do consórcio espanhol seria triplicar em 2016 o volume de trânsito.

China?

Sobra uma dúvida de fundo: quem é a China?
Qual o verdadeiro papel deste País de mais de 1 bilião de habitantes, que vivem num regime onde a Democracia é desconhecida, onde ainda vigora a censura oficial?

Um País que ao longo das décadas recolheu uma mole impressionante de dívida pública dos Estados Unidos, permitindo assim que Washington evitasse o colapso?

Um País que oficialmente é uma República Popular, governada por uma restrita elite política, fechada e acerca da qual nada mais se conhece além das comunicações dos vários ministérios? Uma espécie de nomenklatura de estilo soviético que, no entanto, abriu o País ao livre mercado.

Sobretudo: quais os planos para o futuro?

Paradoxalmente, o mais importante membro dos Brics continua a representar uma incógnita.
E a América do Sul tem que ser capaz de gerir com muita atenção os seus próprios recursos: nesta óptica, o que se passa entre China e Argentina é sintomático.

China & Argentina & Soja

Com Xi Jinping, a Presidente Kirchner assinou 20 acordos, enquanto mais de duas centenas de
empresários assinaram outros 28 para um total de 1,5 biliões de Dólares. Os destaques vão para os 4.714 milhões de Dólares para a construção das barragens Nestor Kirchner e George Cepernić na província de Santa Cruz; 2.400 milhões de Dólares para a renovação da ferrovia de Belgrano e os 11 navios adquiridos pelos chineses em troca de 423.000 mil Dólares.

Mais importante ainda: um swap de 11 biliões de Dólares para o seu banco central, com o qual a China desferiu um grande golpe contra os tribunais dos EUA que defendem os abutres da Finança. Uma linha de financiamento directo com a qual Pequim tenciona garantir o equilíbrio e a estabilidade monetária do País.

Simples "bondade" aquela de Pequim? Não parece.
A China é também o principal destino da soja (transgénica ) da Argentina, usada para alimentar os porcos, e cujo primeiro exportador mundial é Buenos Aires. A China tem conveniência em importar a soja argentina. Mas isso cria um círculo sobre o qual vale a pena reflectir.

O cultivo intensivo de soja, favorecido pelo governo através de incentivos, cria não poucos problemas, inclusive a destruição da variedade agrícola, sobre o meio ambiente e a população, tudo causado ​​pelo uso de Roundup, o herbicida da Monsanto.

A empresa norte-americana detém o monopólio das licenças da soja argentina e a sua influência no País vai aumentar com a futura adopção da Ley de Semillas. Além da preocupação legítima sobre a natureza do produto transgénico, há o facto de que a soja está a mudar profundamente a paisagem agrícola da Argentina, onde agora é normal (e quase "obrigatório") alugar os campos para esse tipo de cultivo e abandonar a produção directa, muitas vezes trocando o campo pela cidade.

Tudo isso nada faz se não nada exacerbar a centralidade do modelo agro-exportador, causa histórica da fraqueza da economia nacional e berço de todas as ditaduras, financiadas e apoiadas pela poderosa classe agrária.

Num País onde a sociedade rural é muito mais importante do que a industria, o governo sempre foi forçado a procurar a "paz" com os representantes agrários. E mesmo com as tentativas da Presidente Kirchner para construir uma sólida base "urbana", a hipoteca da terra pode apresenta no futuro uma conta bem pesada.

Entretanto, a Monsanto vê os seus lucros aumentar e agradece, Buenos Aires e Pequim.


Ipse dixit.

Fonte: Tanamericana

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/InformaoIncorrecta/~3/p79jgO8-DKc/a-china-e-america-do-sul.html

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