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Bancos simpáticos: HSBC - Parte I

12 de Agosto de 2012, 21:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Verão, tempo de deitar-se num relvado, à noite, para ver as estrelas caírem (longe, possivelmente) e ouvir histórias.

Por exemplo: que tal a história do HSBC? Boa ideia.
Mas é uma história bonita? Com certeza.
Há também o Príncipe Azul? Um? Há muitos deles.
Porque o HSBC é nada mais nada menos do que o segundo maior banco do mundo: é ele que empresta o dinheiro aos Príncipes Azuis. Com juros, claro.

HSBC tem sede em Londres, opera em 85 Países com 7.200 escritórios, 89 milhões de clientes e negócios com um valor estimado de mais de 2,6 triliões de Dólares. Tem uma longa história (a original Hongkong and Shanghai Banking Corporation Limited foi fundada em 1865) e, como qualquer banco que se preze, está também envolvido em negócios quais lavagem de dinheiro, financiamento ao terrorismo, tráfico de droga.
Enfim: um banco à maneira.

Mas vamos conhecê-lo melhor.

Um relatório e o arrependimento 

Um novo relatório da Subcomissão Permanente do Senado dos EUA acerca das Investigações acusa HSBC de expor o sistema financeiro dos Estados Unidos aos riscos que derivam duma ampla gama de ilícitos. O relatório de 335 páginas, U.S. Vulnerabilities to Money Laundering, Drugs, and Terrorist Financing: HSBC Case History ("Vulnerabilidade dos Estados Unidos à lavagem de dinheiro, drogas e financiamento do terrorismo: o caso HSBC") foi publicado no final de uma investigação de um ano acerca da filial americana da HSBC, a HSBC Bank USA, mais conhecida como HBUS.

O que há nesse relatório? Muitas coisas: entre os serviços oferecidos pelas agências e correspondentes bancários do HSBC há negócios ligados ao terrorismo, o transporte aéreo ou em carros blindados de biliões de Dólares em dinheiro por meio do departamento London Banknotes, a compensação de cheques de traficantes de droga mexicanos e de mafiosos russos através das Ilhas Cayman. Da sede de Londres, os managers do banco fornecem aos criminais o que for preciso para organizar as actividades illegais.

Somente em 2008, o Senado revelou que a agência do banco nas Ilhas Cayman geria 50.000 contas bancárias e conseguiu fazer desaparecer 7 biliões de Dólares em dinheiro do México e fazê-los reaparecer nos Estados Unidos.

Afirma o Presidente da Subcomissão Carl Levin:
Uma maneira de trabalhar profundamente poluída por um longo período de tempo. Vai demorar para que o banco possa mudar de rumo.
E que diz o banco? 
O porta-voz do HSBC, Robert Sherman, num comunicado enviado por e-mail, afirma:
Reconhecemos que, no passado, não fomos capazes de satisfazer as necessidades dos órgãos reguladores e dos clientes [o que tecnicamente não é correcto: parte deles com certeza estava bem satisfeita, ndt]. Vamos pedir desculpa, vamos reconhecer tais erros, vamos responder pelas nossas ações e vamos fazer um esforço para corrigir o que deu errado.
Mostrando arrependimento, o garante do cumprimento das normativas do banco, David Bagley, disse à comissão:
Apesar dos melhores esforços e das boas intenções de muitos profissionais dedicados, o HSBC não está a altura das nossas próprias expectativas e das expectativas dos nossos reguladores. Recomendo ao grupo que este é o momento certo para mim e para o banco para que possa ser outra pessoa a desenvolver a função de garante do grupo.

E, tanto para ser coerente, logo a seguir Bagley pediu a demissão. Uma grande performance, que teria sido perfeita só se alguém tivesse falado da compensação milionária que será recebida pelo mesmo Bagley. O qual, que fique claro desde já, nem um dia na prisão passará. Nem ele, nem Lord Stephen Green, ex-Presidente e Chefe Executivo do HSBC, actualmente Ministro de Estado pelo Comércio e Investimento no governo inglês (frase célebre: "O mercado necessita recuperar a noção do que é certo e apropriado como impulso fundamental para fazer negócios", The Independent, 02 de Março de 2009).

Entre 2003 e 2010, Lord Green estava no comando de várias operaçóes que envolviam The Bank of Bermuda Ltd., HSBC Mexico SA, HSBC Private Banking Holdings (Suiça) SA e HSBC North American Holdings Inc., todos os principais actores dos escândalos mencionados no relatório. Um homem com faro, sem dúvida: no ano passado abandonou o barco e juntou-se ao governo conservador de David Cameron.

Mas a plena responsabilidade de Green ficou demonstrada no Senado, que também citou os correios electrónicos enviados pelo mesmo. Que reagiu assim (The Telegraph, 25 de Julho de 2012):
Não acho que tenho de responder de acções particulares, como presidente e director duma empresa sou responsável por aquilo que a sociedade faz. HSBC tem lamentado as falhas, eu compartilho este arrependimento.
Ou seja: está arrependido, chega e sobra. Nada de considerar a demissão do governo de Cameron, nem pensar, pois Green afirma estar muito ocupado no papel que lhe foi atribuído. E se estiver ocupado, bom, não há muito para fazer. Doutro lado, demitir-se porquê? Não tinha sido ele o mesmo Lord Green, bispo ordenado da Igreja da Inglaterra, que publicou o livro "Bons Valores: reflexões sobre o dinheiro, a moralidade e um mundo incerto"?

Todas as atenções, portanto, estão concentradas no sucessor de Lord Green, Stuart Gulliver, que ainda antes de dizer "lamento", já avisou os funcionários para que seja feito "melhor" e definiu como "inaceitável" a atitude da empresa.
"Melhor"? "Inaceitável"? Mas onde trabalhava Gulliver antes de ser eleito presidente do HSBC? Resposta: no HSBC, como director da filial americana (a HBUS), do HSBC Latin American Holdings Ltd. e da HSBC Bank Middle East Ltd, as mesmas filiais repetidamente citadas no relatório do Senado. Trabalhos para os quais Gulliver recebeu, em 2010, 9 milhões em acções além da paga base de 826.000 Libras (1.200.000 Dólares, mais ou menos).

Mas voltamos ao relatório, que fala abertamente de "financiamento ao terrorismo". Uma acusação particularmente pesada, sobretudo num País, os Estados Unidos, que fizeram da luta ao terrorismo um autêntico grito de guerra. Por isso: o que significa "financiamento ao terrorismo"?


Bancos, religião, banditismo

Anos antes dos aviões (?) se despenharem nas Torres Gémeas e no Pentágono, matando quase 3.000 pessoas, os serviços secretos americanos tinham começado a investigar as ligações fraternas entre os bancos de dados usa-deita de Osama Bin Laden, isso é, Al-Qaeda, e importantes instituições financeiras.

No livro de 1999 Dollars for Terror (Dólares para o Terror), o jornalista Richard Labévière regista as palavras de um antigo analista da CIA:
A política de orientar a evolução do islamismo e ajudar os muçulmanos contra os nossos adversários funcionou maravilhosamente no Afeganistão contra o Exército Vermelho. As mesmas técnicas podem ainda ser usadas para desestabilizar o que resta do poder russo e acima de tudo para conter a influência da China na Ásia Central.
O alvorecer de uma nova Guerra Fria? Não. Na verdade era mesmo Guerra Fria, só que desta vez estava elegantemente disfarçada como think-tank e ONGs ocidentais: numa época caracterizada por constantes fluxos de informações é fácil pegar nos velhos hábitos e rotula-los como "intervenção humanitária" ou "defesa da liberdade".

Apesar da fachada, o terrorismo islâmico (ou alegado tal) forneceu uma importante contribuição à causa americana: permitiu intervir no âmbito das soberanias nacionais com o álibi da "luta ao terrorismo", tornando privados (dos bancos) patrimónios públicos. O mesmo Labévière fala em "privatização da violência e privatização da economia que tornaram-se paradigmáticas":
Na verdade, deixando de lado qualquer motivação religiosa, a Jihad está a tornar-se uma actividade com fins lucrativos. Transformou-se numa organização mafiosa que afunda no puro banditismo. Em muitos casos, a ideologia islâmica é usada como um funcionário modelo que trabalha duro para desenvolver o banditismo em todas as suas formas.  
E onde houver lucros quem podemos encontrar? Pois. Os delegados de Bin Laden têm sido muito bem recebidos pelos legais das sociedades de Wall Street ou das Bahamas, pelos administradores em Genebra, Zurique e Lugano, ou nas salas de chá de Londres. Labévière até pergunta se estas novas formas de terrorismo não escondem na verdade uma fase superior do Capitalismo.

Claro que ao falar de Bin Laden falamos da fachada, da acção de marketing: os responsáveis, os arquitectos destas operações, não vivem em grutas no meio do Afeganistão.

Para perceber como pode nascer e desenvolver-se uma organização terrorista temos que seguir outros trilhos: velhos agentes da CIA ou do Pentágono, dinheiro, bancos. E se HSBC pode ter feito vista grossa perante o financiamento ao terrorismo, outros bancos parceiros parecem bem mais envolvidos no surgimento "do nada" desta nova "Finança". Como o banco Al Rajhi Bank de Riyadh, a maior instituição financeira privada da Arábia Saudita.

Com acivos na ordem de 59 biliões de Dólares, o Al Rajhi está entre os mais ricos do reino. Os investigadores descobriram que, após 9/11 foram encontradas evidências de que Al Rajhi e alguns dos seus donos tinham ligações com organizações associadas ao financiamento do terrorismo e também que um dos fundadores do banco tinha sido um benfeitor financeiro de Al-Qaeda.

Enquanto a família Al Rajhi nega qualquer papel neste aspecto, não respondeu abertamente às acusações dos investigadores e dos tribunais competentes, invocando o direito de confidencialidade dos seus clientes.

O repórter Glenn R. Simpson provou que, de acordo com um relatório da CIA em 2003, um ano depois de Setembro de 2001 o Sr. Al Rajhi ordenou que o Conselho de Administração do banco encontrasse instrumentos financeiros que permitissem que as contribuições de caridade feitas pelo banco evitassem o escrutínio dos funcionários do governo saudita. Poucas semanas antes, como revelou o Wall Street Journal, o Sr. Al Rajhi tinha transferido 1,1 biliões de Dólares em contas no estrangeiro, através do mecanismo da compensação e de dois bancos libaneses, preocupado de que as autoridades dos EUA e da Arábia pudessem congelar os seus bens. Este relatório foi chamado de "Al Rajhi Bank: extremismo financeiro".

Apesar da intelligence dos EUA reconhecer que os terroristas usassem as filiais remotas do banco e os serviços de transferência de dinheiro sem o conhecimento directo do mesmo banco, os analistas da CIA tinha chegado à conclusão de que "membros da família Al Rajhi sempre apoiaram os extremistas islâmicos e, provavelmente, sabiam que os terroristas estavam a usar o banco."

É verdade que é preciso aproximar-se dos relatórios da CIA sempre com uma saudável dose de ceticismo, especialmente à luz do hábito da CIA usar os extremistas (como Al-Qaeda) como próprias armas. E o facto das administrações Bush e Obama terem ignorado estas informações explica muito acerca das reais intenções políticas de Washington.

Todavia é certo que Lord Green e outros funcionários do HSBC estivessem cientes das acusações da CIA e com certeza a intelligence britânica MI6 tinha advertido as chefias do banco sobre os riscos envolvidos.

E estas não são suposições: são documentos internos do HSBC, como veremos a seguir.


Ipse dixit.

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/InformaoIncorrecta/~3/yJed7B5QnVQ/bancos-simpaticos-hsbc-parte-i.html

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