O nome oficial é "Crise do Crédito". Mas o termo real deveria ser "Crise da Dívida". Não se fala aqui da Dívida Pública dos Estados, mas do drama dos privados.
Italia, Espanha, Portugal. Há pessoas presas com empréstimos bancários, credito ao consumo, que chegam a "digerir" 70 ou 80% do ordenado. Pessoas que ganham 2.000 Euros e têm 1.500 Euros de prestações e juros.
Seria simples dizer "Problema deles, gastaram dinheiro que não tinham, agora aprendem".
Mas seria uma visão completamente errada.
Pode tornar-se cómoda ao banqueiros, para justificar os créditos mais reduzidos, ou aos governos ("Fizemos a boa vida antes..."). Já este facto deveria fazer endireitar as antes.
Mas como? Os bancos passaram décadas a oferecer cartões de crédito, nos Estados Unidos até chegam como oferta com o correio, os governos nunca uma palavra para alertar acerca do excesso de crédito: e agora os culpados são só os cidadãos que quiseram fizer a boa vida?
É difícil explicar a realidade a quem viva fora da Europa ou, ainda mais, dos Estados Unidos. Mas dizer "Culpa dele, gastaram o que não tinham" significa não perceber como funcionaram as coisas ao longo dos últimos 20 ou 30 anos. E agora bancos e governos têm jogo fácil em culpar os cidadãos; pessoas que não gastaram centenas de milhares de Euros ou Dólares para adquirir um carro topo de gama, mas simplesmente para ter um tecto debaixo do qual poder dormir.
Saiu o último relatório acerca do desemprego nos Estados Unidos. Festa grande em casa Obama, uma notícia assim no meio duma campanha eleitoral é sempre uma prenda, sobretudo se os media complacentes sabem cozinha-la e apresenta-la da forma correcta.
E a forma mais correcta seria explicar que os 130 mil lugares de trabalhos "criados", na verdade nem chegam para compensar o aumento da população.
Entretanto, outro dado bem mais interessante passou quase despercebido: o crédito ao consumo subiu 18 biliões de Dólares. Isso significa que os privados americanos têm mais 18 biliões de dívida, bem mais dos 7 biliões previstos pelos especialistas.
Aqui na Europa todos com ansiedade para saber se parte ou não o empréstimo de 8 biliões com destino Grécia, do outro lado do Atlântico, só em Agosto, as família ficaram com com 18 biliões de nova dívida. Multipliquem isso vezes 12 meses, assim tanto para rir: o total atinge os 200 biliões. Repito: toda dívida dos cidadãos.
O que significa esta dívida? Significa que os cidadãos não têm dinheiro, pedem empréstimos para poder comprar; isso faz subir os consumos e a Bolsa fica feliz. Aparentemente a economia volta a trabalhar, mas é uma economia fundada sobre a dívida.
Nos Estados Unidos o 60% dos cidadãos com rendimentos médios e baixos gastam 40% de todo o rendimento para pagar a escola dos filhos, a casa, a comida. No caso de dois filhos, a dívida pode atingir 50% do rendimento. Muito? Claro que é muito: mas um bom college pode ter anualidades de 15/20 mil Dólares.
No Reino Unido ou na Austrália os juros e as prestações chegam a "digerir" um terço dos rendimento.
Na Idade Média era obrigatório pagar uma taxa ao senhor feudal, hoje pagas o tributo aos bancos se o desejo é ter uma casa ou fazer estudar os filhos. Obviamente tudo dentro da lei.
Como afirmado, seria possível encarar tudo com um pouco de filosofia de café: "Parvos, gastaram dinheiro que não tinha".
Depois há outra maneira de ver as coisas. Talvez precise dum pouco mais de esforço, mas compensa.
Lembram-se do exemplo das duas gavetas?
Se o Leitor ainda se lembra, então fica já tudo mais claro.
Caso contrário, vamos resumir para perceber porque as pessoas contraem dívidas. E vamos resumir em cinco pontos:
1. Injectar dinheiro
A economia moderna industrial consegue funcionar só se a cada ano é aumentada a moeda. "Aumentada" fisicamente: 3 - 5% de moeda que é injectada no mercado. Isso tem várias razões: porque um pouco de inflação não é mal (aumentar a quantia de dinheiro em circulação faz aumentar a inflação), porque a população aumenta (e se depois não há dinheiro para todos?), porque a tecnologia aumenta a produção (e se mais se produz, é preciso mais dinheiro para mais comprar).
A nossa economia (que herdou todos os defeitos do Capitalismo) não é estática como a economia da Idade Média, a bicicleta tem sempre que correr: ou avança e prospera (crescimento) ou pára e declina (recessão; aqui não vamos falar da estagnação que é sempre um período transitório entre as primeiras duas fases). Para crescer, como vimos, é sempre preciso injectar um pouco mais de moeda.
Tudo claro até aqui? Claro que é claro. Então vamos ver o ponto 2.
2. Dinheiro donde?
As percentagens das quais falemos são pequenas: 3 - 5% a cada ano. Pouca coisa, ninguém repara nisso. Mas que acontece passados 30 anos? Acontece que a moeda injectada no mercado alcança valores bem mais elevados. Muito elevados. Donde chega esta dinheiro "adicional"? Pode chegar do estrangeiro, caso o País em questão seja um grande exportador. Mas a maioria dos Países não consegue exportar ao ponto de ter moeda "adicional"; e nem todos os anos são iguais, às vezes exportas mais, às vezes menos. Então, volt a pergunta: donde chega este dinheiro?
3. Quem cria o dinheiro
O sector privado, obviamente, não pode criar dinheiro. Aliás, quem criar dinheiro como particular ganha logo o título de falsário. As empresas e as famílias trabalham, comerciam, emitem e pagam facturas: mas trabalham exclusivamente com o dinheiro já emitido, nunca podem criar nova moeda.
Portanto, o dinheiro tem que chegar de qualquer outro lugar. E as únicas entidades autorizadas a criar novo dinheiro são o Estado (se gastar mais daquilo que ganha) e os bancos (que concedem crédito).
Mais uma vez: tudo claro até aqui? Acho que sim, são conceitos banais. "Banais", sim, mas que implicam algo de extremamente importante.
4. O dinheiro dos bancos custa!
O que acontece se o Estado deixar de criar dinheiro? O que acontece quando o Primeiro Ministro de turno veste a roupa do salvador da Pátria e explica aos cidadãos que sim, de facto a dívida pública é um enorme problema, uuuuh que problema!, fizemos a boa vida, agora é tempo de sofrer porque a dívida tem que ser reduzida, um Estado não pode gastar mais daquilo que ganha, até uma criança percebe isso?
Acontece uma coisa que o Primeiro Ministro nem se sonha de explicar: acontece que o Estado deixa de injectar nova dinheiro. Quem vai fazer isso serão apenas os bancos.
O Leitor pode pensar: "Então? Qual o problema? Estado ou bancos sempre a mesma coisa é, o que interessa é que o dinheiro seja injectado.
Leitor desgraçado, acha isso? O Leitor não pode esquecer um pequeno pormenor: os bancos são empresas privadas. E, como todas as empresas privadas, trabalham em função do lucro.
Quando o Leitor vai ao banco para pedir um empréstimo, o banco cria dinheiro, de facto, só que pretende uma contra-parte, cujo nome é "juro".
Portanto há duas enormes diferenças entre o dinheiro criado pelo Estado e o dinheiro criado pelos bancos:
a) o dinheiro criado pelos bancos é uma dívida contraída directamente pelo cidadão: não é pública, é privada.
b) o dinheiro criado pelos bancos te, juros que se acumulam, a moeda criada pelo Estado não tem juros (por favor, façam-me feliz: aprendam de cor esta frase, é a chave de toda as manobras de austeridade que circulam pelo mundo fora).
O que se passa agora no mundo ocidental é que as elites políticas foram treinadas para repetir o mantra da "boa vida antes, sangue e suor agora e depois", com o resultado que os Estados deixam de criar moeda e tudo passa nas mãos dos bancos privados.
5. Endividar o Estado
Mas no mundo ocidental já estamos muito mais à frente: os Países são obrigados a endividar-se, não criam dinheiro e precisam de liquidez (há contas que devem ser pagas: salários, reformas, serviços...). E como podem obter liquidez? Com a emissão dos Títulos de Estado, que pagam juros.
Reparem: os juros incidem profundamente no total da dívida, entra-se assim num círculo vicioso no qual o Estado não consegue pagar dívida e máquina pública só com as taxas e as outras entradas; portanto é obrigado a emitir mais dívida (e nem chegou a pagar a primeira) que vai somar-se à dívida anteriormente contraída (e aos juros preexistentes) e o jogo continua, mês após mês, ano após anos...
Na realidade o Estado poderia emitir dinheiro, suficiente para fazer funcionar a economia. Atenção: esta não é ficção científica, era exactamente o que acontecia antes, com as antigas moedas (como o Escudo em Portugal). O Estado nem precisaria de emitir Títulos de Estado (na verdade sempre são emitidos alguns títulos por questões técnicas; mas nunca alcançam os valores abismais que podemos observar nesta altura).
É este um sistema demencial e criminal, criado entre o final de 1800 e o princípio do 1900 (casualmente na mesma altura em que morreu o Capitalismo). Ao longo dos séculos, pelo contrário, o pensamento ocidental tinha sido muito suspeitoso em relação aos juros. Ao longo de muitos séculos, as religiões proibiram os empréstimos com juros (tal como ainda acontece no mundo islâmico), apenas os hebraicos detinham o monopólio neste sector (anti-semitismo? Porque terá sido?).
Depois, alguém fez duas contas e percebeu que havia uma oportunidade: retirar ao Estado a tarefa de criar moeda. Isso permitiria que apenas os bancos privados seriam autorizados a injectar dinheiro no mercado. Com juros, óbvio, pois esta é a parte divertida.
O que se passa na Europa e nos Estados Unidos já vai um pouco além: aqui a moeda já é emitida pelos privados (o Banco Central Europeu e a Federal Reserve, de facto, são geridos por privados), é apenas preciso substituir os Estados com os privados e convencer os cidadãos de que tudo é mais bonito quando o as empresas privadas tratarem de tudo (reparem o que se passa em Portugal: as empresas são privatizadas, mas na maioria dos casos as perdas ficam com o Estado: e quem é o Estado?).
Doutro lado, o Estado é mau, é aquela entidade que permitiu a "boa vida" antes (curiosamente, na altura o Estado mau era gerido pelas mesmas pessoas que agora querem moralizar as contas públicas. Estranha a vida, não é?). É por isso que todos os Portugueses circulam só com topos de gama e ao acabar o trabalho mergulham nas piscinas das próprias vivendas.
Mas agora a festa acabou.
Ipse dixit.
Italia, Espanha, Portugal. Há pessoas presas com empréstimos bancários, credito ao consumo, que chegam a "digerir" 70 ou 80% do ordenado. Pessoas que ganham 2.000 Euros e têm 1.500 Euros de prestações e juros.
Seria simples dizer "Problema deles, gastaram dinheiro que não tinham, agora aprendem".
Mas seria uma visão completamente errada.
Pode tornar-se cómoda ao banqueiros, para justificar os créditos mais reduzidos, ou aos governos ("Fizemos a boa vida antes..."). Já este facto deveria fazer endireitar as antes.
Mas como? Os bancos passaram décadas a oferecer cartões de crédito, nos Estados Unidos até chegam como oferta com o correio, os governos nunca uma palavra para alertar acerca do excesso de crédito: e agora os culpados são só os cidadãos que quiseram fizer a boa vida?
É difícil explicar a realidade a quem viva fora da Europa ou, ainda mais, dos Estados Unidos. Mas dizer "Culpa dele, gastaram o que não tinham" significa não perceber como funcionaram as coisas ao longo dos últimos 20 ou 30 anos. E agora bancos e governos têm jogo fácil em culpar os cidadãos; pessoas que não gastaram centenas de milhares de Euros ou Dólares para adquirir um carro topo de gama, mas simplesmente para ter um tecto debaixo do qual poder dormir.
Saiu o último relatório acerca do desemprego nos Estados Unidos. Festa grande em casa Obama, uma notícia assim no meio duma campanha eleitoral é sempre uma prenda, sobretudo se os media complacentes sabem cozinha-la e apresenta-la da forma correcta.
E a forma mais correcta seria explicar que os 130 mil lugares de trabalhos "criados", na verdade nem chegam para compensar o aumento da população.
Entretanto, outro dado bem mais interessante passou quase despercebido: o crédito ao consumo subiu 18 biliões de Dólares. Isso significa que os privados americanos têm mais 18 biliões de dívida, bem mais dos 7 biliões previstos pelos especialistas.
Aqui na Europa todos com ansiedade para saber se parte ou não o empréstimo de 8 biliões com destino Grécia, do outro lado do Atlântico, só em Agosto, as família ficaram com com 18 biliões de nova dívida. Multipliquem isso vezes 12 meses, assim tanto para rir: o total atinge os 200 biliões. Repito: toda dívida dos cidadãos.
O que significa esta dívida? Significa que os cidadãos não têm dinheiro, pedem empréstimos para poder comprar; isso faz subir os consumos e a Bolsa fica feliz. Aparentemente a economia volta a trabalhar, mas é uma economia fundada sobre a dívida.
Nos Estados Unidos o 60% dos cidadãos com rendimentos médios e baixos gastam 40% de todo o rendimento para pagar a escola dos filhos, a casa, a comida. No caso de dois filhos, a dívida pode atingir 50% do rendimento. Muito? Claro que é muito: mas um bom college pode ter anualidades de 15/20 mil Dólares.
No Reino Unido ou na Austrália os juros e as prestações chegam a "digerir" um terço dos rendimento.
Na Idade Média era obrigatório pagar uma taxa ao senhor feudal, hoje pagas o tributo aos bancos se o desejo é ter uma casa ou fazer estudar os filhos. Obviamente tudo dentro da lei.
Como afirmado, seria possível encarar tudo com um pouco de filosofia de café: "Parvos, gastaram dinheiro que não tinha".
Depois há outra maneira de ver as coisas. Talvez precise dum pouco mais de esforço, mas compensa.
Lembram-se do exemplo das duas gavetas?
Se o Leitor ainda se lembra, então fica já tudo mais claro.
Caso contrário, vamos resumir para perceber porque as pessoas contraem dívidas. E vamos resumir em cinco pontos:
1. Injectar dinheiro
A economia moderna industrial consegue funcionar só se a cada ano é aumentada a moeda. "Aumentada" fisicamente: 3 - 5% de moeda que é injectada no mercado. Isso tem várias razões: porque um pouco de inflação não é mal (aumentar a quantia de dinheiro em circulação faz aumentar a inflação), porque a população aumenta (e se depois não há dinheiro para todos?), porque a tecnologia aumenta a produção (e se mais se produz, é preciso mais dinheiro para mais comprar).
A nossa economia (que herdou todos os defeitos do Capitalismo) não é estática como a economia da Idade Média, a bicicleta tem sempre que correr: ou avança e prospera (crescimento) ou pára e declina (recessão; aqui não vamos falar da estagnação que é sempre um período transitório entre as primeiras duas fases). Para crescer, como vimos, é sempre preciso injectar um pouco mais de moeda.
Tudo claro até aqui? Claro que é claro. Então vamos ver o ponto 2.
2. Dinheiro donde?
As percentagens das quais falemos são pequenas: 3 - 5% a cada ano. Pouca coisa, ninguém repara nisso. Mas que acontece passados 30 anos? Acontece que a moeda injectada no mercado alcança valores bem mais elevados. Muito elevados. Donde chega esta dinheiro "adicional"? Pode chegar do estrangeiro, caso o País em questão seja um grande exportador. Mas a maioria dos Países não consegue exportar ao ponto de ter moeda "adicional"; e nem todos os anos são iguais, às vezes exportas mais, às vezes menos. Então, volt a pergunta: donde chega este dinheiro?
3. Quem cria o dinheiro
O sector privado, obviamente, não pode criar dinheiro. Aliás, quem criar dinheiro como particular ganha logo o título de falsário. As empresas e as famílias trabalham, comerciam, emitem e pagam facturas: mas trabalham exclusivamente com o dinheiro já emitido, nunca podem criar nova moeda.
Portanto, o dinheiro tem que chegar de qualquer outro lugar. E as únicas entidades autorizadas a criar novo dinheiro são o Estado (se gastar mais daquilo que ganha) e os bancos (que concedem crédito).
Mais uma vez: tudo claro até aqui? Acho que sim, são conceitos banais. "Banais", sim, mas que implicam algo de extremamente importante.
4. O dinheiro dos bancos custa!
O que acontece se o Estado deixar de criar dinheiro? O que acontece quando o Primeiro Ministro de turno veste a roupa do salvador da Pátria e explica aos cidadãos que sim, de facto a dívida pública é um enorme problema, uuuuh que problema!, fizemos a boa vida, agora é tempo de sofrer porque a dívida tem que ser reduzida, um Estado não pode gastar mais daquilo que ganha, até uma criança percebe isso?
Acontece uma coisa que o Primeiro Ministro nem se sonha de explicar: acontece que o Estado deixa de injectar nova dinheiro. Quem vai fazer isso serão apenas os bancos.
O Leitor pode pensar: "Então? Qual o problema? Estado ou bancos sempre a mesma coisa é, o que interessa é que o dinheiro seja injectado.
Leitor desgraçado, acha isso? O Leitor não pode esquecer um pequeno pormenor: os bancos são empresas privadas. E, como todas as empresas privadas, trabalham em função do lucro.
Quando o Leitor vai ao banco para pedir um empréstimo, o banco cria dinheiro, de facto, só que pretende uma contra-parte, cujo nome é "juro".
Portanto há duas enormes diferenças entre o dinheiro criado pelo Estado e o dinheiro criado pelos bancos:
a) o dinheiro criado pelos bancos é uma dívida contraída directamente pelo cidadão: não é pública, é privada.
b) o dinheiro criado pelos bancos te, juros que se acumulam, a moeda criada pelo Estado não tem juros (por favor, façam-me feliz: aprendam de cor esta frase, é a chave de toda as manobras de austeridade que circulam pelo mundo fora).
O que se passa agora no mundo ocidental é que as elites políticas foram treinadas para repetir o mantra da "boa vida antes, sangue e suor agora e depois", com o resultado que os Estados deixam de criar moeda e tudo passa nas mãos dos bancos privados.
5. Endividar o Estado
Mas no mundo ocidental já estamos muito mais à frente: os Países são obrigados a endividar-se, não criam dinheiro e precisam de liquidez (há contas que devem ser pagas: salários, reformas, serviços...). E como podem obter liquidez? Com a emissão dos Títulos de Estado, que pagam juros.
Reparem: os juros incidem profundamente no total da dívida, entra-se assim num círculo vicioso no qual o Estado não consegue pagar dívida e máquina pública só com as taxas e as outras entradas; portanto é obrigado a emitir mais dívida (e nem chegou a pagar a primeira) que vai somar-se à dívida anteriormente contraída (e aos juros preexistentes) e o jogo continua, mês após mês, ano após anos...
Na realidade o Estado poderia emitir dinheiro, suficiente para fazer funcionar a economia. Atenção: esta não é ficção científica, era exactamente o que acontecia antes, com as antigas moedas (como o Escudo em Portugal). O Estado nem precisaria de emitir Títulos de Estado (na verdade sempre são emitidos alguns títulos por questões técnicas; mas nunca alcançam os valores abismais que podemos observar nesta altura).
É este um sistema demencial e criminal, criado entre o final de 1800 e o princípio do 1900 (casualmente na mesma altura em que morreu o Capitalismo). Ao longo dos séculos, pelo contrário, o pensamento ocidental tinha sido muito suspeitoso em relação aos juros. Ao longo de muitos séculos, as religiões proibiram os empréstimos com juros (tal como ainda acontece no mundo islâmico), apenas os hebraicos detinham o monopólio neste sector (anti-semitismo? Porque terá sido?).
Depois, alguém fez duas contas e percebeu que havia uma oportunidade: retirar ao Estado a tarefa de criar moeda. Isso permitiria que apenas os bancos privados seriam autorizados a injectar dinheiro no mercado. Com juros, óbvio, pois esta é a parte divertida.
O que se passa na Europa e nos Estados Unidos já vai um pouco além: aqui a moeda já é emitida pelos privados (o Banco Central Europeu e a Federal Reserve, de facto, são geridos por privados), é apenas preciso substituir os Estados com os privados e convencer os cidadãos de que tudo é mais bonito quando o as empresas privadas tratarem de tudo (reparem o que se passa em Portugal: as empresas são privatizadas, mas na maioria dos casos as perdas ficam com o Estado: e quem é o Estado?).
Doutro lado, o Estado é mau, é aquela entidade que permitiu a "boa vida" antes (curiosamente, na altura o Estado mau era gerido pelas mesmas pessoas que agora querem moralizar as contas públicas. Estranha a vida, não é?). É por isso que todos os Portugueses circulam só com topos de gama e ao acabar o trabalho mergulham nas piscinas das próprias vivendas.
Mas agora a festa acabou.
Ipse dixit.
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