George Soros é uma pessoa fantástica.
É o típico indivíduo que fala contigo para explicar que roubar é mau enquanto te devolve a carteira vazia. Soros é assim, é naturalmente simpático.
Quando Soros afirma que este sistema é podre, diz a verdade: ele foi uma das pessoas que mais ganhou com a podridão, sabe muito bem do que fala. Por isso é bem ouvi-lo com atenção: ninguém melhor dum ladrão conhece a arte do roubo.
Hospede do Festival da Economia em Trento, Italia, Soros explicou assim a actual situação:
E bravo Soros, descobriu que a Economia não é uma ciência exacta. E não é, de facto. Mas eu teria distinguido entre Economia e Finança: ambas não são exactas, mas a Finanças, em particular nas últimas décadas, abandonou o contacto com a realidade para percorrer caminhos até então inexplorados.
Se falarmos de "bolhas", como é este o caso, não podemos esquecer que tudo começou em 2007 nos Estado Unidos, com o subprimes: uma operação construída nos escritórios dos bancos e das grandes agências de investimento. Subprimes, derivativos, Wall Street: muita finança, pouca Economia. Não vamos cair no erro de demonizar a Economia, tal como já aconteceu com a Política: os grandes problemas nasceram no mundo da Finança, a Economia ainda paga estes erros, a Finança nem por isso.
A magia de Soros não é a mentira: é o saber misturar com sabedoria dados reais para chegar à conclusões falsas.
Os Países não aumentaram o deficit por causa do fácil acesso ao crédito, este foi um aspecto secundário: os Países aumentaram o deficit na altura em que os bancos começaram a chorar por causa da dívidas que ameaçavam a "Apocalipse". Aí os Estados (e a União) intervieram para financiar um sistema bancário apodrecido por causa dos activos tóxicos. Aí houve a transformação das dívidas dos (poucos) privados em dívidas públicas (de todos).
A situação actual é, de facto, igual à aquela dalguns Países do Terceiro Mundo, nomeadamente da Argentina do colapso, com o Fundo Monetário Internacional a gerir as contas internas. E sabemos como isso acabou...
Será que os Gregos vão verdadeiramente aceitar uma coligação que aceite as medidas da União Europeia? Vamos esperar as eleições no final deste mês.
No entanto temos uma previsão importante: a crise na Alemanha durante o próximo Outono. Algo para impressionar a plateia? Nada disso, Soros não precisas destas coisas: esta é uma autêntica previsão, de quem já conhece quais as próximas movimentações no mercado.
E depois, a aberrante solução de apoiar a Finança para ajudar a Economia, sem enfrentar a verdadeira natureza do excessivo endividamento. Os tão discutidos Eurobonds e a atitude da Alemanha. Que, vista uma provável crise nos próximos meses, terá que mudar, com ou sem sorriso nos lábios..
Um problema conhecido bem conhecido.
Porquê uma falência "oficial" da Grécia (a "não-oficial" é já um facto, a "semi-oficial" também) é continuamente negada? Porque os bancos da Alemanha (mas não apenas eles) estão cheios de créditos gregos. Créditos que, em caso de falência, ficariam como papel sem valor.
Mas não há só a Grécia: há também Irlanda, Portugal, Espanha, Italia...com o fim do Euro a perda no sector bancário seria uma voragem, na qual muitas instituições poderiam desaparecer.
A Alemanha líder do Velho Continente? Eu sei, a ideia pode assustar: mas não esquecemos que a simpática Angela Merkel não é a Alemanha, apenas uma parte dela. A Alemanha de que Soros fala é um País com bem outra a atitude.
E Soros não mente. Não foram os instrumentos financeiros que criaram a crise, porque afinal estes são meros instrumentos. Atrás deles há homens, não muitos, mas alguns sim. E o simpático Soros sabe isso melhor de qualquer outro.
Ipse dixit.
Fonte: Agência de Imprensa da Província de Trento
É o típico indivíduo que fala contigo para explicar que roubar é mau enquanto te devolve a carteira vazia. Soros é assim, é naturalmente simpático.
Quando Soros afirma que este sistema é podre, diz a verdade: ele foi uma das pessoas que mais ganhou com a podridão, sabe muito bem do que fala. Por isso é bem ouvi-lo com atenção: ninguém melhor dum ladrão conhece a arte do roubo.
Hospede do Festival da Economia em Trento, Italia, Soros explicou assim a actual situação:
A crise põe em causa os próprios fundamentos da teoria económica, com base na física newtoniana. Entre as ciências naturais e as ciências sociais, há uma diferença. Nas ciências naturais os factos têm valor objectivo. Os eventos sociais são o resultado de sujeitos pensantes, que têm uma vontade própria, não são meros observadores. A minha abordagem é baseada em Karl Popper, o meu mestre, que me ensinou como a interpretação da realidade quase nunca coincide com a própria realidade.
Falibilidade e reflexividade são as características deste tipo de conhecimento, de entendimento, que é falacioso. Estas produzem uma discrepância entre as expectativas dos actores sociais e o que efectivamente acontece. Tentei concentrar-se sobre o papel dos erros, de como estes influenciem o comportamento dos agentes económicos, como no caso das bolhas financeiras. Em suma, devemos abandonar a ideia de um modelos universais capazes de prever o futuro.
E bravo Soros, descobriu que a Economia não é uma ciência exacta. E não é, de facto. Mas eu teria distinguido entre Economia e Finança: ambas não são exactas, mas a Finanças, em particular nas últimas décadas, abandonou o contacto com a realidade para percorrer caminhos até então inexplorados.
Se falarmos de "bolhas", como é este o caso, não podemos esquecer que tudo começou em 2007 nos Estado Unidos, com o subprimes: uma operação construída nos escritórios dos bancos e das grandes agências de investimento. Subprimes, derivativos, Wall Street: muita finança, pouca Economia. Não vamos cair no erro de demonizar a Economia, tal como já aconteceu com a Política: os grandes problemas nasceram no mundo da Finança, a Economia ainda paga estes erros, a Finança nem por isso.
Até 2008, poucos pensavam como eu. Desde o início da crise internacional as coisas mudaram. Também a crise do Euro mostra como é importante o papel das convicções erradas. As autoridades pensaram que tivesse sido gerada por problemas fiscais, e, portanto, usaram o remédio errado. Aplicaram políticas de austeridade, em vez que expansivas. A crise do Euro ameaça destruir a União Europeia.
Mas a própria UE é uma bolha, um objecto irreal. Inicialmente, começou com a iniciativa de um pequeno número de estadistas, que escolheram a política dos pequenos passos, sabendo que uma vez que o processo tinha atingido a maturidade iria revelar-se insuficiente.
O problema veio à tona em breve: tinha sido realizada uma união monetária, mas não uma união política. Logo a Alemanha aumentou a sua competitividade enquanto os outros Países, com o fácil acesso ao crédito, tornaram-se menos competitivos, e a partir de 2008 aumentaram o seu deficit. Tornaram-se como os Países do terceiro mundo na época em que estavam fortemente endividados em moeda muito mais forte do que a deles. Alguns Países tornaram-se credores, outros devedores.
A magia de Soros não é a mentira: é o saber misturar com sabedoria dados reais para chegar à conclusões falsas.
Os Países não aumentaram o deficit por causa do fácil acesso ao crédito, este foi um aspecto secundário: os Países aumentaram o deficit na altura em que os bancos começaram a chorar por causa da dívidas que ameaçavam a "Apocalipse". Aí os Estados (e a União) intervieram para financiar um sistema bancário apodrecido por causa dos activos tóxicos. Aí houve a transformação das dívidas dos (poucos) privados em dívidas públicas (de todos).
A situação actual é, de facto, igual à aquela dalguns Países do Terceiro Mundo, nomeadamente da Argentina do colapso, com o Fundo Monetário Internacional a gerir as contas internas. E sabemos como isso acabou...
Hoje, a Alemanha e outros Países credores estão a mudar o peso do ajuste à crise para os Países devedores. Toda a culpa foi descarregada para eles, os Países da "periferia" (na década de 80 aqueles do Terceiro Mundo, hoje os devedores da União Europeia): na verdade, os Países do "centro" têm construído um sistema defeituoso. A dinâmica criada ameaça a própria existência da União Europeia. Isto é o que eu chamo de "bolha política" da crise.
Hoje todos os Países estão a realinhar as suas políticas financeiras, como se o fracasso da Zona Euro fosse possível. Isso efectivamente reduz a disponibilidade de crédito para as pequenas e as médias empresas, fazendo agravar ainda mais a crise. A economia real está a baixar, excepto na Alemanha, o que aumenta as fracturas no interior da UE. A opinião pública se opõe, por outro lado, cada vez mais à austeridade. As autoridades, especialmente a Alemanha, ainda podem mudar a própria atitude.
Os Gregos provavelmente darão confiança a uma coligação disposta a aceitar as condições impostas pela União. Mas a crise no Outono vai chegar na Alemanha. Seriam precisas políticas extraordinárias para dar fôlego aos mercados financeiros. Deveriam tratar do problema bancário e do problema do excessivo endividamento. Os bancos precisam de um sistema de garantias dos depósitos na Europa. Os Países altamente endividados precisam de respirar. É essencial o apoio do governo alemão e da Bundesbank [banco central da Alemanha, ndt].
Será que os Gregos vão verdadeiramente aceitar uma coligação que aceite as medidas da União Europeia? Vamos esperar as eleições no final deste mês.
No entanto temos uma previsão importante: a crise na Alemanha durante o próximo Outono. Algo para impressionar a plateia? Nada disso, Soros não precisas destas coisas: esta é uma autêntica previsão, de quem já conhece quais as próximas movimentações no mercado.
E depois, a aberrante solução de apoiar a Finança para ajudar a Economia, sem enfrentar a verdadeira natureza do excessivo endividamento. Os tão discutidos Eurobonds e a atitude da Alemanha. Que, vista uma provável crise nos próximos meses, terá que mudar, com ou sem sorriso nos lábios..
No entanto, é provável que o Euro vai sobreviva. Caso contrário, os mesmos Países credores, liderados pela Alemanha, teriam uma montanha de créditos incobráveis. A Alemanha fará o possível para salvar o Euro, mas nada mais. A periferia provavelmente se tornaria uma área permanentemente deprimida, o que tornaria a UE uma coisa muito diferente daquela sonhada originalmente.
Além disso, os Alemães não entendem porque uma receita que funcionou para eles, baseada na autoridade, não está a funcionar agora a uma escala europeia. Devemos fazer todo o possível para convencer a Alemanha a assumir plenamente o papel de liderança que merece, e temos apenas alguns meses para fazê-lo.
Um problema conhecido bem conhecido.
Porquê uma falência "oficial" da Grécia (a "não-oficial" é já um facto, a "semi-oficial" também) é continuamente negada? Porque os bancos da Alemanha (mas não apenas eles) estão cheios de créditos gregos. Créditos que, em caso de falência, ficariam como papel sem valor.
Mas não há só a Grécia: há também Irlanda, Portugal, Espanha, Italia...com o fim do Euro a perda no sector bancário seria uma voragem, na qual muitas instituições poderiam desaparecer.
A Alemanha líder do Velho Continente? Eu sei, a ideia pode assustar: mas não esquecemos que a simpática Angela Merkel não é a Alemanha, apenas uma parte dela. A Alemanha de que Soros fala é um País com bem outra a atitude.
Eu também vi a UE como um sonho bonito, e tento defende-la como posso. As etapas mostram como as políticas adoptadas, os resgates, não vão funcionar. A principal responsabilidade recai sobre a política, não nos hedge funds, não nos mercados financeiros, que, basicamente, fazem aquilo para o qual foram criados. A política descarrega as suas responsabilidades nos mercados financeiros, mas é como atirar para o mensageiro. A crise não foi criada a partir dos instrumentos financeiros.
E Soros não mente. Não foram os instrumentos financeiros que criaram a crise, porque afinal estes são meros instrumentos. Atrás deles há homens, não muitos, mas alguns sim. E o simpático Soros sabe isso melhor de qualquer outro.
Ipse dixit.
Fonte: Agência de Imprensa da Província de Trento
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