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A matemática de Ryan

2 de Setembro de 2012, 21:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Em breve os Estados Unidos voltarão às urnas: é preciso eleger o novo Rei do Mundo.
Candidatos: o simpático Barack Obama ou o republicano, Mitt Romney.
A ideia de fundo portanto parece ser: venha o Diabo e escolha.

Mas hoje vamos dedicar um pouco de tempo ao vice-de Romney, Paul Ryan.

Ryan está a percorrer os Estados Unidos com uma série de gráficos para explicar o ponto de vista dele e aquele do seu chefe acerca de como reduzir a dívida pública (que é imensa).

O gráfico mais estúpido é provavelmente "Quem dono da nossa dívida?", que podem observar à direita (click para aumentar!):

Segundo este gráfico, 46% da dívida americana de 2011 era detida pelo Japão, a China, o Reino Unido, o Brasil, mais outros. A ideia é transmitir ao público a sensação pela qual os Estados Unidos já não têm controle acerca da própria dívida. A ideia é assustar.

Pena que esta ideia esteja errada. A China, o maior credor dos Estados Unidos em termos de dívida, juntou muitos Títulos de Estado americanos pela simples razão que vende muito nos States. O que acontece quando uma pessoa recebe muitos Dólares? Fica com os Dólares debaixo do colchão? Nem por isso: ou vai gastar o dinheiro ou tenta torna-lo rentável. E a maneira natural para torna-lo rentável é troca-lo com Títulos de Estado.

O problema dos Estados Unidos não é o facto da China ter muitos Títulos de Estado: o problema é que a China exporta muito para os Estados Unidos, muito mas mesmo muito mais de quanto os EUA consigam exportar para a China.

É por isso que também o Japão é dono duma assinalável quantia da dívida americana: os japoneses vendem nos EUA. Mesmo discurso no caso do Brasil, que nos últimos anos aumentou consideravelmente as próprias exportações.

Não há nenhuma manobra oculta: o motor principal que traz a dívida dos EUA para as mãos estrangeiras, na verdade é o boom do comércio global, o défice comercial e a necessidade substancial para os estrangeiros de reciclar a maior parte dos Dólares que recebem.

O verdadeiro problema dos Estados Unidos é que a China está a tentar reduzir a aquisição de Títulos de Estado americanos (gráfico à direita: click para aumentar).

Este é um problema, porque a Federal Reserve tem que vender Títulos, ergo deve encontrar alguém que compre: é fundamental para que a Administração consiga ter os fundos necessários ao funcionamento do País.

A dívida pública americana não é desmesurada porque a China comprou boa parte dela: é desmesurada porque a economia já não consegue produzir o suficiente para que as despesas do Estado tenham a adequada cobertura.

O que o simpático Ryan deveria fazer é preparar alguns gráficos que explicassem o que aconteceu à máquina produtiva americana, quais as razões da queda e qual a receita para ressuscitar. Inclusive, não seria mal um bonito gráfico com os nomes de todas as empresas americanas que transferiram as próprias unidades produtivas na China (e seria um gráfico bem grande), enfraquecendo ainda mais as contas de Washington (isso para não falar de outros problemas como o desemprego, por exemplo).

O candidato a vice-presidente mais jovem de sempre, Ryan, é apresentado pelos republicanos como "o homem que vai levar a cabo um plano radical e definitivo para reduzir o deficit". Como se todo o problemas residissem aí.

Mas, tanto para falar disso, será bom realçar que neste plano radical há pelo menos dois pequenos problemas: não tem fundamentos matemáticos e nem escolhas corajosas.

As prioridades são claras: primeiro, os cortes nos impostos para beneficiar os ricos "criadores de bem-estar"; segundo, cortes nos gastos, principalmente naquelas relacionadas com os pobres; terceiro, claro está, a redução do défice.

Mas como conseguir tudo isso? Uma vez que este projecto é republicano, Ryan promete cortes na taxação antecipada (sem explicar onde entende encontrar a cobertura financeira para isso) com taxas máximas sobre o rendimento que caem de 35% para 25%.
E como irá compensar Ryan estes cortes? Obviamente por meio de cortes nos gastos, cortes que "acidentalmente" não são especificados.

Resultados, segundo Ryan: crescimento constante do PIB desde 15% em 2010 para 19% em 2028, mantendo-se nesse mesmo nível após esse ano.

Não há pormenores que consigam esclarecer o funcionamento desta mágica receita, mas não é difícil imaginar onde Ryan entenda cortar (também porque as possibilidades não são muitas): corte nos incentivos fiscais para a classe média e nos seguros de saúde.

E aqui entramos no domínio da saúde e do bem-estar. O sistema Medicare seria deixado inalterado até 2022: em vez de reformar os critérios de elegibilidade com base em testes de rendimento (que possam efectivamente reduzir ou eliminar os benefícios para milhões de pessoas que não têm direito às ajudas), Ryan não tenciona cortar um único cêntimo dos 1,3 triliões que anualmente o Estado gasta para a Segurança Social e Medicare.

Na verdade, a ideia de Ryan é fazer passar os apoios através dos vários Estados da União: subsídios federais de apoio bloqueados em quantias fixas, indexadas aos preços ao consumidor. Isso quer dizer: peso extra sobre os orçamentos dos Estados.

E se os recursos federais não forem suficientes, como podem fazer os vários Estados?
Palavrinha mágica: taxas.

Depois de 2022 Medicare será eliminadas para todos os cidadãos com mais de 65 anos, e substituída por um voucher que poderá ser utilizado na compra do seguro de saúde: 68% do custo pago pelo beneficiário a partir de 2030. De acordo com a matemática do Ryan, isso levaria a uma diminuição nos custos de cuidados de saúde igual a 4,75% do PIB em 2050.

"Como" é tudo para descobrir, considerado que o número dos idosos está continuamente a aumentar.

Uma matemática esquisita aquela do simpático Ryan.
Mas suficiente para convencer milhões de americanos (coitados: a alternativa é Obama...).


Ipse dixit.

Fontes: Business Insider, Business Insider 2, SeekingAlpha, Bimbo Alieno

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/InformaoIncorrecta/~3/o4ENU07aR74/a-matematica-de-ryan.html

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