quais é que Washington é a capital da primeira potência mundial.
O cenário pode mudar no futuro? Sim, pode, mas não tão rapidamente. Se há forças que trabalham para destronar os EUA, há também forças que actuam no sentido oposto. E, por enquanto, estás últimas são as mais fortes.
Então torna-se interessante observar não apenas os dados, mas a tendência também. Aliás, sobretudo esta: porque se os dados são uma "fotografia" da actualidade, é o percurso no médio e longo prazo que implicará os desenvolvimentos maiores.
Por exemplo: sabemos que após a crise financeira de 2009, nos Estados Unidos 95% do crescimento económico ficou concentrado nas mãos de 1 % da população. Um 1% que hoje é dono de mais de um terço da riqueza nacional, enquanto o restante 99 %...observa e fica contente com as migalhas.
Mas o que diz isso acerca do futuro?
A novo livro do economista francês Thomas Piketty focaliza-se nisso: no "depois". Que, podemos antecipar já, é assustadoramente parecido com o "antes".
Capital in the Twenty-First Century ("O Capital no Século 21", este o título do livro) mostra que os EUA estão a caminho de algo muito semelhante ao que foi vivido no final do século XIX. A desigualdade económica está a aproximar-se aos mesmos níveis que prevaleceram mais de um século atrás. Esta tendência tem sido amplamente debatida nos últimos anos, e o próprio Barack Obama admitiu que a desigualdade económica é o tema principal dos nossos tempos. Pois admitir não custa nada: já tomar medidas para inverter o rumo...
Warren Buffett, o terceiro homem mais rico dos Estados Unidos, declarou em 2011:
Nos últimos vinte anos, neste país, tivemos a luta de classes, e minha classe ganhou.
O economista Paul Krugman, Prémio Nobel, comentando o livro de Piketty, ressalta que o trabalho do francês e dos colegas deles mostra como este famoso 1% seja a chave da crescente desigualdade: e como esta tendência esteja presente na maioria das economias avançadas.
O regresso da Belle Époque? Assim parece.
No caso dos EUA, o total do rendimento nacional concentrado naquele '% 1 tem seguido um percurso em forma de "U": antes da Primeira Guerra Mundial, o 1% recebia um quinto dos rendimentos nacionais; em 1950, esse percentagem foi reduzida em mais de metade; mas em 1980, aquele 1% tinha conseguido recuperar as perdas e depois disso o fenómeno acentuou-se ainda mais. .
Não é apenas uma curiosidade matemática: isso tem consequências no mundo real, nas nossas vidas. Porque o "regresso à Belle Époque" já foi atingido e ultrapassado; o caminho é agora diferente, mas sempre na mesma direcção: para trás.
O caminho é aquele que leva a um Capitalismos de tipo "patrimonial", no qual a economia não é controlada por indivíduos que foram capazes de acumular fortunas graças ao seu talento, mas por uma mera questão de dinastias familiares, de herança.
Piketty mostra que os rendimentos de capital (dinheiro a partir do dinheiro: é algo que não produz, só explora os mecanismos da Finança, por exemplo) é actualmente o modelo predominante: o problema, portanto, não está na diferença entre os salários mas na posse dos bens. Hoje, nos Estados Unidos, a percentagem de riqueza herdada (e, portanto, não criada) voltou aos índices de um século atrás: 70%.
Depois, claro está, temos também a diferença salarial (nem poderia ser diversamente): os salários reais da maioria dos trabalhadores americanos têm crescido muito pouco ou nada a partir do início dos anos 70, mas os salários do 1% mais rico, no mesmo período, tiveram um aumento entre 165% e 362 %. Todavia, esta não é a causa, mas apenas uma consequência.
E as escolhas da classe política não conseguem equilibrar as contas, Pelo contrário.
Os executivos das 350 empresas mais ricas do País receberam uma compensação 331 vezes maior do que o do trabalhador médio: o rendimento médio desses executivos foi de 11,7 milhões de Dólares por ano, enquanto o dum trabalhador foi de 35.239 Dólares. E os mais ricos pagam uma taxa de imposto mais baixa do que as suas secretárias ou assistentes.
Realça Krugman: agora sabemos que os Estados Unidos têm uma distribuição desigual dos rendimentos e que muita desta disparidade pode ser atribuída directamente à acção do governo.
Voltemos ao assunto principal: aparentemente, no início do século XXI, a primeira potência mundial parece recuar para o final do século XIX. Os EUA tornaram-se mais uma oligarquia do que uma democracia? Pergunta retórica com resposta óbvia.
De facto, a partir dos anos '80 tivemos o regresso daquela que pode ser definida como a "nova aristocracia". Nada de sangue azul, neste caso, apenas dinheiro. Mas não deixa de ser preocupante o reaparecimento duma estrutura de tipo piramidal que poderia (e deveria) ter sido abandonada há muito. Seja do ponto de vista económico, seja do ponto de vista social, é um flagrante retrocesso que não promete nada de bom.
E é paradoxal que enquanto o simpático e inútil Barack Obama fala sobre a economia do Século XXI, o seu secretário de Estado diz mais uma vez que não é aceitável que outros Países, tais como a Rússia, se comportem como no século XIX. Como é que diz o tal livro? A palha no olho do outro e a trave no nosso?
Ipse dixit.
Fontes: La Jornada
0sem comentários ainda
Por favor digite as duas palavras abaixo